De como Renato Barros criou a famosa “Lei da Insequapibilidade”!

RENATO BARROS explica em seu livro de memórias como surgiu a Lei da Insequapibilidade e de como ela foi parar na contracapa do LP da banda Renato e Seus Blue Caps 1970.

A gente fazia muitas brincadeiras, a gente tinha uma turma que era muito bacana, era a turma das festinhas chamadas de “festa de gente bem”, ou seja, eram frequentadas por pessoas assim, de um nível intelectual e social considerado superior , eram pessoas da Lagoa, Ipanema, Leblon.
O Leno, como ele morava na Zona Sul, em Copacabana, ele tinha assim um relacionamento com essas pessoas que eu , por exemplo, não tinha, né!
Então a nossa turma era legal, por que era eu, o Leno, o Luís Carlos Ismail… e havia outros também.

Nós éramos muito ligados, muito amigos e tal, e a gente só vivia de brincadeiras, e hoje a gente vê como essas brincadeiras fazem falta.
Então nessa nossa turminha, de repente, por exemplo, o Leno chegava pra gente e falava lá: “Amanhã vai ter festa na casa da Patrícia”!

A Patrícia era uma das meninas dessa alta roda social, intelectual e tal. Então a gente se reunia e íamos pra lá.
Bom, mas pra que isso tenha graça, eu tenho que contar primeiro uma outra história.
É que tinha também o Mono!
O Mono era um menino de rua… Olha que história interessante.
Ele era um menino de rua que a gente conheceu quando a gente ia fazer programa ali na Urca, e tinha sempre aquele menino de rua mesmo, que deveria ter seus nove, dez anos, eu calculo.
Um dia nós pegamos esse menino e levamos pra nossa casa. Levamos e… tipo assim, adotamos o menino.
Aí, nós o levamos pra casa e ele começou a morar com a gente, por que meu pai tinha recém falecido, meu pai faleceu no fim de 1967 e isso eu estou falando em termos de 1968, por aí.

Então toda vez que a gente ia gravar na CBS, o Mono ia com a gente e assim ele foi conhecendo uma porção de gente da classe artística, todo mundo gostava do Mono, ele era muito engraçado, e era analfabeto mesmo, era uma pessoa de uma humildade, assim, fantástica e onde ele foi parar?
Foi parar justamente na casa de uma turma de sacanas, por que a gente só vivia fazendo sacanagens, brincadeiras, e ele foi bater logo com a gente (risos).
E numa dessas idas à CBS pra fazer gravação, ele conheceu o Roberto Carlos, que é filho de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e adivinha de onde era o Mono?
O Mono era exatamente de Cachoeiro do Itapemirim e veio para o Rio de Janeiro e começou a lavar carro na rua com 10 anos de idade.

Estou contando a história do Mono, por que quando a gente ia para essas reuniões na Zona Sul do Rio, a gente levava o Mono também, e ele com o tempo passou a ser a atração principal das festas. (risos)
Ele não tinha a menor inibição, era um garoto fantástico.
Eu tinha muita mania de criar coisas, criar tudo assim, na sacanagem, né, na brincadeira.
Coisas sérias eu fazia muito pouco, eu só vivia de brincadeiras, era meu espírito.
Então eu pegava as letras de músicas e eu fazia versões para o Mono cantar nessas festinhas. E saía cada coisa, assim, que você fechava os ouvidos, eram coisas assim… muito pesadas mesmo! (risos)
Mas como ele não sabia o significado das palavras que eu usava, ele cantava abertamente, não estava nem aí.
Agora você imagina aquele monte de mulher dançando e ele cantando coisas assim! Você não tem ideia, era muito engraçado.
Então na nossa turma, eu criava muito essas palavras que não tinham nexo, e numa dessas eu criei a palavra “insequapibilidade”.
Fui eu que criei mesmo!
Então eu criei a palavra insequapibilidade, e o Leno também tinha coisas que ele trazia de Natal, coisas assim, imaginárias, sabe?
Por exemplo, uma vez ele trouxe um prato, uma iguaria que ele dizia que era de lá, e que tinha o nome de “Piceleta à Gampola na Manteiga”.
O Mono, por exemplo, sofria em nossas mãos com esses nomes de comida inventados.
………………………
Teve uma vez em que o Roberto Carlos ficou até com pena dele, por que a gente pediu a ele pra ir até uma lanchonete buscar sanduíches, e anotamos o pedido… Quando ele entregou para o vendedor aquela lista sem nexo, a pessoa achou que ele estava de brincadeira e ficou muito bravo! (risos)
Então a gente chegava nessas reuniões das meninas metidas ali do bairro, e foi em uma dessas que eu criei essa Lei da Insequapibilidade, exatamente pra bater de frente, assim disfarçadamente, com aquelas garotas, por que elas eram da zona sul, e davam uma de superiores, sabe, naquela época tinha essa divisão aqui no Rio de Janeiro.

