Por Rubens Stone
Listas foram feitas para serem contestadas, isso desde que Moisés cunhou as Tábuas da Lei.
Nenhuma lista, seja dos melhores ou dos piores, é completa, mas elas servem de parâmetro para se avaliar melhor o tema pelo qual se gerou tal amostragem.
O movimento Jovem Guarda foi o que melhor traduziu o pop internacional da época e que inseriu a instrumentação básica do rock na música jovem brasileira, expandindo o universo da juventude com canções românticas, mas também repletas de gírias e de toques juvenis. Muitas dessas canções ainda hoje soam modernas e atualíssimas.
As listas representam um guia daquilo que se propõe analisar e conhecer melhor. Por isso, não foi tarefa fácil elaborar esta dos melhores álbuns da Jovem Guarda, pois muitos outros grandes discos acabaram ficando de fora, mas acredito que estes 50 álbuns, uns mais outros menos, representam bem o que foi o movimento Jovem Guarda, cuja expressão ultrapassou os limites de um programa de TV, generalizando o termo “Jovem Guarda” já naquele momento em que ocorriam os fatos.
Foi baseado no movimento como um todo, e não apenas no programa Jovem Guarda, que elaborei esta lista como uma forma de homenagear estes 50 anos de música e curtição.
Alguns álbuns fundamentais que não entraram na lista, como o primeiro da Martinha, o primeiro da Elizabeth, o álbum do grupo The Sunshines e também o LP do grande Rossini Pinto, gravado com os Blue Caps em 1964, estes discos pretendo resenhá-los e apresentá-los como “álbuns-bônus” à lista, em breve.
A Jovem Guarda foi também responsável pela inserção do humor na música pop brasileira e avançou os sinais da sexualidade e da liberdade juvenil.
Viva os 50 anos da Jovem Guarda!
Álbum Nº 50
LP
“Verdadeiro Amor”
Ed Wilson
(CBS – 1966)
O garoto Edson Vieira de Barros começou sua carreira no final dos anos 50, juntamente com os irmãos Renato e Paulo Cesar Barros, no conjunto Renato e Seus Blue Caps. A banda em seu início, gravou dois 78 rotação no minúsculo selo Ciclone, acompanhando respectivamente o grupo vocal Os Adolescentes e o cantor Tony Billy, como eles, artistas lutando por um lugar ao sol.
Na TV, o grupo fez algumas apresentações no “Hoje é dia de rock”, programa de Jair de Taumaturgo, na Rádio Mayrink Veiga, até que chegaram à TV Continental, onde se apresentaram no programa do Carlos Imperial, que achou o conjunto interessante e os convidou para voltar mais vezes. Além disso, conseguiu que participassem de“Twist”, LP que Cleide Alves e Reinaldo Rayol dividiam, sob a produção de Imperial. O ano era 1962. Foi neste mesmo ano, depois de um tempo convivendo com o grupo, que Imperial sugeriu que Edson se lançasse em carreia solo, enquanto os Blue Caps continuariam suas atividades.
O garoto, que na época tinha apenas 16 anos, aceitou a proposta. Mas, segundo Imperial, para seguir carreira solo, o jovem Edson precisava ganhar um nome artístico. E o nome escolhido pelo gordo apresentado e agitador cultural, foi Ed Wilson. Na época, Imperial estava ouvindo bastante o cantor americano Jack Wilson, e ele acabou sendo a fonte inspiradora para o nome artístico do novo pupilo de Imperial.
Em seguida, Imperial conseguiu um contrato para Ed Wilson na Odeon, por onde lançou seu primeiro compacto, em 1963. Em 1964, mudou-se para a RCA e lançou “O Carro do Papai”, um rock-twist composto pelo irmão Renato Barros. A música fez relativo sucesso nas rádios, e em seguida, Ed Wilson emplacou outro sucesso, a balada “Como Te Adoro Menina”, versão de Renato Barros para o sucesso “Quiereme Mucho”, da cantora argentina Violeta Rivas.
Em 1966, foi contratado pela CBS, onde gravou em março daquele ano, seu primeiro LP, “Verdadeiro Amor”, disco que teve o acompanhamento da banda dos irmãos e do tecladista Lafayette. O disco emplacou os sucessos “Sandra” (versão de Leno para “Sorrow”, do grupo inglês The Merseys), “Pode Ir Para O seu Novo Amor” (composição de Leno) e a belíssima faixa-título, uma versão do “negro gato” Getulio Cortes para “It’s Only Make Believe”, sucesso de 1958 do cantor Conway Twitty.
Este foi o único LP de Ed Wilson na CBS, nos anos seguintes, o artista seguiria lançando compactos de sucesso, além da efetiva participação na série As 14 Mais. Mesmo sem ter uma grande discografia no período, Ed Wilson foi um dos principais nomes da Jovem Guarda. Sua importância para a música jovem da época foi devidamente registrada por Erasmo Carlos na música “Festa de Arromba”, nos versos em que o Tremendão dispara: “Lá fora um corre-corre/Dos brotos do lugar/Era o Ed Wilson que acabava de chegar/Hey, hey, que onda/Que festa de arromba”. (rstone)
Álbum Nº 49
LP
“Leno”
Leno
(CBS – 1968)
Os dois primeiros álbuns solos do cantor Leno merecem constar de qualquer galeria dos grandes discos do movimento jovem guarda, porém, como tínhamos que escolher apenas um deles para essa pesquisa, dei preferência ao primeiro, por um simples motivo: “Leno” foi lançado em estéreo genuíno, enquanto o segundo, “A Festa dos Seus 15 Anos” é totalmente em mono, o que, na minha opinião, prejudicou em muito a sonoridade do álbum.
Canções como “Quando você me deixou”, “Na saída da escola”, “Chorando no parque” e a própria “A festa dos seus 15 anos” jamais deveriam ter sido lançadas somente em mono.
Após o encerramento da dupla Leno e Lilian – uma das mais importantes da Jovem Guarda – , o cantor e compositor Leno seguiu em carreira solo, e no início de 1968, lançou o compacto-simples CBS-33543 que trazia no lado A, a balada “A Pobreza”, composição de Renato Barros, dos Blue Caps, e no lado B, o rock “Me Deixa em Paz”.
“A Pobreza” tornou-se um grande hit nas rádios, e em outubro daquele ano, chegou às lojas “Leno”, seu primeiro LP solo, um disco repleto de baladas e rocks flamejantes. Ainda embalado pela sonoridade da jovem guarda, Leno concebeu um dos mais belos álbuns dos anos 60, cujo repertório, apontava inclusive, para os novos caminhos que sua música iria seguir dali para a frente, ao gravar temas diversos como a versão de “Fever”, sucesso de Elvis no início dos anos 60, assim como a gravação de “Um minuto a mais”, versão assinada pelo amigo Raul Seixas, com o qual iria desenvolver uma excelente e obscura parceria nos anos seguintes.
“Leno” Abre com “Papel picado”, composição de Renato Barros e um dos sucessos do disco, segue com “Eu tenho febre” (“fever”) e “sozinho sou feliz”, versão de Leno para “Wait for me baby”, de G. Stevens. O grande hit “A pobreza” é a quarta faixa, e logo em seguida vem a balada “Um minuto a mais”, uma das primeiras versões assinadas por Raul Seixas, que buscou esta incrível canção, “I Will”, no repertório do roqueiro inglês Billy Fury.
Outras canções de destaque neste primeiro álbum de Leno: “Garotinha”, de Getulio Cortes; “Tudo que pedi a Deus”, do próprio, e a estupenda regravação de “Eu não existo sem você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
“Leno” traz no acompanhamento os grupos Renato e Seus Blue Caps e Golden Boys, além do tecladista Lafayette e o cantor Pedro Paulo, e conta também com a participação de alguns membros do grupo Os Panteras (de Raulzito Seixas). (rstone)
Álbum Nº 48
LP
“Antonio Marcos”
Antonio Marcos
(RCA-Victor – 1969)
Antonio Marcos Pensamento da Silva nasceu em São Paulo, em 8/11/1945. Antes de se tornar artista, trabalhou como office-boy, vendedor de lojas de calçados e passou por diversos programas de calouros. No início dos anos 60, atuou como rádio-ator, destacando-se também como cantor, violinista e humorista. Em 1966, fundou, ao lado do irmão, Mário Marcos, o conjunto Os Iguais, banda cuja sonoridade típica da jovem guarda, lançou alguns compactos e o LP “Juventude”, em fevereiro de 1967, pela RCA.
Em meados de 1967, Antonio Marcos deixou Os Iguais para se tornar artista solo da RCA. Seu primeiro compacto, lançado em julho de 67, trazia as canções “Perdi você” e “A história de alguém que amou uma flor”, ambas de sua autoria em parceria com o irmão, Mário Marcos. Mas foi somente em março de 1968, quando lançou o compacto “Tenho um amor melhor que o seu”, uma composição de Roberto Carlos (o lado B trazia a balada “Pra que fingir”), que Antonio Marcos tornou-se conhecido em todo o Brasil, devido ao enorme sucesso da canção, que tocou em todas as rádios do país.
Em 1969, já um dos maiores ídolos da música brasileira, lançou seu primeiro álbum, “Antonio Marcos”. O disco vendeu cerca de 300 mil cópias somente naquele ano, consagrando definitivamente o artista, que passou também a atuar no cinema, nos filmes “Pais Quadrados, Filhos Avançados (1969) e “Som, Amor e Curtição” (1970).
Neste primeiro LP, Antonio Marcos mostra sua forte influência do rock, da Jovem Guarda e da música romântica, com canções que se tornaram clássicos do pop pós-jovem guardista, como “Você pediu e eu já vou daqui”, “Sou eu”, “Quando lembro você”, “Não fico mais sem o teu carinho” e “Por Que?”, todas estas canções foram sucesso radiofônico, consagrando definitivamente o artista, que a partir de então, desenvolveria uma das mais brilhantes carreiras da música brasileira.
Falecido em 5 de abril de 1992, aos 47 anos, Antonio Marcos é hoje um mito da música romântica do Brasil, seus discos são cultuados e sua obra tem sido aos poucos resgatada por fãs, artistas e pesquisadores. (rstone)
Álbum Nº 47
LP
“Edição Extra Vol. 1”
The Jordans
(Copacabana – 1967)
Na virada para os anos 60, surgiu nos Estados Unidos e na Inglaterra uma nova vertente do rock, a dos grupos instrumentais, dos quais, os maiores representantes foram The Ventures (EUA) e The Shadows (Inglaterra), estilo que depois ficou conhecido como surf rock, a partir do surgimento de novos expoentes, como Dick Dale & His Del-Tones, The Tornados e Duane Eddy.
No Brasil, um dos conjuntos mais expressivos da cena instrumental foi o The Jordans, que apareceu na TV pela primeira vez em 1958, no programa de Tony e Celly Campello (“Crush em Hi-Fi”, da TV Record). Estrearam em LP em 1962, com “A Vida Sorri Assim!…”, disco considerado um dos principais marcos do rock instrumental brasileiro, este álbum ajudou a introduzir o gênero das “guitarras que cantam” no país.
O segundo álbum, “Suspense”, de 1963, trazia versões convincentes de clássicos como “Peter Gunn”, “Apache” e “Walk Don’t Run”, além da regravação extasiante do sucesso “Blue Star”, do grupo inglês The Shadows. Com esta canção, os Jordans, liderados pelos guitarristas Aladdin e Sinval, conseguiram permanecer por diversas semanas nas paradas de todo o Brasil.
Depois, viria a Jovem Guarda e o grupo se tornou um dos mais requisitados no programa de Roberto Carlos. Inseridos no novo movimento, continuaram gravando excelentes discos instrumentais, como o álbum “Studio 17” (Copacabana, 1966), no qual lançaram uma versão do “Tema de Lara” com enorme sucesso, e este “Edição Extra Nº 1”, de 1967 (primeiro de uma série de cinco álbuns), cujo repertório era pura jovem guarda, com versões instrumentais de canções como “Last Train to Clarksville”, dos Monkees; “Namoradinha de Um Amigo Meu” (Roberto Carlos); “Born Free” (Matt Monro); “Vem Quente Que Estou fervendo” (Sucesso do momento com Erasmo Carlos); e mais um tema inspirado na música russa: “Midnight in Moscow”. (rstone)
Álbum Nº 46
LP
“A Onda É Boogaloo”
Eduardo Araújo
(Odeon – 1968)
Em 1968, a Jovem Guarda já era, e Eduardo Araújo, um dos ídolos do movimento, percebendo que a música jovem soprava para novos rumos, se despiu das vestes de cantor de iê-iê-iê para trilhar o caminho da black music, para isso, juntou-se a um cara que entendia do assunto: Tim Maia.
E como a coisa ainda estava muito imberbe, nem se usava ainda o termo soul music, Eduardo achou de intitular seu novo disco de “A Onda É Boogaloo”, talvez referindo-se a uma espécie de dança africana, algo do tipo, mas a verdade é que o disco veio repleto de versões de músicas da Motown e da Staxx, selos norte-americanos que estavam exportando para o mundo inteiro o melhor da música negra americana, e tome-lhe versões de James Brown “Cold Sweat”), Wilson Pickett (“Got To Have a Hundred”), Ray Charles (“Come Back Baby”) e Aretha Franklin (“Since You’ve Been Gone”), todas vertidas pelo síndico Tim Maia. É desse disco a primeira gravação da balada entorta coração “Você”, que se transformaria em sucesso estrondoso alguns anos depois, quando o próprio Tim Maia a lançou no seu segundo LP.
