Há exatos 43 anos atrás os Beatles lançavam seu maior e também o último sucesso, o disco Abbey Road, e uma prova de que é mesmo uma obra prima do Rock, Abbey Road faz 43 anos e continua sendo celebrado até mesmo por quem nasceu muito depois do seu lançamento.
Nesta reportagem exibida pelo Jornal da Globo, na ocasião dos 40 anos do álbum em 2009, Ricardo Pugialli e Heitor Pitombo, vocalista da banda Bulldog, dão depoimento sobre esta fantástica Beatle obra.
O Álbum “Abbey Road” dos Beatles Aniversaria from Lucinha Zanetti on Vimeo.
Considerado um dos maiores discos de todos os tempos, além de ter sido o pretérito mais que perfeito da história do Rock´n´Roll, no livro intitulado “1001 Discos para se ouvir antes de morrer”, Abbey Road é um dos 7 discos dos Beatles escolhidos pelos 90 críticos do mundo todo, e eles dizem o seguinte:
“Geralmente negligenciado nas enquetes de melhor disco dos Beatles em favor do estilo mais technicolor de ‘Sgt. Pepper Lonely Heart Club Band’ e do mais obscuro e menos ortodoxo ‘Revolver’, o último álbum gravado pelo grupo (‘Let It Be’ foi apenas o último a ser lançado) é uma coleção imprevisível de músicas e fragmentos de músicas. É tão inovador como tudo o que os Beatles sempre fizeram e recheado de reviravoltas emocionais, graças ao caos de seus anos finais como banda.
Apesar das diferenças fundamentais entre eles, naquela altura, McCartney e Lennon eram ainda capazes de compor um material combustível. George Harrison, por muito tempo considerado junto com Ringo Starr, um Beatle menor, havia se tornado um compositor para ser levado a sério, contribuindo com a super inspirada ‘Something’ e com ‘Here Comes the Sun’, muito mais doce que qualquer canção de John e Paul.
Mas é a crônica social ácida de Lennon e McCartney que torna ‘Abbey Road’ essencial, um álbum com um quê de vingança. Há o rock sexual de ‘Come Together’, o monstro psicodélico ‘I Want You’ – marcado pelo baixo ágil de McCartney – e a suíte que ocupa o lado B, amada e odiada pelos fãs dos Beatles na mesma medida. ‘Sun King’ é uma dose musical de LSD; ‘Golden Slumbers’ é um épico sob a forma de uma cantiga de ninar; e ‘The End’ é uma profética mostra de virtuosismo na qual todos fazem um solo – até Ringo”.
Em 1969, ano de lançamento do álbum, George Harrison fez uma análise, descrevendo faixa por faixa, o que foi matéria da revista Vigu Especial de 1976:
LADO A
‘Something’
– “É uma música minha. Eu a escrevi quando nós estávamos terminando o último álbum, o branco. Mas nunca a terminava. Nunca conseguia encontrar as palavras certas para ela. Joe Cocker fez uma versão também, e há uma conversa de que será o próximo compacto dos Beatles. (e foi lado A) Quando a gravei, pensei em alguém como Ray Charles fazendo a música, pensando na sensação que ele deveria ter. Mas como não sou Ray Charles, sou muito limitado, nós fizemos o que podíamos. É um bom tema e, provavelmente, a melhor melodia que já escrevi.”
‘Maxwell’s Silver Hammer’
– “ É algo só de Paul, passamos um bocado de tempo gravando. É uma daquelas músicas que se assobia instantaneamente, algumas pessoas vão odiar e outras vão amar. É como ‘ Honey Pie’, um tipo de coisa divertida, mas provavelmente vai pegar, porque na estória o camarada mata todo mundo. Usamos meu sintetizador moog e eu acho que saiu com grande efeito.”
‘Oh! Darling’
– É outra música de Paul, típica dos anos 50/60, principalmente nos acordes. É uma música típica da época dos grupos Moonglows, Paragons, Shells e tudo o mais. Nós fizemos alguns oh, oohs no vocal e Paul gritando.”
‘Octopus Garden’
– “É de Ringo, a segunda que escreveu. É linda. Ringo fica chateado só tocando bateria. Ele toca piano, em sua casa, mas só conhece três acordes. E ele sabe o mesmo na guitarra. Gosta principalmente da música country, tem um sentimento bem country. É realmente uma grande música. Superficialmente, é uma música boba e infantil, mas acho a letra muito significativa. Ringo escreve suas músicas cósmicas sem saber. Eu encontro significados profundos em suas letras e provavelmente ele nem sabe disso. Versos como ‘Resting our head on the seabed’ (descansando nossa cabeça no leito do mar) e ‘we’ll be warm beneath the storm’ (nós estaremos aquecidos debaixo da tempestade) fazem com que eu entenda que quando se chega dentro de nossa consciência, tudo é de muita paz.”