Era muito comum a gente ficar tocando violão, conversando, tocando músicas, e o que a gente fazia?
Vou citar um exemplo:
De repente a gente parava de tocar e eu dizia: “Leno, você hoje não tá legal, você tá meio insequapível!
Aí sempre tinha uma das meninsa que falava assim: “é, eu também estou achando!” (risos) Você está insequapível, e tal, mas ninguém perguntava o que queria dizer aquilo. Todo mundo ficava sério e concordava, dizendo é verdade, o Leno tá estranho mesmo.
Então a nossa brincadeira era essa.
………………………………
A história da Lei da Insequapibilidade nasceu exatamente dentro desse estúdio, na brincadeira, ela foi feita assim, era uma brincadeira que ficava só entre nós, até que em 1970 nós fizemos um disco na CBS.
A partir daquela época o produtor do disco era obrigado a fazer tudo.
Além de fazer as músicas, fazer as gravações, tinha que marcar estúdio, marcar músicos, fazia tudo e fazia a arte também.
E como eu era o produtor, eu fiz tudo direitinho, gravamos o disco, botei aquela moldura antiga, ficou muito bacana e tal, ficou muito bonito, mas faltava fazer a contracapa, e a contracapa tinha que ter uma arte também, por que senão a CBS botava aquele catálogo horroroso lá, ninguém gostava daquilo.
Aí eu tive uma ideia de fazer fotos de todos nós, todos mais ou menos da mesma época de quando éramos crianças; quem tiver esse disco, vai ver na contracapa várias fotos de quando nós éramos crianças, e isso foi feito.
Só que na hora da disposição das fotos na contracapa, deixava um espaço muito grande em branco. E eu fiquei pensando o seguinte: eu tenho que fazer um texto aqui, falar alguma coisa a respeito desse disco pra preencher esse espaço em branco.
E fiquei sentado ali, lembro-me disso, era mais ou menos uma hora da tarde, eu lá sentado.
O Raul Seixas também era um dos produtores na CBS, e todo dia por volta de uma hora da tarde, ele passava na minha porta, e falava: “Oh José, vamos almoçar”?
(Ele me chamava de José e até hoje eu não sei por que).
Eu sempre ia com o Raul almoçar e nesse determinado dia, ele chegou na porta e falou: José, vamos almoçar?
Eu falei: “Raul, agora eu não posso não”.
Por que eu estava, sabe assim, desesperado mesmo. É que naquela época tinha um negócio de malote que ia pra São Paulo, e saía às cinco horas da tarde, então expirava o tempo nessa hora. Se eu não mandasse antes das cinco horas, a contracapa ficaria capenga, entendeu?
Aí o Raul foi falando e foi entrando, aí eu falei, cara, não posso não, eu tenho que terminar essa contracapa aqui, e não tô conseguindo.
E ele: “Mas o que que é”?
E o Raul era genial, né!
E ele repetia, vamos lá, mas diz aí, o que é? Eu posso ajudar?
Eu falei: “Não sei cara. Dá uma ideia pra mim, o que é que eu escrevo aqui nessa contracapa”?
Aí ele ficou pensando, pensando, e falou José…
(O Raul conhecia todas aquelas histórias nossas, sabia das invenções de palavras, sabia da Lei da Insequapibilidade. O Raul conhecia, só que ele não frequentava as festas com a gente, acho que ele já era casado, ou tinha uma pessoa, eu não sei bem, mas ele não era muito de sair não).
Aí ele falou assim: “Oh! José, por que você não bota aquele negócio da Lei da Insequapibilidade?
Aí eu parei e falei: “Pô cara, mas vou falar o quê da Lei da Insequapibilidade”?
E foi aí que entrou o Raul nessa história!
Nós começamos a fazer tudo correndo pra poder ir almoçar. (risos)
Aí o Raul entrou com a genialidade dele e começou a colocar coisas sem nexo também.
Se o título não tinha nexo (Lei da Insequapibilidade), o texto também não poderia ter nexo.
E o Raul começou a botar coisas lá que não tinham nexo, aí eu também botava, cada um botava lá um pouquinho e acabou que saiu o texto da Lei da Insequapibilidade na contracapa desse disco.
Esse texto já foi analisado na Internet, o tema já foi discutido em Faculdade, ninguém conseguiu chegar a lugar nenhum por que não tem mesmo aonde chegar! (risos)
Então é tudo muito engraçado, e depois o tempo passou, um dia eu entro na Internet pra ver o que falavam sobre a Lei da Insequapibilidade, e vi que colocaram essa autoria como sendo só do Raul, nem tem o meu nome…