“A Onda É Boogaloo” foi mal recebido, tanto pelos fãs de Eduardo Araújo quanto pela crítica, na época do seu lançamento. A exemplo do álbum psicodélico de Ronnie Von, lançado no mesmo ano, este disco também estava à frente do seu tempo, hoje é um clássico do soul brasileiro, um dos primeiros a apontar um novo horizonte para o cenário da música pop brasileira, prenunciando o trabalho de artistas como o próprio Tim Maia, Cassiano e Hyldon, entre outros. (rstone)
Álbum Nº 45
LP
“George Freedman”
George Freedman
(RCA-Victor – 1967)
Nascido na Alemanha, George Freedman veio para o Brasil ainda muito criança. Fã de Elvis e do rock’n’roll dos anos 50, Freedman iniciou sua carreira por volta de 1959, quando lançou pela gravadora California seu primeiro disco, interpretando, de sua autoria, o rock balada “Leninha”, e de Steve Rowlands, em versão de Fred Jorge, o rock-calipso “Hey, little baby”. Nessa época, Freedman se apresentava com frequência na TV Tupi de São Paulo.
Em 1960, obteve seu primeiro sucesso com “Olhos cor do céu”, versão de “Pretty blue eyes”, belíssima balada que fizera sucesso com o cantor Steve Lawrence. Em 1961, gravou pela Continental, os rocks “Advinhão” e “Inveja”, ambos da autoria de Baby Santiago. Em 1962, lançou um excelente compacto duplo com “O jato”, “Canção do casamento”, “Good luck charm” e “Um beijinho só”. Nesse mesmo ano chegaria às lojas seu primeiro LP, “Multiplication”, cuja faixa-título, um original do cantor Bobby Darin, fez grande sucesso nas rádios do Rio e São Paulo.
Depois de um tempo afastado da música, George Freedman retornou em 1966 com tudo, quando gravou a música “Coisinha estúpida”, versão do cantor Leno para o hit “Something Stupid”, que na época fazia sucesso mundial com Frank Sinatra e sua filha Nancy. O sucesso de “Coisinha estúpida” inseriu George Freedman no movimento Jovem Guarda, e em 1967, o artista gravou um belíssimo álbum, intitulado “George Freedman”, que incluía, além de “Coisinha Estúpida”, outras canções ao estilo jovem da época, como “Uma Dúzia de Rosas”, de Carlos Imperial, também gravada por Ronnie Von no seu terceiro LP; “Meu Tipo de Garota”, “Vá Embora” e “O Autógrafo”.
Um dos grandes destaques deste disco é a regravação que Freedman fez do clássico “Beijinho doce”, a faixa de abertura do álbum. Com sua voz poderosa, Freedman resgatou com sentimento e graça este “standard” do cancioneiro brasileiro, esta é uma das melhores regravações dentre as dezenas que já foram feitas de “Beijinho doce”. (rstone)
Álbum Nº 44
LP
“Rosemary”
Rosemary
(RCA – 1967)
Musa da jovem guarda, fada loira do iê-iê-iê. Muitos são os títulos que deram à cantora Rosemary, apesar de há muitos anos ela se recusar a falar do movimento que a propagou para todo o Brasil. Desde o final dos anos 70, nas poucas entrevistas que deu, evitou falar sobre sua participação na jovem guarda. Em uma destas, nos anos 80, a cantora afirmou que, se falasse toda a verdade sobre a Jovem Guarda, iria magoar muita gente. Que segredos guarda a “fada loira do iê-iê-iê”?
Rosemary Pereira Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de dezembro de 1947. Começou a cantar aos 14 anos, e em 1963 gravou seu primeiro compacto pela RCA-Victor. Neste mesmo ano lançou o primeiro LP, “Igual A Ti Não Há Ninguém”. Em 1967, lançou o álbum “Rosemary”, no qual, emplacou vários sucessos, com destaque para os iê-iê-iês “Feitiço de Broto” e “Não Te Quero Mais”. Muitos consideram este o melhor álbum de toda sua carreira.
Após o fim da Jovem Guarda, Rosemary enveredou por outros estilos musicais, gravando sambas e canções românticas. Seu próximo LP só seria lançado em 1974, quando a cantora voltou às paradas com músicas como “Quero Ser Amada” e “Eu Sei de Tudo”. (rstone)
Álbum Nº 43
LP
“Os Incríveis Neste Mundo Louco”
Os Incríveis
(Continental – 1967)
O álbum “Os Incríveis Neste Mundo Louco” foi o último trabalho da banda para a Continental, e não é um disco muito conhecido do público, mas certamente está entre os melhores que a banda já lançou, tanto que é considerado hoje um marco do rock nacional. Lançado em 1967, traz a banda de Risonho e Mingo (guitarras), Manito (sax), Nenê (baixo) e Netinho (bateria) com uma pegada punk-psicodélica que eles jamais conseguiram repetir nos discos seguintes.
O LP abre com uma cover instrumental do sucesso “The Girl Like You”, original dos ingleses The Troggs. Segue com “Renascerá”, uma versão esfuziante de Mingo para o hit do grupo espanhol Los Brincos. Há ainda outra versão do Los brincos, a canção “Giulieta”. Mas o grande hit do disco é “’Piange Con Me”, cuja gravação ficou melhor que a original do grupo italiano The Rokes, com Risonho estraçalhando um fuzz-guitar, o que se repete em ‘Hi-Lili-Lo’ e ‘Hold So Tight’.
Outros destaques do disco são as duas canções de Carlos Imperial , “Mamãe Passou Açúcar em Mim” (que na época fazia sucesso com Wilson Simonal, e que aqui, Mingo verteu para “My Mummy Put Sugar On Me”) e “Feliz Foi Adão” (parceria de Impera com Eduardo Araújo). (rstone)
Álbum Nº 42
LP
“O Ritmo da Chuva”
Demétrius
(Continental – 1964)
O paulista Demetrio Zahra Neto, nascido em 28 de março de 1941, começou sua carreira cantando rock ao estilo de Elvis, e o moço até que era bem parecido com o Rei, tanto nos traços faciais como no enorme topete. Adotou o nome artístico de Demétrius, e no seu primeiro disco gravado no selo Young, teve o acompanhamento do conjunto The Devils.
Demétrius foi um dos primeiros grandes ídolos da juventude, bem antes de Roberto Carlos e da Jovem Guarda. Seu primeiro LP, intitulado “Demetrius Canta Com Amor e Mocidade”, foi lançado em 1961, pela Continental e obteve enorme sucesso. No ano seguinte foi a vez do álbum “Ídolo da Juventude”, que seguiu o mesmo ritmo do primeiro, sucesso em todas as rádios do Rio e de São Paulo. Mas foi com seu quarto LP, “O Ritmo da Chuva”, de 1964, que o artista explodiu em todo o Brasil, puxado pela faixa-título, versão do sucesso do grupo The Cascades, “Rhythm of The Rain”, de 63. A canção se tornou um hit nacional.
Com este álbum, Demétrius chegou a competir, em termos de sucesso e popularidade, com o prório Roberto Carlos, que acabara de lançar “É Proibido Fumar” e já era o maior ídolo jovem do momento.
Em 1965, com o surgimento de novos astros da música jovem, Demétrius, assim como muitos outros artistas da primeira fase do rock brasileiro, foi ofuscado pela nova onda de cabeludos e suas guitarras bárbaras. Mas seu retorno se daria três anos depois, quando lançou o álbum “O Ídolo Que Volta” (Continental, 1967), puxado pelo sucesso “Não presto, mas te amo”, composição de Roberto Carlos. (rstone)
Álbum Nº 46
LP
“Marcos Roberto”
Marcos Roberto
(Continental – 1966)
Marcos Roberto começou sua carreira artística muito jovem, ainda no final dos anos 50, gravando no selo Young, de Miguel Vaccaro Neto. Com o advento da Jovem Guarda, o cantor paulistano, nascido em 1941, começou a participar de vários programas da época, além de lançar alguns compactos de relativo sucesso.
No final de 1966, lançou seu primeiro LP pela Continental, com o qual emplacou músicas como “Agora É tarde”, “Indiferença” e “Fim de Sonho”, mas o grande sucesso do disco foi o iê-iê-iê “Vá Embora Daqui”, composição dele em parceria com o grande amigo Dori Edson, aliás, ambos formaram uma das duplas de compositores mais importantes da época, autores de clássicos como, por exemplo, “O Tremendão”, gravada por Erasmo Carlos.
O sucesso do primeiro disco levou o cantor ao topo da fama, passando a se apresentar em vários programas da TV (Marcos Roberto era figura frequente no programa do Ronnie Von) e a fazer shows por todo o Brasil. Com o fim da Jovem Guarda, o artista mudou para um estilo mais popular, no qual fez até mais sucesso que antes. Entre a década de 70 e início dos 80, Marcos Roberto emplacou sucessos como “Amor, amor, amor” (1973) e “A Última Carta” (1980), músicas que se eternizaram no inconsciente coletivo do povo brasileiro.
Marcos Roberto morreu em São Paulo, no dia 21 de julho de 2012. Aos 71 anos, morreu pobre e praticamente esquecido pela mídia, porém, jamais pelos seus fãs verdadeiros, que até hoje colecionam os seus discos e ouvem suas canções com fervor, sejam da fase jovem guarda, sejam da fase mais popular. (rstone)
Álbum Nº 40
LP
“Os Brasas”
Os Brasas
(Musicolor/Continental – 1968)
Formado por Luiz Vagner (vocal e guitarra), Anyres Rodrigues (guitarra), Franco Scornavacca (baixo) e Eddy (bateria), Os Brasas, de Porto Alegre (RS), Foi uma das melhores bandas dos anos sessenta, embora nunca tenham alcançado grande popularidade em termos nacionais, talvez por ser uma banda de fora do eixo Rio-São Paulo.
Lançaram apenas um LP, intitulado “Os Brasas”, pela Musicolor/Continental, que chegou às lojas em junho de 1968, e apesar de ser um dos mais bem acabados lançamentos daquela década, inclusive com uma das capas mais modernas de sua época, além de um repertório de grande qualidade, pois a banda contava com ótimos instrumentistas, o disco foi um fracasso de vendas e de execução nas rádios.
“Os Brasas” abre com a balada “A Distância” uma ótima versão para ‘Oriental Sadness’, original dos Hollies. Segue com outras pérolas, como “Benzinho Não Aperte”, “Beija-me Agora” (também gravada por Márcio Greyck, no seu segundo LP solo), “Pancho Lopez” e a garageira “Não Vá Me Deixar”, uma das mais incríveis “guitar songs” dos anos 60.
Integram o restante do repertório do álbum, as geniais “Um Dia Falaremos de Amor”, “Quando o Amor Bater na Porta” (versão de um sucesso recente dos Monkees), “Meu Eterno Amor”, “Que Te Faz Sonhar Linda Garota”, “Ao Partir Encontrarei Meu Amor”, “Theme Without a Name” e “Sou Triste Por Te Amar”.
Todas estas canções evidenciavam a qualidade extraordinária do grupo gaúcho que, infelizmente não conseguiu desenvolver uma carreira mais sólida, encerrando suas atividades logo após o lançamento desta obra-prima do rock brasileiro. (rstone)
Álbum Nº 39
LP
“Raulzito e Os Panteras”
Raulzito e Os Panteras
(Odeon – 1967)
Para o garoto baiano Raul dos Santos Seixas, o surgimento do rock’n’roll foi como uma verdadeira explosão dos sentidos, na sua adolescência. Elvis Presley se tornou a primeira fixação do jovem soteropolitano, que cultuou o ídolo de todas as maneiras, criando inclusive, o primeiro fã-clube de Elvis no Brasil. Seus cadernos de escola eram revestidos por fotos e reportagens sobre o rei do rock. Aos 16 anos, Raul formou o seu primeiro grupo: os Relâmpagos do Rock, com os irmãos Délcio e Thildo Gama. Um ano depois, modificou a formação da banda e a intitulou de Os Panteras.
O primeiro e único álbum de Raulzito e os Panteras, lançado em novembro de 1967, pela gravadora Odeon, trazia uma capa ao estilo do álbum “With The Beatles” (1963), e um repertório jovem guardista tardio e desencontrado, principalmente nas letras, acima da média dos grupos do movimento. Mesclava uma sonoridade de garagem com as harmonias doces, ao estilo da época. Talvez por isso, soasse denso e até sombrio em alguns momentos, apesar da natureza romântica do repertório, quase todo autoral, com exceção de “Um minuto a mais” versão de “I Will”, do compositor Dick Glasser, gravada alguns anos antes com sucesso pelo cantor inglês Billy Fury, e “Você ainda pode sonhar”, versão de Raulzito para “Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles, em que o grupo manteve todo o clima lisérgico da original.
As ricas melodias de faixas como ““Por Quê? Pra Quê?”, “Brincadeira”, “Vera, Verinha”, “Triste Mundo” e “Menina de Amaralina” mostravam que essas canções poderiam ter se tornado grande hits do rádio, se o álbum tivesse sido lançado uns dois anos antes. É preciso frisar a importância dos outros Panteras para a sonoridade deste disco genial: o clima jovem guardista, o som garageiro e até o aspecto barroco do álbum, deve-se ao feeling instrumental de Mariano no baixo, Carlos Eládio na guitarra e Carleba na bateria.
E Raulzito ainda não era Raul Seixas, sequer pensava na Sociedade Alternativa. Os Panteras eram apenas garotos desesperadamente românticos, num disco que, aparentemente, falava apenas de amor e perda, apesar de já trazer embutida, uma pequena fagulha da mensagem filosófico-anárquica que Raul viria a desenvolver alguns anos mais tarde, nos discos da carreira solo (vide, por exemplo, as letras de “Você ainda pode sonhar”, “Trem 103”.) (rstone)
Álbum Nº 38
LP
“Silvinha”
Silvinha Araújo
(Odeon – 1968)
O primeiro LP da cantora Silvinha, lançado em agosto de 1968, mostrou que a mineirinha da cidade de Mariana era a nova musa do rock. Silvinha (ou Sylvinha, como depois ficou grafado seu nome artístico) começou sua carreira em 1960, cantando em festinhas, depois na TV, em Belo Horizonte. Anos depois, foi “descoberta” por Carlos Imperial e lançada pelo Chacrinha, em seu programa de TV.
