A Revista VEJA de fevereiro de 1964 publicou um artigo intitulado “BETO, O GEORGE DE SÃO PAULO”.
Segue a reportagem, publicada pelo Ricardo Tsuyoshi no grupo We Love the Beatles Forever do Facebook.
OS BEATLES DO BRASIL
A mania de imitar os novos heróis do rock não contagiou só os garotos ingleses e americanos. Conheça Beto – ou George – e seus colegas, que formam a versão paulistana dos Beatles.
Beto Iannicelli em fevereiro de 1964
Beto Iannicelli tinha apenas 8 anos quando conheceu os Beatles, no ano passado. Logo de cara, o menino ficou fascinado pela música que descobriu, sem querer, ao percorrer as estações do rádio de seu pai. Passeando pelo dial, um dia Beto sintonizou a BBC de Londres, em ondas curtas, e ouviu algo que nunca acreditara ouvir – e que, provavelmente, irá mudar sua vida. Morador do bairro Paulicéia, próximo a Santana, na zona norte de São Paulo, Beto e seus vizinhos não conseguem mais brincar de outra coisa: são agora os “Beatles do Brasil”. Na rua onde ele mora com a família, bem em frente à sua casa, vivem dois amigos, Claudio e Antonio Carlos. Claudio tem a mesma idade de Beto, e Antonio Carlos tem doze anos – o mesmo que Aily, irmã de Beto. Todas as tardes, as quatro crianças se reúnem na casa de Claudio e Antonio Carlos. E, então, começa a mágica, uma brincadeira possível apenas no mundo dos pequenos. A cena é a seguinte: Antonio Carlos é Ringo Starr. Sua “bateria” é composta das seguintes peças: um pufe, algumas caixas de papelão, uma lata de biscoitos Piraquê e algumas tampas de panela – que fazem as vezes de pratos. Claudio é John Lennon. Aily, Paul McCartney. E Beto, George Harrison. Os três – John, Paul e George – empunham suas “guitarras”, que são, na verdade, cabos de vassouras com barbantes amarrados às pontas, imitando as correias. Ficam prontos, atentos, apenas esperando que a BBC toque a próxima música dos Beatles. Não é preciso dizer que, nesses tempos em que a beatlemania tomou conta da Inglaterra, é uma música atrás da outra. E então começa a performance das crianças. Imitam os Beatles? “Nós somos os Beatles!”, gritam, em uníssono.
Vitrolinha e carrapeta – Beto, como George, é o solista da banda. Quando chega o momento do solo, só ele – e mais ninguém – pode fazer movimentos na “guitarra”. Se algum outro fizer, a apresentação termina imediatamente, seguida do choro escandaloso do “astro”. Como é o caçula do grupo – assim como George nos Beatles originais –, todos aceitam e mantêm-se nas “funções” preestabelecidas. Beto estuda numa escola que fica no fim da rua onde mora. Sua rotina é ir à aula de manhã, voltar na hora do almoço, e preparar-se ansiosamente para as “apresentações” da banda, que acontecem sempre à tarde. É assim todos os dias da semana. Há poucos meses, começou a aprender violão. Era inevitável. A família apóia – principalmente sua mãe, que agora pode contar novamente com as vassouras cumprindo suas funções normais de limpeza da casa. Beto já começa a praticar no instrumento, ouvindo e tentando tirar as duas músicas do único single dos Beatles lançado no Brasil até agora, Please Please Me e From Me To You.
As ondas curtas da BBC atraem também os mais velhos. Os pais e tios de Beto costumam passar um bom tempo na frente do rádio, tentando traduzir alguma coisa do que ouvem. Não é muito fácil, pois não são muito familiarizados com o inglês e, além disso, os locutores britânicos falam rápido demais. Juntamente com as revistas sobre os Beatles que começam a pipocar nas bancas nos últimos meses, é a única forma de saber das notícias sobre a banda. Embora pertençam a uma família de classe média baixa, os pais do pequeno Beto procuram atender como podem todas as reivindicações “beatlemaníacas” do filho. “Reivindicações que se transformam em esperneações sem fim, caso não sejam atendidas”, conta a mãe de Beto. E ela se emociona ao lembrar do primeiro corte de cabelo beatle do filho (“com aquela franjinha na altura das sobrancelhas”), de seu sorriso quando ganhou no Natal passado sua beatle-botinha com salto “carrapeta”, da vitrolinha portátil tocando Beatles sem parar, do álbum de figurinhas, e, principalmente, do amor que Beto começou a nutrir por esses quatro rapazes de Liverpool. Um amor que, promete ele, deverá sobreviver, incondicionalmente.
Fonte desta reportagem: Veja na História
Vejam o que disse Beto Iannicelli sobre esta reportagem da Veja:
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Beto Iannicelli comentou sua atividade em WordPress. |
Beto escreveu: “Essa matéria saiu há alguns anos atrás (não me lembro mais quando foi exatamente). O jornalista de Veja à época, Paulo Cunha, me convidou pra fazer essa entrevista. A Veja estava fazendo uma matéria especial sobre vários assuntos, como se ela, a Veja, existisse na referida época. Houve a Veja fazendo matérias sobre a segunda guerra mundial e várias outras situações e eventos marcantes no mundo, como se a Veja já existisse. E a beatlemania no Brasil foi um deles. Eles me pediram se eu tinha fotos minhas de 64 (eu tenho e aquela da matéria é uma delas) e eles me entrevistaram “em 64″…” |
Hoje Beto é músico e administra cursos ensinando como tocar exatamente as músicas dos Beatles, além de ser praticante do hinduísmo.
Beto Iannicelli pousa com George Harrison ao fundo fazendo o acorde um F#m7. Harrison estava tocando a canção dos Beatles, “Don’t Let Me Down”.