A Kika Seixas conta tudo como se tivesse sido o marido quem fez. Na Internet, quem pesquisar, vai ver lá que consta o autor como sendo o Raul, e não foi.
Acredito que tenha sido mesmo a Kika Seixas, a viúva dele, de repente até por desconhecimento mesmo, ela não me colocou nesse contexto, não é? Ela conta tudo como se tivesse sido o marido dela quem fez.
Então ficou sendo de autoria do Raul Seixas, e isso não me incomoda não, mas esta é a história da Lei da Insequapibilidade, que surgiu na época pra gente zoar as garotinhas metidas a intelectuais.

RENATO BARROS
Em 19 de janeiro de 2019

RENATO BARROS E SEUS BLUE CAPS: 60 ANOS DE SUCESSO!

A pessoa de Renato Barros se confunde com a sua criação, a banda Renato e Seus Blue Caps, e quando falamos de um, o outro necessariamente se torna o assunto.
Neste ano de 2019 o músico, guitarrista, compositor, radialista, produtor RENATO BARROS chega aos 60 anos de carreira artística, à frente de uma banda de Rock que atravessa os tempos realizando shows por todo o Brasil.

Sua historia está sendo contada em livro por mim, em prosa e versos, de uma forma diferente, por que serão as próprias palavras do artista em sua exata maneira de ser e de se expressar.
Tudo está dividido em 20 capítulos, muitos deles ainda a serem desenvolvidos.

A capa também não é a definitiva, e aceitamos sugestões.

O Livro “Renato Barros: um Mito, uma Lenda, ainda em andamento…

PREFÁCIO
Por Renato Barros
INTRODUÇÃO
Por Lucinha Zanetti

CAPÍTULO I
– Descendência
CAPÍTULO II
– A Infância e adolescência no Bairro da Piedade no Rio de Janeiro
CAPÍTULO III
– O Gosto pela Música
CAPÍTULO IV
– Histórico
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CAPÍTULO V
– Carlos Imperial – O início – Surge “Menina Linda”
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CAPÍTULO VI
Os Divulgadores e Incentivadores da Banda Renato e Seus Blue Caps
1 – Jair de Taumaturgo, o Disk Jockey que deu o nome à banda que surgia.
2 – Elmar Passos Tocafundo, Radialista e Divulgador da CBS em Belo Horizonte.
3 – Antonio Aguillar em São Paulo, Carlos Imperial no Rio de Janeiro.
CAPÍTULO VII
1 – O Compositor Renato Barros
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CAPÍTULO XX
– Considerações Finais
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CAPÍTULO IV – HISTORICO