Em 1966, foi contratada pela TV Excelsior, onde passou a se apresentar no programa “O Bom”, de Eduardo Araújo (seu futuro marido), e pela gravadora Odeon, por onde lançou, em 1967, com acompanhamento dos Fevers, seu primeiro compacto, “Vou Botar Pra Quebrar”, composição de Carlos Imperial. A música emplacou nas rádios, e no final daquele Ano, Silvinha gravaria um compacto-duplo, cuja balada “Minha Primeira Desilusão”, faria grande sucesso.
Em 1968, foi a vez do primeiro LP, “Silvinha”, que tinha produção de Tony Campello, arranjos de orquestra do maestro Peruzzi e acompanhamento da banda da casa, The Fevers. O disco rendeu vários sucessos, como “Playboy”, “Não Posso Ser Feliz”, “Professor Particular” e “Minha Primeira Desilusão”, que já estava estourada nas paradas desde o lançamento da música em compacto, no final de 67. (rstone)
Álbum Nº 37
LP
“O Quente”
Reginaldo Rossi
(Chantecler – 1968)
Antes de de falar sobre este disco, gostaria de fazer um comentário inicial e que acho necessário, não para convencer os puristas da Jovem Guarda, é apenas para reflexão, tomando, por exemplo, os três álbuns gravados por Reginaldo Rossi na Chantecler, entre 1966 e 1968. São discos que falam de brotos e de festas, de namoricos no portão, todas as canções embaladas por guitarras, órgão, baixo e bateria e uma sonoridade típica do som jovem da época. Ao falarmos sobre discos como esses do Reginaldo Rossi, como poderemos inseri-los no contexto musical daquele momento? Se não são discos de jovem guarda, são de iê-iê-iê, o que dá na mesma, reflitam. É isso, agora, vamos à resenha:
O pernambucano Reginaldo Rossi começou sua carreira no início dos anos 60, como “crooner” do conjunto The Silver Jets, o primeiro grupo de rock do Recife. Os Silver Jets tocavam em festas e clubes da cidade. Numa dessas apresentações, Reginaldo foi “descoberto” pelo empresário Jocemar Ribeiro, que o levou à presença de Ademir Batista da Silva, representante da gravadora Chantecler, que o contratou de imediato. Em abril de 1966, lançou seu primeiro LP, “Reginaldo Rossi”, que trazia, entre outras, as canções “ “Os Anjos Cantam Assim”, e “O Pão”, esta última se tornaria um grande sucesso na época, tanto com Reginaldo Rossi como na regravação de Sérgio Murilo.
No ano seguinte foi a vez do LP “Festa dos Pães”, o segundo da carreira, e mais uma vez o artista colocou duas canções nas paradas: “Festa dos Pães” ( inspirada na “Festa de Arromba”, de Erasmo Carlos) e “Mexerico dos Quadrados” (“baseada” em “Mexerico da Candinha”, de Roberto Carlos).
Em 1968, Reginaldo lançaria seu terceiro LP pela Chantecler, intitulado “O Quente”, que contou com acompanhamento do grupo The Jet Black’s. No repertório, Reginaldo mesclou baladas românticas, como a belíssima “Pára de Chorar”, com iê-iê-iês retardatários, afinal a Jovem Guarda já estava chegando ao fim.
Após “O Quente”, Reginaldo se recolheria por dois anos, voltando somente em 1970, quando assinou com a CBS. Pela nova casa, Reginaldo mergulharia numa fase ultra romântica (que muitos chamam de “brega”), e entre 1970 e 1974, lançaria uma série de cinco álbuns de grande sucesso. (rstone)
Álbum Nº 36
LP
“A Festa do Bolinha”
Trio Esperança
(Odeon – 1966)
Formado no final de 1958, no Rio de Janeiro, pelos irmãos Correia ( Mario, Regina e Evinha), primos dos componentes do grupo Golden Boys (os irmãos Roberto, Renato e Ronaldo Correia), o Trio Esperança foi um dos mais importantes grupos vocais da Jovem Guarda.
O primeiro grande sucesso do trio aconteceu em 1963, quando gravaram “Filme Triste”, versão de Romeu Nunes para “Sad Movies”, sucesso da cantora Sue Thompson. Com essa canção conquistaram as paradas de todo o Brasil, e quando surgiu o programa “Jovem Guarda”, em agosto de 1965, o Trio Esperança foi uma das principais atrações do programa, apareciam com frequência.
Em fevereiro de 1966, após dois LPs de sucesso, lançam “A Festa do Bolinha”, o terceiro e mais bem sucedido álbum da carreira do trio. Com o acompanhamento refinado dos Fevers, o Trio Esperança concebeu um dos discos-síntese do movimento jovem guarda. Várias canções alcançaram as paradas de sucesso, a começar pela faixa-título. Outros sucessos do disco: “Eu Bem Dizia”, “Gasparzinho” e “Não me Abandone”. (rstone)
Álbum Nº 35
LP
“É Onda”
The Brazilian Bitles
(Polydor – 1967)
O grupo carioca The Brazilian Bitles surgiu por volta de 64/65, a partir do guitarrista/baixista Vitor Trucco e do cantor e guitarrista Jorge Eduardo, que formavam o núcleo da banda The Dangers.
Em sua formação original a banda contava com os músicos Vitor Trucco (guitarra solo e posteriormente baixo); Luiz Toth (bateria); Fábio Block (baixo e posteriormente guitarra); Jorge Eduardo de Almeida (voz e guitarra base) e Elizeu da Silva Barra, o Ely Barra (voz e teclados).
A banda estreou na boate “La Candelabre”, em Copacabana, com boa repercussão na mídia. O repertório do grupo misturava músicas dos Beatles, Rolling Stones, Chuck Berry, Little Richard e de grupos ainda desconhecidos do grande público brasileiro, como The Who, The Troggs, etc., além de músicas do cancioneiro romântico brasileiro.
Em 1966, o Brazilian Bitles foi contratado pela Polydor. O primeiro compacto pela nova gravadora trazia as músicas “Louco de amor”, “Rainha dos meus sonhos”, “Vem meu amor” e “Tudo começou com um olhar”, todas de autoria de Fábio Block.
Após alguns compactos e a participação na coletânea “Os Novos Reis do Iê-Iê -Iê”, lançaram seu primeiro álbum no início de 1967, “É Onda”, título que expressava bem o estilo de vida alucinante da época.
Nesse primeiro disco, os Brazilian Bitles traziam canções autorais e versões de músicas dos Beatles (“Qual A Razão (Day Tripper)” e “O Homem Só (Nowhere Man)”, ambas vertidas por Lilian Knapp), e dos Rolling Stones (“Não Tem Jeito (I Can’t Get no Satisfaction)”, versão de Rossini Pinto), além do sucesso “Cheveux Longs Et Idées Courtes”, gravado pelo ídolo francês Johnny Hallyday, que na versão de Fred Jorge ficou “Cabelos Longos, Ideias Curtas”.
“É Onda” é um dos grandes álbuns do rock de garagem brasileiro, e abriu caminho para uma carreira que durou até 1969, incluindo diversos compactos, mais dois LPs, e alguns sucessos radiofônicos. Até hoje, The Brazilian Bitles é lembrado (e cultuado) pela sua sonoridade peculiar, que misturava o som da Jovem Guarda com climas modernos, garageiros e psicodélicos. (rstone)
Álbum Nº 34
LP
“Rainha da Juventude”
Meire Pavão
(Chantecler – 1965)
Com um estilo de cantar muito parecido com o de Celly Campello, Meire Pavão esteve por alguns anos, no topo da música jovem brasileira, ali, lado a lado com Wanderléa, em termos de popularidade.
Nascida na cidade de Taubaté, interior paulista, em 2 de junho de 1948, irmã de Albert Pavão, iniciou sua carreira ainda bem jovem cantando no conjunto feminino Alvorada, grupo organizado pelo seu pai, o professor de música Theotônio Pavão, o Conjunto Alvorada gravou seis compactos no período entre 1961 e 1963.
Em 1964, Meire lançou-se em carreira solo pela Chantecler, chegando rapidamente ao sucesso com a música “O que eu faço do latim?”, versão feita pelo seu pai de uma música italiana.
Em 1965, Meire grava a balada “Bem Bom”, versão do sucesso “Downtown”, da cantora inglesa Petula Clark, que também entra nas paradas, e seu LP, “Rainha da Juventude, emplaca vários sucessos nas paradas, como a citada “Bem Bom”, além de ”Tão Perto, Tão Longe”, entre outras belas canções.
Meire seguiu em carreira solo durante todo o período da Jovem Guarda, até que em 1969, largou a carreira artística para dedicar-se a outras atividades. Retornaria nos anos 70, quando gravou vários discos infantis, tendo o irmão Alberto e o papai Pavão como produtores.
Meire Pavão morreu no dia 31 de dezembro de 2008, aos 60 anos de idade, de uma insuficiência respiratória. Como artista, nunca ganhou a devida valorização, talvez pelo fato de ter alcançado seus maiores sucessos numa época de transição entre, a música de Celly Campello e a Jovem Guarda de Roberto, Erasmo e Wanderléa. Seus fãs jamais a esquecerão, além disso, Meire ficou eternizada na canção “Festa de Arromba”, de Erasmo Carlos. (rstone)
Álbum Nº 33
LP
“Coração de Papel”
Sérgio Reis
(Odeon – 1967)
Sérgio Bavini, paulistano do bairro de Santana, zona norte da capital paulista, nascido em 23 de junho de 1940, começou sua carreira artística ainda no final dos anos 50, cantando rock, com o pseudônimo de Johnny Johnson. Foram anos de batalha, até que em 1961, conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, lançando pela Chantecler, um 78 rotações cujo lado A trazia o bolero “Enganadora”, do trio de compositores Umberto Silva , Luiz Mergulhão e Souza Lima; no lado B, o rock balada “Será”, de Waldemar Espinosa Garcia.
Fã do cantor Roy Orbison e tendo um alcance de voz quase igual ao do pioneiro do rock’n’roll, Sérgio Reis lançaria em 1962, uma belíssima versão de Carlos Alberto para o sucesso “Lana”, de Orbison, que infelizmente, não obteve sucesso por aqui.
Em 1963, Sérgio Reis deixou a Chantecler pela Continental, por onde lançou mais um 78 rotações, porém, o sucesso só viria em 1966, quando assinou com a gravadora Odeon. Após um primeiro compacto sem muita repercussão, Sérgio finalmente compôs a balada “Coração Papel”, que se tornaria o maior hit da sua carreira e um dos marcos absolutos do movimento jovem guarda.
O sucesso estrondoso da canção levou o cantor ao primeiro LP, que chegou às lojas em agosto de 1967 e trazia no título, o nome do seu grande sucesso. O álbum foi produzido por Tony Campello (que aliás, foi produtor dos discos de Sérgio Reis durante 28 anos, tanto na Odeon como também na RCA-Victor, quando o cantor, já em sua fase sertaneja, emplacou vários sucessos, como “Menino da gaita”, de 1972, entre outros).
“Coração de Papel” revelou um novo ídolo para o movimento jovem guarda. Cantor e compositor de grande talento (a maioria das canções do disco eram composições próprias), Sérgio Reis teve várias músicas gravadas por outros artistas da época, como Deny e Dino, José Roberto e outros. (rstone)
Álbum Nº 32
LP
“Os Jovens”
Os Jovens
(CBS – 1967)
Formada no final de 1964 pelos compositores João José e Francisco Fraga (Puruca), a dupla Os Jovens estreou na CBS em 1965, com o compacto duplo “Apresentando Os Jovens”, contendo as músicas “Quero Falar Com Você” (Francisco Fraga ”Puruca”), “Sofrendo Por Amor (I’ll Never Know)” ((Dave Clark / Denis Payton / Vrs. João José), “Louca Paixão (Hurting Inside)” (Dave Clark / Mike Smith / Vrs. João José) e “ Sinto-me Feliz” (Francisco Fraga ”Puruca”).
Tendo o acompanhamento do grupo Renato e Seus Blues Caps, em 1966 lançaram o compacto simples com as canções “Se Você Me Abandonar”, composição de Rossini Pinto, e “Eu Não Sei”, mais uma composição do “Jovem” Francisco Fraga, o Puruca. “Se Você Me Abandonar” fez enorme sucesso, e a dupla foi escalada para um LP, “Os Jovens”, disco lançado em abril de 1967, no qual a dupla lançava uma nova moda musical, chamada “Caverna”, um tipo de novo iê-iê-iê, altamente dançante.
A moda não pegou, mas o álbum trouxe muitas canções de sucesso, principalmente “Você Fala Demais” e “Deixe O Tempo Passar”, que chegariam aos primeiros lugares das paradas.
Destaque também para as belíssimas “Coração de Pedra”, faixa de abertrura que tem um fuzz guitar matador de Renato Barros; e as baladas “Como É Triste A Solidão” (Puruca), “Esquece-me” (Edson Ribeiro/Odilon Ennes), “Nunca Mais Quero Amar” (Genival Cassiano) e “Podia Me Dizer”, esta uma parceria de Puruca com o então “jovem-guardista” Luiz Ayrão, futuro sambista de sucesso, nos anos 70. (rstone)
Álbum Nº 31
LP
“Coruja”
Deny e Dino
(Odeon – 1966)
Uma das duplas mais importantes da Jovem Guarda, Deny e Dino já tinham estrada quando explodiram em 1966 com o hit “Coruja”. Provenientes da cidade de Santos, os jovens José Rodrigues da Silva (o Deny, nascido em 25/05/1944) e Décio Scarpelli (o Dino, 09/03/1945, falecido em 1994), se conheceram em 1956, e logo em seguida formaram o grupo Os Boas Pintas, apresentando-se em boates e estações de rádio de Santos e São Paulo.