‘I Want You (She’s so heavy)’
– “É uma música bem forte. Foi John quem tocou guitarra solo e cantava. Isso é bom porque a frase solo que ele toca é basicamente blues. Mas é uma música muito original do tipo Lennon, tem algo de espantoso no seu ritmo; ele sempre cruza algo, coisas diferentes no ritmo, por exemplo ‘All You Need Is Love’, da qual o tempo vai de 3-4 para 4-4, mudando o tempo todo. Quando você pergunta para ele sobre isso, ele não sabe como. Faz naturalmente. No instrumento inicial e nos intervalos, ele criou uma excelente següência de acordes.”
LADO B
“Here Comes The Sun’
– “É a primeira faixa do lado 2. É a música que escrevi para este álbum. Eu a fiz em um dia ensolarado no jardim de Eric Clapton. Nós tínhamos passado por muitos problemas nos negócios, e tudo era muito pesado. Estar no jardim de Eric Clapton era como fazer bagunça depois da escola. Eu senti um tipo de alívio e a música saiu naturalmente, é um pouco parecida com ‘If I Needed Someone’, com aquele tipo de solo correndo por ela. Mas, realmente, é muito simples.”
“Because’
– “É uma das coisas mais bonitas que fizemos. Tem uma harmonia de três partes – John, Paul e eu. John escreveu a música, e o acompanhamento é um pouco parecido com Beethoven. Assemelha-se com o estilo de Paul escrever, mas só por causa se sua suavidade. Paul geralmente escreve coisas mais suaves e John é mais delirante, mais pirado. Mas, de tempos em tempos, John gosta de escrever uma música simples de 12 compassos. Acho que é a faixa de que mais gosto no álbum . É tão simples, especialmente a letra. A harmonia foi muito difícil de ser feita, tivemos que aprendê-la mesmo. Eu acho que vai ser a música que impressionará a maioria das pessoas. Os pirados vão entender e os caretas, pessoas sérias, e críticos, também. Depois vem a seleção de músicas de John e Paul, todas juntas. É difícil descrevê-las sem que se ouça todas juntas.
‘You Never Gove Me Your Money’ parece ser duas músicas, uma completamente diferente da outra.
Em seguida vem ‘Sun King’ (Rei Sol) que John escreveu. Originalmente, ele a tinha chamado de ‘Los Paranoias’.”
“Mean Mister Mustard e Polytheme Pam’
– “São duas músicas pequenas que John escreveu na Índia, há 18 meses.”
‘She Come In Through the Bathroom Window’
– “É uma música muito boa de Paul com uma boa letra.”
‘Golden Slumber’s
– “É outra música muito melódica de Paul que se encadeia.”
‘Carry That Weight’
– “ Fica entrando por todo o tempo (pot pourril).”
‘The End’
– “É o que é: uma pequena seqüência que finaliza tudo. Eu não consigo ter uma visão completa de ‘Abbey Road’. Com ‘Pepper’s’, e até o Álbum Branco, eu tive uma imagem do começo ao fim do produto, mas nesse disco eu ainda estou perplexo. Acho que é um pouco parecido com ‘Revolver’, não sei diereito. Não consigo realmente ainda vê-lo como uma entidade completa.”
George Harrison, setembro de 1969
Fonte: revista Vigu Especial de 1976
O Álbum completa 43 anos e continua sendo o mais vendido dos Beatles até hoje.
‘The end’ tem único solo de bateria de Ringo. É o último registro dos Beatles em estúdio, o mais vendido e, para muitos, o melhor álbum já gravado pela banda em seus oito anos de duração, considerando-se de 1962 a 1970.
Foi o primeiro disco lançado exclusivamente em estéreo — todos os outros álbuns da banda têm versões também em mono.
É também em “Abbey Road” que estão registradas algumas das mais complexas harmonizações vocais criadas pelo grupo que, pela primeira vez, pôde contar com uma mesa de oito canais. Uma novidade tecnológica na época, o equipamento permitiu uma qualidade técnica nunca antes alcançada pelos Fab Four nas gravações.
A capa do álbum iria eternizar ainda a rua londrina e o estúdio homônimos, onde foi gravada a maior parte da produção do grupo.
Derivadas do desastroso projeto “Get back” — que serviu para acirrar ainda mais os ânimos entre John, Paul, George e Ringo — as sessões de gravação de “Abbey Road”, iniciadas em fevereiro de 1969, levariam quase seis meses para serem concluídas.
A estratégia era colocar as diferenças musicais e pessoais dos músicos brevemente de lado para que o projeto, desta vez, pudesse ser concluído.
“Havia um sentimento não explicitado de ‘vamos fazer o melhor que pudermos’. Todos nós sabíamos que aquilo era o fim'”, revela o produtor George Martin, em depoimento registrado na biografia “John Lennon – A vida”, de Philip Norman.
É o último legado dos Beatles na face da terra, o que o torna mais que especial para nós, os fãs dos Beatles!