Fundada em 1959, a banda idealizada por Renato e criada juntamente com seus irmãos Paulo Cezar e Ed Wilson, recebeu a princípio o nome de “Bacaninhas do Rock da Piedade”.
A família Barros sempre foi bastante musical e costumava se reunir no quintal da casa onde moravam no bairro da Piedade no Rio de Janeiro. O pai cantava, o tio tocava cavaquinho, violão, a mãe também tocava e cantava, chamavam os amigos e assim os irmãos começaram a se interessar por música.
Nessa época chegava ao Brasil o Rock com Bill Haley and His Comets, despertando a atenção dos jovens pelo Rock and Roll. Aconteceu primeiro na zona norte do Rio e começaram a surgir em toda esquina uma banda de rock.
Era final dos anos 50 e, influenciados pelo gosto musical da família e pelo Rock and Roll de Little Richard, Bill Halley e depois Elvis Presley, os rapazes começaram a imaginar que poderiam participar de programas de rádio, fazendo mímica das músicas de sucesso, algo que era bastante comum naquela época.
Perto de onde moravam havia um clube chamado “Sport Club Oposição” que eles costumavam frequentar aos domingos à noite para assistir a um festival de Rock que acontecia lá e certo dia o Senhor Barros fez uma surpresa aos filhos. Combinou tudo com o apresentador e os meninos que estavam assistindo da plateia, foram chamados ao palco para se apresentarem.
Muito encabulados, eles subiram ao palco e tocaram um Rock. Eram os Bacaninhas do Rock da Piedade se apresentando em público pela primeira vez.
Eles já conheciam o Gelson Moraes nessa época, pois ele tinha um conjunto de Rock em Vila Isabel e costumava frequentar também o Clube Oposição. Gelson chegava com seus amigos vestindo blusão de couro e causavam o ciúme nos garotos do bairro, por que as garotas ficavam caidinhas por eles.
O conjunto de Gelson tinha um diferencial, pois sabiam cantar as letras em inglês e isso impressionava os garotos.
Renato recorda que quando ouviu a música Tutti Frutti ficou muito interessado e foi na loja comprar o disco. Ele não sabia falar o nome da música e precisou cantarolar para o vendedor.
Foi de Little Richard o seu primeiro disco de rock.
Elvis Presley chegou logo em seguida para dominar as paradas. Os rapazes passaram a imitar o cantor e até passavam graxa de sapato nos cabelos pra fazer o topete ficar parecido com o de Elvis.
E foi nessa época, final dos anos 50, que começou uma febre entre os jovens, que era a de formar um conjunto próprio de rock and roll, aquele Rock primitivo mesmo.
Renato Barros sempre gostou muito de futebol e certo dia um amigo do Sr. Ermírio Barros, seu pai, disse que queria levá-lo para ser sócio do Vasco da Gama.
E assim este amigo chamado Francisco e Renato foram até a Sede do Vasco na Avenida Rio Branco, Renato tornou-se sócio e tal, e na volta pra casa, como vinham a pé, passaram pela Praça Mauá e lá Renato viu uma grande fila de jovens em frente a Rádio Mayrink Veiga. Renato era ouvinte da rádio e se interessou em saber do que se tratava. Perguntou a uma pessoa da fila, que lhe explicou que era para se fazer inscrições para o programa “Hoje é Dia de Rock”.
Conversei com o senhor Francisco e pedi a ele que me esperasse por que eu ia entrar na fila. O produtor do programa era Jair de Taumaturgo e para fazer a inscrição eles me perguntaram qual era o nome do meu conjunto. Como eu não tinha nenhum lembrei-me do bloco de carnaval que havia no meu bairro da Piedade e coloquei na ficha, “Bacaninhas do Rock da Piedade”.
Chegando em sua casa, Renato contou a novidade e chamou seus outros dois irmãos, Paulo Cezar e Edson, para se juntarem a ele na formação de um conjunto.
Sua mãe fez as roupas pra irem todos vestidos iguais e lá foram eles participar do programa “Hoje é Dia de Rock” na Rádio Mayrink Veiga, fazendo mímica.
A apresentação foi um fracasso e os irmãos levaram a maior vaia!
Havia na Rádio Mayrink Veiga este programa de auditório chamado “Hoje é dia de Rock” e lá era comum se inscreverem para fazer mímica, por que quem cantava de verdade naquela época não era muito valorizado; a onda era mesmo fazer mímica.
O programa era comandado pelo Disk Jockey Jair de Taumaturgo e tinha uma audiência muito significativa, tanto que a vaia que levaram ressoou por muito tempo em seus ouvidos.
Porém foi aquela vaia que fez com que tivessem novo objetivo e os rapazes não desistiram e se empenharam para darem a volta por cima.
Após a apresentação desastrosa, os irmãos passaram a se dedicar à música ao vivo.
Passavam horas trancados, aperfeiçoando a técnica em seus instrumentos. Paulo Cezar, por exemplo, começou tocando piano com dois dedos, e posteriormente, percebeu que seu negócio era o contrabaixo.
Até aí não havia sido formado um conjunto, e haviam adotado o nome de “Bacaninhas do Rock da Piedade”, numa alusão ao bairro em que foram criados no Rio de Janeiro. Logo se juntaram aos irmãos Barros os amigos Euclides de Paula (guitarrista), Gélson Moraes (baterista) e o saxofonista Roberto Simonal (irmão do cantor Wilson Simonal).