Nos anos 60, foram convidados a participar dos programas de televisão de Hugo Santana, época em que adotaram os cognomes de Deny e Dino. Em seguida, assinaram contrato com a gravadora Odeon, e já no primeiro compacto, emplacaram um hit nacional, a belíssima balada “Coruja”, música recheada de belos vocais em falsete e guitarras cristalinas bem ao estilo da época. Dali para a gravação do primeiro LP foi um passo.
“Coruja” é um dos álbuns fundamentais da Jovem Guarda. As vozes em falsete, arranjos modernos, com orquestração do maestro Lyrio Panicali e acompanhamento dos Fevers, além do repertório bem selecionado, fazem do primeiro álbum de Deny e Dino, um clássico do pop nacional. (rstone)
Álbum Nº 30
LP
“Choque Que Queima”
Luizinho e Seus Dinamites
(RCA Victor – 1964)
Gravado em 1964, “Choque Que Queima” é o único álbum do grupo Luizinho & Seus Dinamites e também uma das maiores preciosidades do rock brasileiro. O disco passou quase despercebido na época, porém, no final dos anos 80, pesquisadores começaram a citá-lo como uma das joias perdidas dos anos 60, e o disco transformou-se num verdadeiro objeto de culto. Nos anos 90, foi relançado em CD pela Bruno Discos, na série Classic Collection, supervisionada pelo grande Albert Pavão.
O disco era basicamente composto de músicas de Cliff Richards & The Shadows, a faixa-título, “Choque Que Queima”, por exemplo, é uma versão de “Choppin’ and Changin'” e “Dinamite” é uma versão abrasileirada do hit “Dynamite”, de Richard. De repertório variado, “Choque Que Queima” tem canções de amor (“As Estações” e “Uma Voz na Solidão”), twists embalados em alta voltagem (“Eu Vou à Lua” e “Carango Twist”) e faixas instrumentais transistorizadas pelos solos flamejantes das guitarras de Euclides de Paula (“Ventures Twist” e “Guitar Twist”).
Liderados por Luizinho (Luiz de Castro), com seu timbre inconfundível nos vocais (e que além de músico era um especialista em fabricar guitarras), os Dinamites eram formados por Euclides (guitarra solo), Jair (guitarra base), José Antonio (baixo) e Carlinhos (bateria). Só que na gravação do LP, quem tocou bateria na maioria das faixas foi Gelson, dos Blue Caps. (rstone)
Álbum Nº 29
LP
“Rua Augusta”
Ronnie Cord
(RCA Victor – 1964)
Ronnie Cord iniciou a carreira em 1960, fazendo sucesso com o cover para “Itsie Bitsie Teenie Weenie Yellow Polkadot Bikini”, do cantor Bryan Hilland, que na versão do seu pai, o maestro Hervé Cordovil, virou “Biquini de Bolinha Amarelinha”.
Em 1963, o maestro compôs para o filho a canção “Rua Augusta”, que se tornaria um dos maiores “standards” do rock brasileiro, e a mais conhecida música de Ronnie Cord.
A letra era uma crônica perfeita daquela época, falava das obsessões da “juventude transviada”, das turmas e dos pegas de carro na maior metrópole brasileira. Clássico absoluto, “Rua Augusta” já ganhou covers dos Mutantes, Raul Seixas e Leno, entre outros.
Lançada em dezembro de 1963, em compacto, a canção virou um estrondoso sucesso nos primeiros meses de 1964 e deu título ao LP de Ronnie Cord, lançado em junho daquele ano, um disco recheado de baladas e de rock and roll, em que Ronnie resgatava inclusive, o sucesso “Biquini de Bolinha Amarelinha”, e dois hits recentes do pop internacional, em versões de Fred Jorge, “Blue Velvet” (“Veludo Azul), sucesso do cantor Bobby Vinton, e “Viva Las Vegas”, de Elvis Presley.
Com o advento da Jovem Guarda, Ronnie Cord juntou-se aos irmãos Norman e Junior, para formar o grupo The Cords, com quem gravou a belíssima versão para “All My Loving” (“Todo o Meu Amor”) (Lennon & McCartney), e alguns outros poucos compactos. Antes do término da Jovem Guarda, já tinha abandonado a carreira artística. (rstone)
Álbum Nº 28
LP
“Top Top Top”
The Jet Black’s
(Chantecler – 1966)
Uma das melhores bandas de rock instrumental dos anos 60, eles surgiram em 1961 como The Vampires, sob influência dos ingleses The Shadows. Depois, mudaram o nome para The Jet Black’s, e em seguida, foram contratados pela Chantecler como uma resposta ao grupo The Jordans, que gravava pela Copacabana. O primeiro álbum da banda, “Twist”, de 1962, é um marco do rock brasileiro.
Em 1965, os Jet Black’s já tinham uma sólida carreira, que contava com cinco excelentes álbuns instrumentais, além de vários compactos, porém, para se adequar ao movimento da jovem guarda, era necessário mudar um pouco o estilo, gravando músicas cantadas. Respondendo ao apelo da nova onda, lançaram em 1966, o LP “Top Top Top”, disco que mesclava músicas vocais com os tradicionais surf rocks da banda.
“Top Top Top” foi o disco que de certa forma, “apresentou” os Jet Black’s ao recente público da Jovem Guarda. É também o primeiro álbum a estampar na capa a imagem da banda, que na época contava com a seguinte formação: José Paulo (baixo), Sérgio Vigilato (guitarra base), Gatto (guitarra solo) e Jurandir (bateria).
O lado rock’n’roll da banda está em regravações de clássicos instrumentais como “Dance On” (The Shadows), “Shazam” (Duane Eddy); o lado vocal conta com outras pérolas do pop da época, “Money” (baseada na versão do Beatles) e “Hippy Hippy Shake” (hit recente do grupo inglês Swinging Blue Jeans).
Outro destaque vai para as versões instrumentais de “Suspicion”, sucesso gravado por Elvis Presley, e “And I Love Her”, dos Beatles. E há ainda a belíssima balada “Viver Sem Você”, composição de Wilson Miranda e Baby Santiago, aqui cantada pelo guitarrista Gatto. Tudo isso faz deste disco, um álbum fundamental, não só da carreira dos Jet Black’s, mas da Jovem Guarda. (rstone)
Álbum Nº 27
LP
“Bobby de Carlo”
Bobby de Carlo
(Mocambo – 1967)
O paulistano Roberto Caldeira dos Santos, começou sua carreira ainda na adolescência, em 1960, com apenas 15 anos de idade. Com o nome artístico Bobby de Carlo, gravou naquele ano, seu primeiro disco pela Odeon, o 78 rotações com a música “Oh Eliana”, versão de Sergio de Freitas para o sucesso “Dede Dinah”, gravada originalmente pelo cantor “teen idol” Frank Avalon.
Depois de mais dois compactos, Bobby de Carlo passou a fazer parte do grupo The Vampires, que em seguida mudaria o nome para The Jet Black’s. Bobby permaneceu como guitarrista dos Jet Black’s entre 1963 e 1964, no seu lugar entrou o guitarrista José Proverti (Gatto), também ele um dos fundadores do grupo , que havia saído e agora retornava.
Com a explosão do movimento Jovem Guarda, vários artistas que estavam com a carreira semiencerrada, retornaram à ativa, Bobby de Carlo foi um deles, e em 1966, assinou com a gravadora pernambucana Mocambo, por onde lançou um compacto com as músicas “Tijolinho”, composição de Wagner Tadeu Benatti (que nos anos 70 faria parte do grupo Pholhas), e ““Minha Tristeza” (outra composição de Benatti em parceria com Edmundo Arroyo).
“Tijolinho” estourou em todas as rádios no final de 66, o que levou o artista a gravar rapidamente seu primeiro LP, “Bobby de Carlo” que emplacou vários hits, como “Cuidado Para Não Derreter”, “Não Vou Me Entregar”, “A Boneca Que Diz Não” e novamente “Tijolinho”, também incluída no LP, continuou liderando os primeiros lugares das paradas de sucesso.
A febre da música “Tijolinho” era tão grande que nos shows ao vivo, as garotas costumavam presentear Bobby de Carlo com montes de tijolos e bilhetes contendo picantes propostas de amor.
No ano seguinte, já consagrado como mais um dos grandes ídolos do iê-iê-iê, Bobby de Carlo lançou seu segundo álbum, um belíssimo disco (que os fãs o chamam de “Passo de Gigante”, referindo-se à faixa de abertura), mas que infelizmente, não repetiu o mesmo sucesso do primeiro.
Ficou para a história, como num conto de fadas, a lenda de uma canção chamada “Tijolinho”, e um álbum antológico, um dos melhores da Jovem Guarda. (rstone)
Álbum Nº 26
LP
“Os Sucessos na Voz de José Roberto Vol. II”
José Roberto
(CBS – 1968)
O cantor baiano José Roberto surgiu no início de 1967, quando estourou em todo o país com a canção “Deixa o meu cabelo em paz”, um iê-iê-iê avançado, composição de Oswaldo Nunes e Celso Castro, lançado no compacto simples CBS 33479, de abril de 1967.
O enorme sucesso dessa canção levou ao seu primeiro LP, “Os Sucessos na Voz de José Roberto”, lançado em maio daquele ano, que, além do mega suceso “Deixa meu cabelo em paz”, trazia também várias covers bem elaboradas de sucessos já lançados por artistas de outras gravadoras, como “Coração de papel”, sucesso de Sérgio Reis na Odeon, “Gatinha Manhosa”, hit de Erasmo Carlos, da RGE e “Não Presto Mas Eu te Amo”, mega-hit de Demétrius na RCA.
Mas José Roberto era um grande cantor. Jovem, bonito e talentoso, ele tinha um “feeling” especial na interpretações de canções que já estavam nas paradas com outros artistas. Na voz de José Roberto, essas canções ganhavam uma textura mais intimista, mais romântica talvez, era o bastante para atingir milhares de corações em todo o Brasil. Foi este carisma que levou o artista a desenvolver uma sólida trajetória na CBS, que durou oito anos, com uma série de 11 LPs de carreira, todos de grande sucesso, além de dezenas de compactos e várias coletâneas.
“Os Sucessos na Voz de José Roberto – Vol. II” é o seu segundo álbum, lançado em outubro de 1968, aqui José Roberto interpreta de maneira magistral, canções como “Resolvi Não Te Deixar” (Sérgio Reis); “Pra Nunca Mais Chorar” (sucesso de Vanusa, mas que muitos consideram a gravação de José Roberto superior); “Benzinho” (que no ano anterior fora sucesso na voz de Paulo Sérgio); “Tenho um amor melhor que o seu” (o primeiro sucesso de Antonio Marcos, esta é outra canção que muitos preferem a gravação de José Roberto), entre outras.
Apesar de gravado no último ano do movimento JG, este disco, regado a muitas guitarras e letras extremamente românticas, expressa todo o clima das jovens tardes de domingo. É um daqueles álbuns que têm a cara da Jovem Guarda, na sua forma mais genuína. (rstone)
Foto de Rubens Stone.
Foto de Rubens Stone.
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Álbum Nº 25
LP
“Vanusa”
Vanusa
(RCA-Victor – 1968)
A paulista da cidade de Cruzeiro, interior de São Paulo, criada em Frutal. Minas Gerais, Vanusa Santos Flores, foi descoberta aos 16 anos, pelo empresário Sidney Carvalho, quando cantava com um conjunto da cidade de Frutal, o Golden Lions.
Levada para São Paulo no início de 1966, ganhou participação fixa no programa “O Bom”, apresentado por Eduardo Araújo na TV Excelsior . Na sequência, foi contratada pela gravadora RCA, numa estratégia de marketing bem elaborada, na qual a RCA pretendia apresentá-la à cena musical da época como mais uma rival para Wanderléa.
Lançou então seu primeiro disco, um compacto com a balada “Pra Nunca Mais Chorar”, composição de Carlos Imperial e Eduardo Araújo, e no lado B, “O Geghege”, versão da própria Vanusa para o sucesso da cantora italiana Rita Pavone.
“Pra Nunca Mais Chorar” estourou de norte a sul do país, tornando a nova cantora conhecida em todo o Brasil. Da noite para o dia, Vanusa se transformaria numa espécie de símbolo sexual da juventude.
Imediatamente, lançou seu primeiro LP homônimo (também conhecido como “Mundo Colorido”, devido o sucesso da faixa de abertura). Além de “Mundo Colorido”, outro grande sucesso do disco foi a regravação em ritmo de iê-iê-iê do samba-canção “Mensagem”, composição de Aldo Cabral e Cícero Nunes, gravado originalmente em 1946, por Isaura Garcia.
Lindíssima e bastante polivalente, ainda nos anos 60, Vanusa atuou também na televisão, integrando o elenco principal do programa “Adoráveis Trapalhões”, da TV Excelsior, ao lado do astro Wanderley Cardoso e do humorista Renato Aragão. Nos anos 70, continuaria na mídia, primeiro com a gravação do mega sucesso “Manhãs de Setembro” (1974) e depois, no programa de TV “Cinderela 77”, ao lado de Ronnie Von, na TV Tupi. (rstone)
Álbum Nº 24
LP
“Ronnie Von”
Ronnie Von
(Polydor – 1968)
Em 1968, no apagar das luzes da Jovem Guarda, Ronnie Von já havia dado um “drop out” (caído fora) no iê-iê-iê, ao enveredar por caminhos até então estranhos à música popular brasileira. Acabou descobrindo a gênese do que viria a ser o movimento tropicalista.
