A Revista “ISTO É” mostrou com exclusividade imagens inéditas feitas pelo baterista Ringo Starr, as quais revelam a intimidade dos músicos em estúdios, hotéis e viagens de férias.
O aparecimento das câmeras portáteis nos anos 1960 criou uma legião de viciados em fotografia. Vista hoje, a mania de disparar cliques deu-se numa escala menor, mas se parece bastante com o fenômeno atual. Entre os aficionados por documentar tudo o que se passava à sua volta estava o músico inglês Ringo Starr, que, na quase uma década como integrante dos Beatles, mirou a intimidade dos amigos na maior banda de rock da história. Agora, justamente quando se comemoram os 50 anos da beatlemania, desencadeada a partir da primeira viagem dos Fab Four aos EUA, essas imagens nunca vistas vêm à luz no livro “Photograph”, que sai na Inglaterra pela editora Genesis. Com mais de 250 imagens, o luxuoso volume lançado em edição limitada de 2.500 unidades faz um panorama da carreira do baterista dos Beatles desde a sua infância. Mas o que o torna um objeto de colecionador são os registros inéditos do quarteto de Liverpool em estúdios, hotéis e curtas viagens de férias. “Conseguia tirar essas fotos porque todo mundo sabia que elas nunca iriam parar em alguma revista”, diz Ringo, que colocou à venda 12 imagens com tiragem também limitada de 25 cópias assinadas. A renda vai para a sua Fundação Lótus, de ajuda humanitária.
Os flagrantes são realmente especiais. Num deles, datado de 1966, uma mulher tira espinhos dos pés de John Lennon. A cena aconteceu num descanso no Caribe – Lennon não sabia do perigo dos ouriços. Outro flagrante de Lennon, agora num hotel em Paris, 1964, o enquadra sentado com a perna à altura do ombro. “Ele tinha essa incrível maleabilidade no joelho”, diz Ringo. O grande “poseur”, no entanto, era Paul McCartney, que aparece imitando Elvis e, mais adiante, dá uma de ator francês dos anos 1950, de chapéu e com cigarro dependurado nos lábios. Sobre esse retrato, Ringo comentaria: “Estávamos acostumados com a histeria feminina, mas em Paris o público era de rapazes”. Um pouco mais velho, o vaidoso beatle surge com calça risca de giz, camiseta branca e uma bandana de marinheiro na cabeça – ao seu lado, uma camisa exibe o bordado com os dizeres “All We Need Is Love” (tudo o que precisamos é de amor), música do álbum “Yellow Submarine”. O cenário é uma casa de campo na Índia, para onde os Beatles foram em busca de iniciação espiritual.
Uma série rara mostra a banda gravando no estúdio 3 de Abbey Road. Paul e John dividem o mesmo microfone. O que poderia ser apenas um registro banal revela um dos segredos da banda: “Os dois sempre faziam isso nas harmonias e se George estivesse cantando também ficava no mesmo microfone. Por isso as harmonias eram tão boas. Eles ficavam tão perto que podiam ouvir melhor a voz outro.” No rolo da primeira viagem aos EUA aparece o retrato do sisudo empresário Brian Epstein usando uma peruca que imitava o corte de cabelo beatle. “Nossas músicas eram conhecidas, mas em importância ficavam atrás das botas e jaquetas. E primeiro vinha o cabelo”, ironiza o baterista. Nesse mesmo espírito, o livro lança luz sobre a pré-história do mundo pop. Apesar de já ser um fenômeno na Inglaterra e de ter se tornado uma histeria nos EUA, os Fab Four compartilhavam na época apenas dois quartos de hotel e um mesmo carro. “A gente ficava trancado. O jeito era achar coisas para fazer e se divertir”, conta Ringo. Como tirar fotos, hoje preciosas. Por estar esgotado, o livro pode ser comprado como e-book pelo iTunes. As fotos do “Photograph Portfolio”, com imagens assinadas por Ringo Starr, estão disponíveis no site http://www.RingoPhotoArt.com.
O preço é de 1,9 mil libras (cerca de US$ 3 mil).
Fotos: Ringo Starr/Genesis Publications
MATÉRIA DA REVISTA ISTO É – Cultura
Fotografia
N° Edição: 2308 | 14.Fev.2014 |