Três meses depois daquela desastrosa apresentação, Renato voltou a entrar na fila para fazer nova inscrição, desta vez para tocarem ao vivo, não mais para fazer mímica e tocaram “Be-bop-a-Lula”, uma música gravada pela primeira vez em 1956 por Gene Vincent and His Blue Caps. Tocaram e cantaram a música de Gene Vincent, mas com um arranjo dos Everly Brothers, utilizando duas vozes, Paulo Cezar Barros (que antes tocava piano) e Ed Wilson. A novidade fez um grande sucesso, pois nenhum grupo no Brasil fazia aquilo.
Foi a partir daí que Paulo Cezar Barros deixou o piano e passou a ser o contrabaixista do conjunto.
A apresentação foi um sucesso e a mesma intensidade das vaias foi agora em aplausos. O único senão foi que Jair de Taumaturgo pediu para que trocassem o nome, que ainda era Bacaninhas do Rock da Piedade. Perguntou a Renato, “qual é o seu nome?” Renato respondeu e aí começaram as sugestões: Renato e Seus Cometas, Renato e “seus alguma coisa”, até que ao ouvir a sugestão “Renato e Seus Blue Caps”, pois havia um grupo fazendo sucesso chamado Gene Vincent and His Blue Caps, ele gostou da sugestão e todos aceitaram. Estava assim definido o nome do conjunto.
Já com o nome de Renato e Seus Blue Caps, inspirado em Gene Vincent, o grupo se apresentou no mesmo programa, tocando e cantando “Be-bop-a-lula” e obteve o primeiro lugar da semana e posteriormente, o prêmio de melhor do mês.
O grande lance era vencer o concurso e ir tocar no programa de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e já saíram do programa direto para se apresentarem lá. Receberam uma maquilagem no rosto e tomaram o ônibus em direção ao programa.
Renato sempre se destacava pelo seu carisma, e além do talento, chamava atenção também pela beleza e encantava a todos.
Foi assim que durante a apresentação no programa do Chacrinha, estava presente o Diretor Geral da Copacabana Discos, Nazareno de Brito, que se interessou por eles e sugeriu realizarem um disco a três. Fizeram parte do LP de 1962 com Renato e Seus Blue Caps os artistas Reynaldo Rayol e Cleide Alves e cada um deles colocaram 04 músicas.
Em 1960 gravaram o primeiro disco de 78 rotações, pela Gravadora Ciclone, em que acompanhavam o grupo vocal “Os Adolescentes”.
No ano seguinte, gravaram com Tony Billy, pela mesma etiqueta, a Ciclone.
Nesse período Gelson deixou o conjunto e Claudio Caribé entrou no grupo para ser o baterista em seu lugar.
Após a participação no programa do Chacrinha na TV Tupi, foram contratados pela Copacabana Discos, onde lançaram dois 78 rotações e dois LPs: em 1962 (Twist) e 1963, sendo que o estreante Toni foi o baterista neste segundo LP.
O disco Twist de 1962 não aconteceu e logo depois eles conheceram Erasmo e Roberto Carlos, começaram a se apresentar em circos e ensaiavam sempre na casa deles na Piedade. Costumavam aparecer para os ensaios: Roberto Carlos, Erasmo Esteves, Roberto Livi, e muitos outros.
No ano de 1962 Ed Wilson saiu para fazer carreira solo e em seu lugar entrou Erasmo.
Cid Rodrigues Chaves morava em Campo Grande e iniciou sua carreira artística no começo dos anos 1960 atuando na banda The Silvery Boys, do bairro carioca de Campo Grande, ao lado dos primos Paulinho e Zezinho.
Roberto Carlos cogitava formar uma banda própria e convidou Cid para fazer parte dela. Porém Roberto não teve sucesso em seu intento e não deu em nada, por que não havia tanto trabalho e ele continuou sendo acompanhado por Renato e Seus Blue Caps.
Em 1963, durante um show na cidade de Angra dos Reis no Rio de Janeiro, conheceu o baixista Paulo Cezar Barros que o convidou a ingressar no conjunto Renato e Seus Blue Caps e a partir de 1964 começou a integrar o conjunto, onde permanece até os dias de hoje.
O próprio Paulo César Barros conta como tudo aconteceu:
“Eu fui convidado pelo Gelson, que não fazia parte dos Blue Caps nessa ocasião, para fazer um baile em Angra dos Reis em meados de 1963 e esse conjunto em questão foi formado às pressas, eu não conhecia ninguém a não ser o Gelson e o Cid era um dos saxofonistas dessa banda (eram dois saxs) e ao conhecer o Cid fiz-lhe o convite para entrar no Renato e Seus Blue Caps e ele aceitou de imediato. E assim foi, o coloquei na banda e até hoje faz parte dela.”
Os Beatles chegaram ao conhecimento de Renato através de um amigo dele chamado Aurélio, que tinha acesso às músicas antes de elas chegarem ao Brasil.
Os Beatles tiveram origem no Skiffle e no Rock e inovaram, fazendo o gênero pop rock, pois todos do conjunto cantavam, além de tocarem. Renato e Seus Blue Caps então descobriu que eles poderiam fazer isso também e começaram a dividir os vocais entre os integrantes.
Certo dia Carlos Imperial mostrou um disco para Renato com uma música nova que ele não conhecia, de uma banda que ele nunca tinha ouvido falar e pediu que ele aprendesse a letra para tocar e cantar no dia seguinte, abrindo seu programa “Os Brotos Comandam”.
Renato então pensou como iria fazer aquilo se nem sabia falar inglês e teve a ideia de escrever uma letra em português, o que deu muito certo.
No final do programa Imperial foi se encontrar com Renato que estava em um barzinho próximo à Rádio, chegou com uma pilha de papel nas mãos dizendo ao Renato que tudo aquilo era pedido para que eles tocassem de novo a música.
Renato Barros passou a fazer muitas versões mas depois aos poucos começou a criar um estilo próprio e já no quinto LP da banda as composições próprias tomaram o lugar das versões…