Desde o seu terceiro LP, de 67, ele já vinha experimentando novos sons, o álbum “Ronnie Von Nº 3” fora quase todo gravado com o acompanhamento dos Mutantes. E então, para o disco de 1968, Ronnie Von radicalizou. Mudou o corte de cabelo para o estilo “hippie” da época, juntou-se a o produtor e compositor Arnaldo Saccomani e ao maestro tropicalista Damiano Cozzela, autor, entre outros, do arranjo de cordas da estreia de Caetano, e juntos, conceberam um dos mais incríveis álbuns do rock brasileiro. “Esse álbum é fruto de um sentimento de medo e vingança. Foi um desabafo pessoal, eu estava de saco cheio daquilo tudo, era uma tentativa desesperada de fazer algo que me agradasse”, relembraria ele, anos mais tarde.
“Ronnie Von” era um álbum totalmente estranho para o gosto comum do público. Impressionava pela ousadia e liberdade artística. Foi o primeiro disco psicodélico feito por um artista brasileiro. Na capa, Ronnie aparecia com o torso nu, em pequena foto que quase se escondia em meio a um painel maluco de pinturas psicodélicas. No repertório, letras surreais e guitarras ferozes.
Abria agressivo e poético com “Meu Novo Cantar” e “Chega de Tudo”. Na sequência, a surrealista “Espelhos Quebrados” e “Silvia: 20 Horas, Domingo”, canção de guitarras distorcidas, numa levada de soul e hard rock. Em meio ao turbilhão de guitarras e arranjos orquestrais que antecipavam o rock progressivo no Brasil, entre uma faixa e outra, lá pelo meio do disco, diálogos, e um jingle fictício sobre um tal “Bar Íris”, e ampliando ainda mais o clima rebelde do álbum, havia a subversiva “Anarquia” (“Amanhã vamos pra rua fazer /uma tremenda anarquia / pintar as ruas de alegria / porque / quem manda hoje somos nós , mais ninguém / e não ligamos pra quem vai ou quem vem atrapalhar / a quem nos queira atrapalhar…”
Refinado e inteligente, e muito à frente de sua época, o disco foi um fracasso de vendas. Os fãs do artista, acostumados a tê-lo como o “pequeno príncipe” da Jovem Guarda, rejeitaram o álbum. A crítica da época sequer registrou o lançamento do disco. Hoje é um dos álbuns mais cultuados e prestigiados do rock brasileiro. (rstone)
Álbum Nº 23
LP
“O Bom Rapaz”
Wanderley Cardoso
(Copacabana – 1967)
Wanderley Cardoso foi um dos maiores ídolos juvenis dos anos 60. Ator, cantor e compositor, sua trajetória é longa, se perde no meio da história da música popular brasileira. Nascido no bairro de Belenzinho, em São Paulo, no dia 10 de março de 1945, ainda menino conseguiu seu primeiro sucesso em disco, com a gravação da música “A Canção do Jornaleiro” (composição de Heitor dos Prazeres), lançada no final de 1958, num 78 rotações para a RCA-Victor, produzido pelo Sanfoneiro Mário Zan, que completava o lado B com a valsa “Não Vou Brincar” (composição do próprio Mário Zan em parceria com Arlindo Pinto). Na época, Wanderley tinha apenas 13 anos.
O garoto-prodígio só voltaria ao disco seis anos depois, com o compacto “Preste Atenção”, versão de Paulo Queiroz para o sucesso francês “Fais Attention”, de Ginete Ravel. Começava então, uma das mais bem-sucedidas carreiras de um astro da Jovem Guarda, cujo ápice foi alcançado com o álbum “O Bom Rapaz”, de 1967, um dos discos campeões de vendas daquele ano.
Devido o estrondoso sucesso da faixa-título, belíssima composição do até então desconhecido Geraldo Nunes, Wanderley acabou ficando conhecido como “O bom rapaz”. Várias outras canções desse álbum soberbo entraram direto nas paradas de sucesso, dentre as quais, “O Pic Nic”, “Doce de Coco”, “Não Posso Controlar Meu Pensamento” e “Minhas Lágrimas”.
Após o fim da Jovem Guarda, Wanderley Cardoso seguiria gravando bons discos até meados dos anos 70 – os álbuns de 1972 e 1973, por exemplo, são grandes discos que mereceriam uma caprichada reedição em CD. (rstone)
Álbum Nº 22
LP
“Renato e Seus Blue Caps”
Renato e Seus Blue Caps
(CBS – 1967)
As inúmeras versões de sucessos dos Beatles gravadas por Renato e Seus Blue Caps chegaram aos ouvidos da juventude brasileira bem antes das gravações originais do quarteto britânico, e isto ajudou a criar a ponte entre a Jovem Guarda e a Beatlemania que explodia no planeta.
Em 1967, acompanhando as mudanças que ocorriam na música estrangeira, o grupo gravou um dos álbuns mais importantes da sua carreira. Mesclando composições próprias com obscuras versões de bandas pouco conhecidas aqui no Brasil, o grupo trouxe para o cenário da Jovem Guarda o som de garagem de grupos como The Troggs (“I Can’t Control Myself’ e “With a Girl Like You”, que em suas respectivas versões ganharam os títulos de “Não Posso Me Controlar” e “Tem Que Ser Você”, ambas vertidas por Luiz Keller) e Manfred Mann (“Semi-Detached Suburban Mr. James”, que virou “Este Amor Me Faz sofrer”, também uma versão de Luiz Keller, a faixa que abre o disco).
Ainda sob a influência dos Beatles, a banda foi buscar no primeiro álbum do quarteto a balada “Anna”, original do cantor Arthur Alexander, e a versão dos Blues Caps acabou fazendo sucesso estrondoso em todo Brasil, cinco anos depois da gravação dos Beatles. Outros destaques do disco: “Vou Subir Bem Mais Alto Que Você”, outra versão de Luiz Keller para o sucesso “Reach Out I’ll Be There”, do grupo The Four Tops, “Menina Feia”, de Renato Barros, e “A Irmã do Meu Melhor Amigo”, composição de Leno.
A partir deste álbum de 1967, os Blue Caps deram início a uma significativa mudança na sonoridade da banda. Nos discos seguintes, o grupo de Renato Barros ampliaria seu universo musical, se afastando um pouco do iê-iê-iê para buscar novos horizontes no soul, no funk e num rock mais consistente, para isso, introduziriam em seu repertório novos compositores como o novato Cleo Galanth, o cantor e compositor Puruca (da dupla Os Jovens), e o novo produtor da CBS, um tal de Raulzito Seixas. (rstone)
Álbum Nº 21
LP
“Os Vips”
Os Vips
(Continental – 1966)
A Jovem Guarda foi mais que um programa de TV, foi na verdade um movimento musical sem precedente na história do Brasil, que proporcionou o surgimento de grandes ídolos da música, não só na esfera individual, os artistas solo, mas também na formação de importantes grupos (os conjuntos musicais) , trios e duplas que foram preponderantes para o sucesso da música jovem dos anos 60. Das várias duplas que surgiram na esteira do sucesso da Jovem Guarda, uma que também marcou para sempre aquela geração, foi Os Vips.
Formada pelos irmãos Márcio e Ronald Antonucci, eles foram os pioneiros no quesito duplas da JG, abrindo caminho para o aparecimento de outras grandes duplas, como Leno & Lílian, Deny e Dino, Os Cords, Os Vikings, Os Jovens, Tony & Adans, etc.
A primeira gravação da dupla aconteceu em 1964, com ‘Tonight’, composição deles com letra em inglês, incluída no LP ‘Reino da juventude’, coletânea produzida e lançada pelo incansável Antonio Aguillar, com vários artistas que estavam surgindo na cena musical.
No início de 1965, a dupla lançou pela gravadora Continental o compacto que trazia a balada “Emoção”, composição de Roberto e Erasmo, que conquistou as paradas de sucesso. O próximo passo foi a gravação do primeiro LP, com acompanhamento do fantástico grupo The Jordans, na maioria das faixas. No ano seguinte, Os Vips gravaram seu segundo álbum, cuja faixa de abertura, “A Volta”, outra composição da dupla Roberto/Erasmo, estourou de forma avassaladora em todas as rádios do país.
Entre 1966 e 1967, auge da Jovem Guarda, a dupla lançou três álbuns pela gravadora Continental, sendo este segundo disco, o de maior sucesso de vendagens, muito por conta do mega-hit “A Volta”.
Com o fim do programa Jovem Guarda, o cenário musical brasileiro começa a mudar. É nessa, meados de 1968, que Os Vips assinam com a CBS, porém, não chegam a lançar um álbum inteiro sequer pela nova casa, restringindo sua participação à série As 14 Mais e ao lançamento de alguns compactos.
No início dos anos 70, a dupla encerra suas atividades, deixando para trás, um dos mais importantes legados da música jovem brasileira. Sem dúvida alguma, os irmãos Antonucci escreveram uma das mais belas páginas do pop brasileiro, hoje fazem parte da restrita galeria dos eternos ídolos da Jovem Guarda. (rstone)
Álbum Nº 20
LP
“Leno e Lilian”
Leno e Lilian
(CBS – 1966)
Uma das mais queridas duplas da Jovem Guarda, Leno e Lilian estrearam em disco em março de 1966, quando lançaram pela CBS, o compacto com “Pobre Menina” e “Devolva-me”. As duas músicas estouraram nas paradas de sucesso.
A repercussão deste compacto fabuloso fez o potiguar Gileno Osório e a carioca Silvia Lilian Knapp ganharem a chance de gravar seu primeiro LP, “Leno e Lilian”, que além das duas canções do compacto, trazia outros hits, como “Veja se me esquece “ (composição da prolífera dupla Marcos Roberto e Dori Edson) e “Eu não sabia que você existia” (de Renato Barros, dos Blue Caps, em parceria com Tony, esta música é o que se pode chamar de um iê-iê-iê genuíno, com sua sonoridade altamente dançante e uma letra ultra romântica).
O sucesso da dupla estava garantido, e já no início de 1967, lançaram o segundo álbum, “Não Acredito”, também recheado de grandes hits, porém, os desentendimentos entre os dois acabaram pondo fim à dupla.
Leno deu início a uma excelente carreira solo, Lilian continuou compondo e fazendo boas versões de sucessos internacionais. No início dos anos 70, retomariam a dupla, lançando dois álbuns pela CBS (em 1972 e 73), mas os tempos eram outros, e embora estes dois álbuns dos anos 70 sejam discos geniais, a dupla não conseguiu repetir o mesmo sucesso dos anos 60. (rstone)
Álbum Nº 19
LP
“Alguém na Multidão”
Golden Boys
(Odeon – 1966)
Um dos grupos vocais mais importantes da música brasileira, os Golden Boys surgiram em 1958, como uma versão nacional do grupo norte-americano The Platters, e tinham em sua formação os irmãos Roberto, Ronaldo e Renato Correia e o primo Valdir Anunciação, todos nascidos no Rio de Janeiro. Começaram num programa de calouros da rádio Mauá, e logo em seguida, gravaram o primeiro disco pela Copacabana, o 45 rotações que trazia a canção “Meu romance com Laura”, que fez relativo sucesso local.
No início dos anos 60, continuaram gravando compactos, mas o grupo só alcançou sucesso definitivo quando embarcou na onda da Jovem Guarda. O LP “The Golden Boys” (1965) emplacou os sucessos “Ai de Mim” (versão de Neusa de Souza para “All of Me”, clássico standard americano) e “Dançando O Surfin’”, esta uma versão de Roberto Nunes para o original “Your Baby’s Is Gone Surfin’”, do guitarrista Duane Eddy. Mas foi com o álbum “Alguém na Multidão”, de 1966, que os Golden Boys se consagraram como um dos principais grupos vocais do chamado iê-iê-iê. O álbum estourou em todo o país, a começar pela faixa-título, uma composição original de Rossini Pinto.
Outras canções como “Se Eu fosse você” (também de autoria do grande Rossini Pinto), “Mágoa” (versão de “Heartaches”, sucesso de Pat Boone), e “O Feiticeiro (“Love potion number nine”) tornaram-se grandes hits naquele ano. Após o fim da Jovem Guarda, o grupo enveredou pelo terreno da soul music, gravando nos anos 70, pelo menos dois clássicos do gênero, “Fumacê” e “O Cabeção”. (rstone)
Álbum Nº 18
LP
“Para Os Jovens Que Amam Os Beatles, Os Rolling Stones e… Os Incríveis”
Os Incríveis
(RCA – 1967)
Eles surgiram em 1963, como The Clevers, empresariados pelo grande apresentador e produtor Antonio Aguilar. Antonio Rosa Sanchez (Manito, sax), Waldemar Mozena (Risonho, guitarra solo), Domingos Orlando (mingo, guitarra base), Demerval de Souza (Neno, baixo), substituído depois por Lívio Benvenuti Júnior (Nenê, baixo) e Luiz Franco Thomaz (Netinho, bateria) escreveram uma das mais importantes páginas do rock brasileiro.
Começaram como grupo instrumental, aproveitando a onda do surf rock. Em 1966, desentenderam-se com seu empresário e mudaram o nome para Os Incríveis. Em 1967, Lançaram mais um álbum pela gravadora Continental, o fantástico “Os Incríveis Nesse Mundo Louco”, que também virou título de um filme, e em seguida assinaram com a RCA-Victor, por onde lançaram este “Para Os Jovens que Amam Os Beatles, Os Rolling Stones e..Os Incríveis”, considerado por muitos fãs o melhor álbum da carreira da banda.
Aqui está o clássico “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” (sucesso do italiano Gianni Morandi) e a regravação definitiva do hit instrumental “O Milionário”, além de pérolas como “Nosso Trato”, “Molambo” e “Perdi Você”. Até no título este disco é genial, tanto que, sempre que lembramos deste disco nos vem à memória aqueles três pontinhos que ligam os Beatles e os Rolling Stones aos Incríveis. São os três pontinhos mais malandros do rock brasileiro. (rstone)
Álbum Nº 17
LP
“Roberto Carlos”
– Roberto Carlos
(CBS – 1966)
Em dezembro de 1966, pelos mesmos dias em que era lançado o novo LP de Roberto Carlos, o ex-rei do rock Sérgio Murilo, que estava tentando retomar sua carreira no Brasil com seu recém-lançado LP, , demonstrava desespero em relação ao seu rival e sucessor no trono, RC, ao soltar o verbo em entrevista irada à revista Garotas : “Eu detesto Roberto Carlos e sei que ele não gosta de mim (…) Tudo começou no início de nossas carreiras, quando pertencíamos à mesma gravadora. Eu tinha mais cartaz do que ele, o que acontece até hoje, e meus discos eram bem mais trabalhados (…) Durante os dois anos que fiquei pelas Américas, ele conseguiu fazer um movimento que acabou, não sei como, em sucesso. Após minha chegada, fui convidado umas três vezes a cantar no Jovem Guarda. Não aceitei porque ele estava lá. Isso foi motivo para que Roberto recomeçasse com as fofocas (…) J´não aguento mais, mas não vou responder a esse rapaz que está embriagado pelo sucesso (…) O que falta a Roberto Carlos é ter um pouco de inteligência. Se ele tivesse aproveitado o dinheiro para estudar, como eu fiz, hoje não estaria com medo de cair do pedestal (…)”
As acusações de SM nem chegaram a fazer cócegas em Roberto Carlos, pelo contrário, só serviram para expor o desespero de Sérgio pela perda de terreno que vinha sofrendo cada vez mais dentro do cenário da nova música jovem.
Enquanto Sérgio Murilo se esperneava, o sexto LP de Roberto era lançado e imediatamente coroado de sucesso, era o disco mais recheado de hits e o mais bem trabalhado em termos de arranjos, até então. É o disco pós-estouro do programa “Jovem Guarda” e o que mais recebeu influências dos Beatles, a começar pela capa, mostrando um Roberto sério na solidão do escuro, copiada do álbum “With The Beatles” (1963), transformando em uma só as quatro cabeças da banda britânica.
Para este disco, Roberto teve o acompanhamento dos grupos The Fevers, Jet Blacks, The Youngsters e Renato e Seus Blue Caps, além do tecladista Lafayette. Todas as doze faixas viraram hits radiofônicos, é difícil destacar alguma, mas “Namoradinha de um Amigo Meu”, “Eu Te Darei o Céu”, “Nossa Canção”, “Negro Gato” e “Esqueça” entraram para a galeria de clássicos eternos do rei. (rstone)
Álbum Nº 16
LP
“Você Me Acende”
– Erasmo Carlos
(RGE – 1966)
Com o LP “Você Me Acende”, o segundo de sua carreira, lançado em junho de 1966, Erasmo Carlos assumiu o ônus de ser o personagem mais rebelde e mal comportado da Jovem Guarda. O perigo já se prenunciava na capa, em que numa justaposição de fotos, Erasmo aparecia de sorriso meigo olhando para outro Erasmo, que mordia sensualmente uma corrente envolta em seu pescoço. Era o retrato da bifurcação entre o “menino bom mocinho” e o jovem e rebelde roqueiro, terror da menininhas.
Acompanhado pelos Fevers, Erasmo preencheu seu segundo disco de hormônios sexuais em fúria, provando que a Jovem Guarda não era tão somente um movimento infanto-juvenil bobinho, e em sintonia com o som e a estética mais rock’n’roll da época, gravou canções incendiárias como, “O Carango” , ”Cuide Dela Direitinho”, “Peço a Palavra”, ‘É Duro Ser estátua”, “Deixa de Banca”, “Alô Benzinho” e a faixa-título, uma estimulante versão de “You Turn Me On”, do cantor britânico Ian Whitcomb. Para essa canção, Erasmo criou uma letra que era pura adrenalina sexual.
No campo das baladas doces para namoros no portão, havia dois clássicos instantâneos: “A Carta” (composição da dupla Raul Sampaio e Benil santos, diretores da gravadora RGE) e “Gatinha Manhosa” (Roberto e Erasmo), essa última havia sido gravada sem maiores repercussões um ano antes, pelo grupo Renato e Seus Blue Caps. A gravação de Erasmo virou um dos maiores hits radiofônicos de 1966.
“Você Me Acende” era iê-iê-iê, mas principalmente era uma aula do velho e bom rock and roll, trilha sonora ideal para azarar os brotos nas festinhas embaladas com cuba libre, de forma que, indiscutivelmente este é um dos melhores álbuns da Jovem Guarda. (rstone)
Álbum Nº 15
LP
“Ronnie Von”
– Ronnie Von
(Polydor – 1966)
É interessante como a melhor fase de Ronnie Von está nos três álbuns de temática psicodélica que gravou entre 1968 e 1970 – a saber, “Ronnie Von”(1968), “A Misteriosa Luta do reino de Parassempre…” (1969) e “A Máquina Voadora” (1970) -, mas sua estreia em LP, após o estrondoso sucesso do compacto “Meu Bem (Girl)”, causou frisson no reino da brotolândia.
Lançado em outubro de 1966, o disco trazia cinco versões de sucessos dos Beatles, fora duas cantadas no original (“In My Life” e “You´ve Got To Hide Your Love Away”), quatro composições de Tommy Standen (que faria grande sucesso nos anos 70 como Terry Winter), e uma versão de “As tears go by”, dos Rolling Stones.
Ou seja, era um álbum que não tinha nada de autoral, e talvez por isto Ronnie Von tenha odiado o disco. Mas o sucesso foi enorme, e logo passaram a chamá-lo de “O Pequeno Príncipe da Jovem Guarda”.
O estrondoso sucesso da balada “Meu Bem” o levou a TV Record, onde passou a apresentar o programa “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, que fazia uma espécie de contraponto ao “Jovem Guarda”, de Roberto Carlos, ao levar artistas como Os Mutantes e Gal Costa, que na época não tinham a menor chance de se apresentar no programa do Roberto.
No ano seguinte, Ronnie Von gravaria “A Praça”, de Carlos Imperial e emplacaria outro megassucesso, mas a esta altura, ele já estava pulando fora do reino da brotolândia e partindo para experiências bem mais interessantes, misturando Beatles com Orlando Silva, rock progressivo com música erudita, psicodelismo com hard rock, mas isso já é outra história. (rstone)
Álbum Nº 14
LP
“O Inimitável”
– Roberto Carlos
(CBS – 1968)
Lançado no final de 1968, quando o programa Jovem Guarda já havia sido encerrado, Roberto batizou seu novo LP de “O Inimitável” para neutralizar a profusão de imitadores, dos quais, o mais incômodo era Paulo Sérgio, que naquele ano lançara dois excelentes álbuns, ameaçando não exatamente o título do “rei do iê-iê-Iê”, mas principalmente a superioridade nas vendagens de discos.
Mas algo estava mudando na carreira de Roberto Carlos. Roberto continuava apostando no romantismo, porém de uma ótica mais “adulta”, o som estava mais para a Black Music do que para o iê-iê-iê ingênuo.
As levadas roqueiras ficavam com “Ciúme de você”, “Eu te amo, te amo, te amo” e “Nem mesmo você”. Influências da soul music se faziam presentes em “Não há dinheiro que pague”, “Se você pensa” e “As canções que você fez pra mim”.
As duas canções que abrem o disco, “E não vou mais deixar você tão só”, de Antonio Marcos, e “Ninguém vai tirar você de mim”, de Edson Ribeiro e Hélio Justo, estão entre as mais lindas canções de amor que Roberto já gravou. (rstone)
Álbum Nº 13
LP
“O Bom”
– Eduardo Araújo
(Odeon – 1967)
Naqueles primeiros anos da chegada do rock no Brasil, uma das coisas mais difíceis para os artistas que mergulharam no novo gênero, era conciliar as influências estrangeiras com os ritmos regionais, com as raízes da música brasileira.
O mineiro Eduardo Araújo foi um dos poucos que teve êxito nesta fusão de elementos tão distintos. Quem não se lembra de “Maringá” ou “De papo pro ar”, talvez as primeiras tentativas de conciliação do rock com a música brasileira?
Filho de fazendeiros mineiros, Eduardo começou sua carreira em 1960, ainda em Minas Gerais, cantando no programa “Volta ao Mundo”, de Rosana Tapajós. Dudu estreou no programa cantando “Rock Around The Clock”, porém teve um acesso de tosse em plena transmissão, devido ao primeiro cigarro fumado em sua vida.
Perseguindo a carreira de cantor, naquele mesmo ano de 1960, seguiu para o Rio de Janeiro, onde começou a cantar no programa Hoje é dia de Rock, de Jair de Taumaturgo, na TV Rio. Foi quando compôs sua primeira canção. “Deixe o rock”.
No início de 1961, gravou um compacto duplo, intitulado “O garoto do Rock”, porém o disco não aconteceu e Dudu retornou para a fazenda dos pais, em Minas.
Com a explosão do movimento Jovem Guarda, o lado roqueiro do garoto fazendeiro bateu mais forte e Eduardo Araújo partiu de volta para o Rio de Janeiro, desta vez levado pelas mãos do pai de todos os roqueiros brasileiros, o grande Carlos Imperial, que compôs para ele o mega-hit “O Bom”, música que alcançou os primeiros lugares das paradas no final de 66, e que serviu como titulo do seu primeiro LP, lançado em março de 1967.
O extraordinário sucesso do disco tornou o jovem cantor conhecido em todo o Brasil, levando-o também à televisão, onde passou a exibir, ao lado da futura esposa Silvinha, o programa “O Bom”, pela TV Excelsior de São Paulo. A esta altura, Eduardo Araújo já era um dos grandes ídolos da juventude, com suas roupas de cowboy e sua guitarra de rocker brabo. (rstone)
Álbum Nº 12
LP
“Vivendo Sem Você”
– Jerry Adriani
(CBS – 1967)
Jerry Adriani já era um dos grandes ídolos do iê-iê-iê, quando lançou no primeiro semestre de 1967, o LP “Vivendo Sem Você”, o quinto de sua carreira. É o segundo álbum da quadrilogia que o cantor lançou entre 1966 e 1968, conhecida como os discos “A você” (“Devo Tudo A Você” de 1966, “Vivendo Sem Você” e “Dedicado A Você” (ambos de 1967), e “Esperando Você”, de 1968).
Seguindo a mesma linha do anterior “Devo Tudo A Você”, neste novo trabalho, Jerry mostrou que, apesar do romantismo que impregnava seus sucessos, ele era do rock, principalmente em “Quem não quer”, versão de “Black is Black”, da banda de rock espanhola Los Bravos; na dançante “Calcei sapatos novos”, de Geraldo Figueiredo e Nazareno de Brito, e na agitada “Chorei a noite inteira”, versão lupiciniana de Rossini Pinto para “The night is over”, da dupla de compositores ingleses Roger Cook e Roger Greenaway.
Novamente acompanhado por Renato e Seus Blue Caps, Jerry emplacou vários hits nas paradas com este este álbum, como as já citadas “Quem não quer” e “Calcei sapatos novos”, e mais “Um novo amor”, a faixa título, e a belíssima “És meu amor”, versão do grande Rossini Pinto para “It’s For You”, música original de Freddy Garrity, do grupo Freddy And The Dreamers, aliás, essa canção no original não consta em nenhum álbum dos The Dreamers, portanto, até hoje não sei como o Rossini Pinto encontrou essa canção para versionar.
“Vivendo Sem Você” tocou praticamente inteiro nas rádios de todo o Brasil durante todo o ano de 1967. (rstone)
Álbum Nº 11
LP
“É Tempo do Amor”
– Wanderléa
(CBS – 1965)
“É Tempo do Amor”, o terceiro LP de Wanderléa, chegou à praça em julho de 1965, um mês antes da estreia do programa Jovem Guarda, um belo título para aqueles tempos de exacerbado romantismo no pop brasileiro.
Este é o disco do megahit “Ternura”, versão de Rossini Pinto para a obscura “Somehow it got to be tomorrow”, gravação da cantora Pat Woodell.
Mais uma vez foi mantido o esquema de preencher quase todo o disco com versões de canções de ídolos estrangeiros, cujo material ia da musa francesa Françoise Hardy (“Le temps de l’amour”, que virou “É Tempo do Amor”, que deu título ao LP), passando pela veterana roqueira Brenda Lee (“É pena”, versão da balada “I’m Sorry”, do final dos anos 50), ao grupo de rock Manfred Mann (“Do wah diddy diddy”) e o elegante Serge Gainsbourg (“Poupée de cire, poupée de son”, que na versão de Neusa de Souza ficou “Boneca de cera, boneca de pano”).
Acompanhando Wanderléa no seu novo trabalho, em alternância, os grupos The Youngsters e Renato e Seus Blue Caps, que mandaram brasa na sonoridade moderninha do disco. (rstone)
Álbum Nº 10
LP
“Isto É Renato e Seus Blue Caps”
– Renato e Seus Blue Caps
(CBS – 1965)
Em meados de 1965, os Blue Caps, estavam abarrotados de trabalho, eles eram a banda fixa da CBS nas gravações de diversos outros artistas da casa. Mesmo com pouco tempo, conseguiram realizar, no segundo semestre daquele ano um dos discos mais curiosos da Jovem Guarda.
Pra começar, “Isto É Renato e Seus Blue Caps” foi o representante no Brasil da chamada invasão britânica ocorrida na América do Norte no ano anterior. Ali estavam várias versões de sucessos ingleses, só da dupla Lennon/McCartney haviam quatro, “Feche os olhos (All my loving)”, “Eu sei (I’ll be back)”, “Meu primeiro amor (You’re going to lose that girl)” e “Sou tão feliz (Love me do)”.
Outra curiosidade era a capa, que é a mesma do LP “Elgart au Go Go”, de Les & Larry Elgart, também lançado em 1965. A CBS já havia se aproveitado do seu “banco de dados” para ilustrar a capa do primeiro disco de Roberto Carlos, “Louco Por Você” (1961), que era a mesma de um LP do organista Ken Griffin, “To Each His Own”, lançado em 1946. Outro artista que teve capa “clonada” foi Sérgio Murilo, no LP “Baby” (1961), em que a CBS aproveitou outra capa de Ken Grifin, a do disco “Sweet and Lively” (1960).
Mas isso parecia não ter a menor importância na época, já que os próprios artistas não contestavam, é bem provável que sequer sabiam que as capas de seus discos não tinham nada de originais.
Voltando ao repertório de “Isto É Renato…”, não precisa dizer que quase todas as canções tornaram-se sucessos radiofônicos, com destaque para “O escândalo”, versão de “Shame and scandal in the family”, sucesso do cantor Shawn Elliott; “Espero sentado”, versão do sucesso “Keep searchin’, de Del Shannon, além, é claro, das célebres “Feche os olhos” e “Meu primeiro amor”, músicas que ajudaram a introduzir a beatlemania no Brasil. (rstone)
Álbum Nº 09
LP
“Roberto Carlos Canta Para A Juventude”
– Roberto Carlos
(CBS – 1965)
Até Frank Sinatra gravar o álbum “Songs For Young Lovers”, em 1955, ninguém havia assumido fazer músicas para jovens. A exemplo de Sinatra, Roberto foi direto falar com esse público, quando lançou, em abril de 1965, o LP “Roberto Carlos Canta Para A Juventude”.
Depois do espetacular “É Proibido Fumar”, o tempo para Roberto Carlos era de fertilidade. Shows por todos os lados, garotas por todos os quartos de hotéis, jornais e revistas corriam atrás do novo líder pop. Foi nesse ritmo alucinante que o seu quarto LP chegou às lojas do Brasil naquele início de ano, em cuja capa, lá estava um Roberto com ar de moço triste sobre um fundo azul-piscina, contrastando um pouco com um repertório alegre, feito para dançar.
Assim como seu antecessor, “Canta Para A Juventude” é basicamente um disco de surf-rock, com uma peculiaridade: agora, o órgão de igreja do tecladista Lafayette prevalecia sobre as guitarras flamejantes dos Youngsters e dos Blue Caps. Lafayette e seu Hammond B3 estavam presentes no disco todo, e apesar do tecladista ser uma descoberta do parceiro Erasmo, coube a Roberto a primazia de lançar para o Brasil a moda de rechear as canções de todos os artistas daquele tempo de órgãos estridentes.
Nos temas, Roberto mais uma vez reafirmava sua fé no amor, mas o álbum trazia também em sua embalagem pop juvenil, influências dos quadrinhos (“Brucutu”), do cinema (“Noite de terror”) , das gangs de rua (“Os sete cabeludos”), e mirava também, até de forma intimista, no futuro daquela juventude para a qual ele cantava (“Os velhinhos”).
E 1965 estava só começando, até o final daquele ano, toda a juventude do país seria arrebatada pela nova onda musical liderada por aquele rei menino, cheio de energia e de muito rock’n’roll. (rstone)
Álbum Nº 08
LP
“Paulo Sérgio – Vol. 1”
– Paulo Sérgio
(Caravelle – 1968)
Quando a pequena gravadora Caravelle, do carioca Adiel Macedo de Carvalho, contratou, em fins de 1967, o cantor capixaba Paulo Sérgio, ninguém imaginaria que dali a seis meses, o novo artista provocaria um dos mais históricos e conturbados rebuliços na cena musical jovem da época.
O abalo sísmico começou quando, no início de 1968, Paulo Sérgio lançou seu segundo compacto com a balada “Última Canção”, de autoria do compositor Carlos Roberto, Inicialmente sem maiores pretensões comerciais, mas o disquinho galgou rapidamente as paradas de sucesso e em três semanas já havia vendido 60 mil cópias.
Foi o bastante para o Brasil inteiro começar a cantar aquela música que anunciava o fim de um romance determinado por uma última canção. E a última se tornou a primeira, e Paulo Sérgio entrou em estúdio para seu primeiro long playing, como se dizia na época.
O sucesso foi instantâneo e esmagador, atingindo inclusive o “rei” da Jovem Guarda, que, na tentativa de neutralizar o novo “adversário”, que a imprensa chamava de “imitador” e “usurpador do trono”, intitulou seu novo disco de “O Inimitável”.
Por essa época, a Jovem Guarda já agonizava, o seu “rei” buscava novos rumos no universo da black music e das baladas açucaradas com o mel do romantismo exacerbado , portanto, o surgimento de Paulo Sérgio funcionou como um novo sopro nas cinzas do movimento.
A imprensa e a corte do “rei” não gostou, já o público simplesmente adorou aquele novo artista e o seu disco repleto de rocks românticos e baladas pra lá de sentimentais.
Músicas como “No dia em que parti”, “sorri, meu bem”, “Pro diabo os conselhos de vocês” (esta, composição de Carlos Imperial, também gravada por Erasmo Carlos na mesma época), e “Última canção”, tornaram-se clássicos instantâneos e abriram caminho para uma nova geração de cantores que estavam chegando, como Nelson Ned, Marcos Pitter e Odair José, entre outros. (rstone)
Álbum Nº 07
LP
“A Pescaria”
– Erasmo Carlos
(RGE – 1965)
Lançado em maio de 1965, o primeiro LP de Erasmo Carlos trazia a canção que foi considerada o 2º hino oficial da Jovem Guarda, a música “Festa de Arromba”, na qual, Erasmo citava os principais artistas da cena musical da época, causando tremendo alvoroço em toda a juventude brasileira.
A longa espera pela realização do seu primeiro álbum solo, fez com que esse disco genial parecesse mais uma coletânea de sucessos do que um álbum fechado, pois ali estavam, além de várias canções inéditas, outras lançadas anteriormente em compactos de muito sucesso, como “ Terror dos namorados”, “Minha fama de mau” e a própria “Festa de arromba”.
E Erasmo chegava mostrando sua verve roqueira, já de cara desafiando o quarteto de Liverpool para um “duelo”, em “Beatlemania”; cantando a la Chuck Berry em “Dia de escola” (versão do clássico de Berry, “School Days”); mostrando malandragem juvenil na faixa-título, e brilhando em algumas pérolas romanticamente apropriadas ao movimento JG, através de baladas douradas como “Alguém que procuro”, “Sem teu carinho” (com seu ritmo de surf rock) e “Gamadinho por você”.(rstone)
Álbum Nº 06
LP
“Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”
– Roberto Carlos
(CBS – 1967)
Lançado originalmente em novembro de 1967, como trilha sonora do filme de mesmo nome, “Em Ritmo de Aventura” é o mais perfeito e o mais bem-sucedido álbum de RC, da sua fase Iê-iê-Iê, cuja moldura sonora era mais uma vez guiada e ampliada pelos sons de órgão Hammond do tecladista Lafayette e pelo maravilhoso acompanhamento dos Blue Caps e do RC-7. A interferência do grande Lafayette é tão importante que não se sabe como ele não requereu coautoria em algumas das faixas desse disco fantástico.
“Em Ritmo de Aventura” é um primor, do início ao fim, Roberto estava inspiradíssimo e abriu o leque para várias influências, que iam além do iê-iê-iê, sinalizando o início de uma mudança de estilo em seu repertório.
Em termos musicais, Roberto flertava com a Black music, o country e o rock mainstream dos anos 60. Clássicos como “Eu sou terrível”, “Por isso corro demais”, “Quando” e “Só vou gostar de quem gosta de mim”, e a ultra romântica “Como é grande o meu amor por você”, ajudaram a eternizar o álbum no inconsciente coletivo da juventude da época, por isso, “Em Ritmo de Aventura” seja talvez o álbum mais cultuado de Roberto até os dias atuais. (rstone)
Álbum Nº 05
LP
“Wanderléa”
-Wanderléa
(CBS – 1967)
Lançado em abril de 1967, o quinto LP de Wanderléa foi puxado pelo sucesso envenenado de “Prova de fogo”, um iê-iê-iê original, composto pelo maninho Erasmo Carlos.
Acompanhada pelos Fevers e por seu grupo Os Wandecos, a “Ternurinha” alcançou o auge da sua carreira com este álbum super bem produzido.
O repertório, como de praxe na época da Jovem Guarda, era composto basicamente por versões, mesmo assim sobrou espaço para pérolas originais de Ed Wilson (“Acho que vou lhe esquecer” e “Vou lhe deixar”, esta em parceria com o irmão Paulo César), Carlos Imperial (“Horóscopo”) e Roberto Correa e Sylvio Son (“Te Amo”).
Álbum Nº 04
LP
“Um Grande Amor”
– Jerry Adriani
(CBS – 1965)
Terceiro álbum da carreira de Jerry Adriani e o primeiro em português, “Um Grande Amor” traz em sua concepção, um traço fantástico do destino: não era pra ser um disco de Jerry adriani, mas sim do cantor de samba-canção Jorge Silva, que teve problemas com a voz, quando todo o repertório do disco já estava com suas bases concluídas pelo conjunto Renato e Seus Blue Caps, pelo tecladista Lafayette e pela orquestra de Alexandre Gnattali.
Jerry Adriani foi chamado para substituí-lo, colocando a voz sobre as bases pré-gravadas. Lançado em outubro de 1965, “Um Grande Amor” é um dos mais extraordinários álbuns da Jovem Guarda, seguindo inclusive a concepção inicial do movimento, quando a maioria dos discos dos artistas da época traziam um repertório feito quase todo de versões de sucessos internacionais.
Com sua voz poderosa, muitas vezes soando a la Elvis Presley, Jerry Adriani imprimiu uma autenticidade fora do comum nas versões do álbum, de forma que canções como “Querida (Do’nt let then move)”, “Deixe-me levá-la pra casa (Baby let me take you home)”, “Não quero mais amar (I’ve got sand in my shoes)” e “Um grande Amor”, mais parecem terem sido compostas única e exclusivamente para ele. Você certamente jamais trocaria qualquer uma dessas versões citadas por sua correspondente original. (rstone)
Álbum Nº 03
LP
“É Proibido Fumar”
Roberto Carlos
(CBS – 1964)
Roberto Carlos já era ídolo consagrado da juventude quando lançou “É Proibido Fumar”, seu terceiro LP, em agosto de 1964. Este é o álbum mais “roqueiro” de toda sua carreira, e mais, é o primeiro disco genuinamente rock’n’roll do Brasil, gravado inteiramente por uma banda de rock, dispensando pela primeira vez na história da música juvenil brasileira, as orquestras de estúdio.
O negócio aqui era só guitarra, baixo, bateria e sax. As músicas traziam toda uma gama de interjeições pop do tipo “iau!”, “yeah”, “ié ié”, entre outros gritos de guerra do rock. Roberto acendia o estopim e o fogo que em breve se espalharia na juventude, nenhum corpo de bombeiros poderia, de fato, apagar. Detalhe para um Roberto novinho (e gordinho) na contracapa do LP. (rstone)
Álbum Nº 02
LP
“Um Embalo Com Renato e Seus Blue Caps”
– Renato e Seus Blue Caps
(CBS – 1966)
O quinto álbum de Renato e Seus Blue Caps consolidou de vez a banda como o maior grupo da Jovem Guarda.
“Um Embalo…” é um dos discos mais queridos pelos fãs da banda, e o segundo mais bem sucedido em termos de vendagens, só perdendo para o belíssimo LP de 1970.
Lançado no final de 1966, emplacou vários sucessos nas paradas, como “Meu bem não me quer”, “A primeira Lágrima”, “Não te esquecerei”, além de “Vivo só”, versão de “For your Love”, dos Yardbirds, e “Dona do meu coração”, versão de “Run for your life”, dos Beatles. Só tinha pérolas neste “Embalo…”.
Os Blue Caps foi talvez o grupo que melhor traduziu o som dos Beatles para esta terra brasilis. Este disco é um clássico absoluto da JG. (rstone)
Álbum Nº 01
LP
“Jovem Guarda”
– Roberto Carlos
(CBS – 1965)
Lançado em novembro de 1965, três meses após a estreia do programa homônimo, o quinto LP da carreira de Roberto Carlos é o álbum-símbolo do movimento, o disco que ajudou a popularizar o jargão “jovem guarda”.
Na faixa de abertura, Roberto mandava tudo para o inferno, abalando as estruturas da moral cristã, enquanto arrebanhava milhões de corações jovens ávidos por música e coisas novas.
“Quero que vá tudo pro inferno” tornou-se um dos grandes clássicos do rock dos anos 60, uma canção que está no mesmo patamar de uma “Satisfaction”, dos Stones ou “Like a rolling stone”, de Bob Dylan, ambas lançadas no mesmo ano.
Entre letras ingênuas, baladas românticas e iê-iê-iês dançantes, outras canções tornaram-se clássicos da juventude, como “Sorrindo para mim”, da compositora Helena dos Santos; “Eu te adoro meu amor”, de Rossini Pinto; “Escreva uma carta meu amor”, de Pilombeta e Tito Silva; “Mexerico da candinha”, de Roberto e Erasmo; e “Lobo mau”, versão do sucesso internacional “The wanderer”, do cantor Dion & The Belmonts.
Por tudo isso, pode-se dizer que “Jovem Guarda” foi o álbum que deu início ao maior movimento musical do pop brasileiro dos anos 60. (rstone)
Para maiores detalhes, comentários, fotos relacionadas, etc… visitem o grupo “Eterna Jovem Guarda” no Facebook. 😉
Os 50 Maiores Álbuns da Jovem Guarda – Parte Final – Os Álbuns-Bônus
Álbum Nº 54
LP
“O Último Trem”
The Sunshines
(CBS – 1967)
Renato Barros disse certa vez que o grupo carioca The Sunshines foi a única banda que poderia ter quebrado a hegemonia dos Blue Caps como melhor grupo da Jovem Guarda. Formado em 1964, pelos irmãos João Augusto Soares Brandão, o Guty (vocais), e Geraldo Brandão (guitarra base), ambos filhos do comediante Brandão Filho, juntamento com Walter D’Ávila Filho (guitarra solo), este filho do também comediante Walter D’Ávila, e mais o baixista Rakami e o baterista Dândalo, que no ano seguinte seria substituído por Sérgio, os Sunshines estreou em disco em 1966, quando lançou seu primeiro LP pelo selo independente Rio.
No início de 1967, a banda foi contratada pela CBS para o subselo EPIC, e sob a produção de Jairo Pires, lançou no segundo semestre daquele ano o magnífico LP “O Último Trem”, cuja faixa título era uma excelente versão de Leno para o sucesso recente dos Monkees, “Last Train to Clarksville”. A versão dos Sunshines estourou em todo o Brasil, atingindo os primeiros lugares das paradas de sucesso. Mas esta não era a única pérola deste álbum soberbo. Numa época em que as versões dominavam o som da Jovem Guarda, o grupo evitou o óbvio ao trazer para o repertório do disco o som de bandas britânicas menos conhecidas, como The Easybeats, Dave Clark Five, entre outros obscuros grupos ingleses. Além da faixa-título, a banda emplacou também nas paradas a balada “Palavra de Rapaz”, composição do então jovem guardista e futuro sambista Luiz Ayrão.
No ano seguinte, o grupo lançaria um compacto que faria enorme sucesso, graças à belíssima “Por Você Tudo Faria”, versão de Geraldo Brandão para “Friday on my mind”, dos Easybeats. No final daquele ano, o grupo encerraria suas atividades, deixando para trás, uma trajetória fantástica. Poucas bandas da Jovem Guarda foram tão talentosas como o The Sunshines. (rstone)
Álbum Nº 53
LP
“Eu Te Amo Mesmo Assim”
Martinha
(Artistas Unidos-Rozemblit – 1967)
A mineira Martinha é o típico exemplo da garota que de tanto venerar seus ídolos, um belo dia viu-se entre eles, sendo uma deles, realizando assim, um belo conto de fadas. Nascida em Belo Horizonte, em 30 de junho de 1949, Martha Vieira Figueiredo Cunha era filha única. Reza a lenda que Sua mãe, dona Ruth, era a famosa Candinha, que assinava a coluna “Mexericos da Candinha”, na fase áurea da Revista do Rádio, editada pelo jornalista Anselmo Domingos.
Estudante de balé e piano desde a infância, Martinha jamais imaginou ser cantora, até que explodiu a Jovem Guarda, então ela quis tomar parte daquilo tudo. Os contatos que dona Ruth tinha no meio artístico foram acionados e numa bela noite de 1965, Roberto Carlos em pessoa bateu à sua porta. Não precisa dizer que aquela visita foi fundamental para a jovem mineirinha de apenas 17 anos, 1.50m de altura e dona de um talento excepcional, percebido pelo rei da Jovem Guarda, que a convidou para se apresentar no seu programa, em São Paulo.
No início de 1967, Martinha se preparava então para a gravação do seu primeiro compacto, mas a moça já tinha 16 canções prontas, todas verdadeiras pérolas românticas e ao estilo iê-iê-iê. Após o lançamento de dois compactos, chegou a vez do primeiro LP, intitulado “Eu Te Amo Mesmo Assim”, lançado em setembro de 1967, pela marca Artistas Unidos (AU)/Rozemblit. Das doze faixas do disco, sete eram de sua autoria, mostrando que Martinha, além de exímia pianista, era uma grande compositora. “Barra Limpa” era uma polaroide da época. “Não gosto mais de você” era uma bronquinha iê-iê-iê no namorado. O melhor do álbum está nas ultra românticas “Seja o que Deus quiser”, “Meu vestidinho”, e o faixa-título, “Eu te amo mesmo assim”, que virou um grande hit nas paradas.
Com este primeiro LP, Martinha se firmava como uma das grandes musas da Jovem Guarda, ao lado de Wanderléa, Rosemary e Waldirene. Até o final do movimento, lançaria mais dois belíssimos álbuns, e depois seguiria uma carreira sólida como uma das grandes cantoras e compositoras românticas da música brasileira. (rstone)
Uma observação sobre o início de carreira de Martinha:
Quando ainda não tinha iniciado carreira lá em Minas Gerais, Martinha e sua mãe, Dona Ruth, tentaram até finalmente conseguirem que Elmar Tocafundo, da CBS, e que tinha um programa de rádio em Belo Horizonte, conversasse com Roberto Carlos para que ele conhecesse sua filha, que era ouvinte de seu programa de rádio. Foi daí que através de Elmar Tocafundo que Martinha iniciou na Jovem Guarda. Foi Elmar quem levou Roberto na casa dela depois de um show, às 3h da manhã… e depois disso, já sabemos a história, ela tornou-se o “Queijinho de Minas” do programa Jovem Guarda.
Neste vídeo a Martinha reconhece que foi Elmar Tocafundo quem lhe estendeu a mão para que ela chegasse à Jovem Guarda:
Álbum Nº 52
LP
“Rossini Pinto”
Rossini Pinto
(com Renato e Seus Blue Caps)
(CBS – 1964)
Ele foi um dos mais importantes compositores e versionistas da histótia, ajudou a consagrar vários dos artistas do movimento jovem guarda, com composições próprias e versões em português do rock britânico, americano e até espanhol.
Rossini Pinto nasceu na pequena cidade de Itabapoana/ES em 24 de janeiro de 1937. Mudou-se para o Rio de Janeiro em meados da década de 1950. Em 1955, trabalhava como repórter do diário esportivo Jornal dos Sports e do matutino Correio da Manhã.
Começou sua carreira artística por acaso, em 1960, ao musicar o poema “Convite de Amor”, do então Presidente da República, Jânio Quadros. Desde então, passou a ser solicitado por gravadoras. Acabou assinando contrato com a Copacabana em 1961, por onde lançou seu primeiro compacto (single) com as canções “Rock Presidencial”, de sua autoria, e “Vamos Brincar de Amor?”, de Vadico e Herberto Sales.
Como intérprete, emplacou nas rádios sucessos como, “Voa Passarinho”, “Viu No Que Deu?” (ambas de sua autoria e de Fernando Costa), isso ainda no início dos anos 60, era pré-Jovem Guarda. Como compositor, ganhou prestígio quando Roberto Carlos passou a gravar várias de suas composições, destacando-se os sucessos “O Leão Está Solto Nas Ruas”, em 1964, “Parei…Olhei” e “Eu Te Adoro, Meu Amor”, em 1965, e “Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim”, de 1967. Teve também composições gravadas por Wanderléa, Golden Boys (o hino jovem guarda “Alguém na Multidão”, entre outras), The Fevers, e antes ainda, teve canções gravadas pelo pessoal da velha guarda, como Agostinho dos Santos e Emilinha Borba, que em 1962 gravou “Me Leva Pro Céu”.
Contratado da gravadora CBS, Rossini Pinto uniu-se aos Blue Caps para a gravação de seu primeiro LP homônimo, cujo lançamento ocorreu em outubro de 1964, disco que juntamente com outros lançamentos da época, ajudou a construir o movimento JG. O álbum rendeu dois grandes sucessos radiofônicos, “Ford de Bigode” (de Ivanildo Teixeira e Paulo Brunner), e “Amor e Desprezo” de sua autoria, música que já vinha galgando as paradas desde que fora lançada na série As 14 Mais Vol. 11, de 1963. “Amor e Desprezo” é uma de suas músicas mais tocadas até hoje.
Em 1967, Rossini Pinto transferiu-se para a Odeon, selo pelo qual lançou vários compactos de relativo sucesso. Nessa época, passou também a exercer a função de produtor fonográfico. Três anos depois, retornaria à CBS para exercer a função de produtor de novos artistas da casa, como Odair José, Núbia Lafayette, Luís Carlos Magno e Ari Cordovil.
Em 1972 teve a música “Mata-me Depressa”, gravada por Wanderléa. Em 1973 compôs, com Renato Barros, “Se Você Soubesse”, gravada no mesmo ano pelos Blue Caps. A música se tornou um dos maiores hits românticos daquele ano.
Em 1983, por problemas de saúde, Rossini se afastou da CBS, e em 25 de junho de 1985, veio a falecer, no Rio de Janeiro. Para a vida e para a arte, o tempo, no seu rito de passagem ocorre de maneira cruel. Rossini Pinto, um dos maiores artistas da música brasileira, está hoje totalmente esquecido da mídia e de boa parte do público, e até mesmo sua memória tem sido ultrajada. Há uns três anos atrás, seus restos mortais foram retirados do jazigo do cemitério Jardim da Saudade, Sulacap, no Rio de Janeiro, por falta de pagamento na manutenção do jazigo.
Rossini Pinto foi um dos maiores compositores da música brasileira, um gênio que se dedicou de corpo e alma à sua arte, no intento de legar a nós, amantes da música, um paraíso de pontos luminosos, no entanto, sua memória, assim como seus restos mortais, repousa em abismo desconhecido. Resta sua música, esta ficará para sempre entre nós. (rstone)
Álbum Nº 51
LP
“F-15 Espacial”
Célia Villela
(Musidisc – 1964)
“F-15 Espacial”, da cantora Célia Villela é um disco-irmão de “É Proibido Fumar”, de Roberto Carlos. Gravados nos mesmo ano, 1964, e com o mesmo acompanhamento,pelo grupo The Youngsters, os temas e a sonoridade de ambos são idênticos, com canções falando de brotos, pranchas de surf (que eles chamavam de jacarés), tudo isso entremeado de guitarras de surf rock e sopros juvenis, além das inusitadas interjeições pop do tipo “iau!”, “yeah!”, “iê-iê”, ou seja, toda a energia adolescente que se encontra em “É Proibido Fumar” de RC, se encontra na mesma proporção em “F-15 Espacial”, de Célia Villela.
Lançados para aquecer aquele inverno de 64, estes dois discos fizeram muito mais, mudaram o rock brasileiro para sempre, por serem os dois primeiros álbuns inteiramente irretocáveis da história do rock nacional, por utilizar pela primeira vez, somente os instrumentos básicos do rock, guitarra, baixo, bateria e sax, substituindo em definitivo a grandiloquência das orquestras de estúdio, até então usadas nas gravações de discos dos pioneiros do rock, como Sergio Murilo, Tony Campello e Carlos Gonzaga, por exemplo. Aqui o som era básico, era rock’n’roll genuíno.
Assim como no “É Proibido Fumar”, de RC, a genialidade de “F-15 Espacial” deve-se graças aos fabulosos The Youngsters, grupo instrumental carioca que até 1963, chamava-se The Angels, formado por Luiz Carlos(guitarra), Jonas(baixo), Ivan Conti(bateria) e os irmãos Sérgio(sax e flauta) e Carlos Becker(guitarrista, cantor e compositor).
“F-15 Espacial” abre com “Caidinha por você”, versão de Célia Villela para “Fallin’”, de Neil Sedaka, um bom-bom pop com seus sopros juvenis e solos curtos e cristalinos de guitarra surf rock, que aliás permeiam todas as faixas do disco, dando encanto e juventude à canções como “Desculpa”, “Lição de violão”, “Dançando Hully Gully”, entre outras. Erasmo Carlos, que já se destacava como um promissor compositor do novo ritmo, contribuiu com duas lindíssimas baladas, “O dia que não vem” e “Alguém na vida da gente”. Outros destaques são o twist-rock’n’’roll “Assim é o meu amor”, o twist de Chubby Checker “I could have danced all night”, cantado no original por Célia Villela, e a faixa-título, “F-15 Espacial”, um surf rock de arrepiar, que certamente mexeu com a pélvis de muito brotinho da época.
Célia da Conceição Villela, nascida em Belo Horizonte, em 24 de novembro de 1939, começou sua carreira artística ainda muito jovem, aos 13 anos de idade. Em 1950, foi eleita a “Rainha do Baião” de Minas Gerais. Quando o rock’n’roll explodiu no mundo inteiro, através do filme “Sementes da Violência (Blackboard Jungle)”, de 1955, Célia abraçou o novo ritmo, tornando-se uma das pioneiras do gênero no Brasil. Célia Villela faleceu no dia 1º de janeiro de 2005, aos 65 anos de idade.
Quando faleceu, já estava há muitos anos fora do mundo artístico. Em 1987, ela foi procurada pelo cantor, compositor e pesquisador Albert Pavão, a fim de conceder entrevista para falar sobre a participação dela no nascente rock and roll no Brasil, para o livro que ele estava escrevendo, “Rock brasileiro 1955-65 – Trajetória, Personagens e Discografia”, mas, apesar da insistência de Pavão, Célia recusou-se veementemente a dar seu depoimento. (rstone)
Nota: Conforme informou Luiz Carlos Siqueira (The Angels/The Youngsters), a banda The Angels/The Youngsters gravou os dois LPs inteiros, “É Proibido Fumar” e “Jovem Guarda”.
Também no LP da Wanderléa, “É tempo do Amor”, 07 faixas foram gravadas pelo The Youngster, incluindo “Ternura”, e 05 faixas por Renato e Seus Blue Caps.