CAPÍTULO XVI – CONVERSAS COM RENATO

Conversando com Renato Barros em 01 de outubro de 2018, disse a ele que algumas pessoas me questionam por eu publicar reportagens sobre a banda, dizendo que Renato e Seus Blue Caps não é oriunda da Jovem Guarda, e que é sim, uma Banda oriunda do Rock, dos anos 60 e que continua em atividade e fazendo sucesso até os dias de hoje, muito embora as pessoas insistam em relacionar a banda ainda hoje à Jovem Guarda. Disse que eu gostaria que ele mesmo fizesse um esclarecimento sobre este “jargão” pelo qual sua banda é conhecida, ou seja, “banda da Jovem Guarda”, explicando para o seu público como ele se sente com relação a isso.

E assim tivemos um esclarecimento histórico!

Renato e Seus Blue Caps não é uma banda da Jovem Guarda, mas sim dos anos 60. Se não fosse pelo sucesso de “Menina Linda”, talvez nós nem tivéssemos participado do programa.
Essas afirmativas ficam para a Historia e eu faço questão de esclarecer. Renato e Seus Blue Caps já foi tão deixado de lado, é só prestar atenção nas matérias que falam de Jovem Guarda, em vídeos sobre a Jovem Guarda espalhados pela Internet, onde nós não somos nem citados. Eu dou certa razão pra isso, pois a visão do público é uma e a visão profissional é outra. Tem gente que é apaixonada pela Jovem Guarda, eu respeito, agora eu ser obrigado a concordar com coisas que não são verdadeiras, isso eu não sou, então tenho que informar. Quem quiser ficar com raiva de mim, vai ficar, o que eu posso fazer? Mas esta não é uma opinião unânime da banda, esta é uma opinião minha e eu acho que tenho razão.
Eu parto do princípio de que a Jovem Guarda foi um trio. Eu queria deixar bem claro que não tenho nada contra o Roberto Carlos, basicamente tivemos um início juntos, o Erasmo também, pois participou da banda, é meu amigo e tal. A Wanderléa é uma pessoa que eu gosto muito. Mas quem estiver lendo aqui há de concordar que o programa Jovem Guarda da TV Record teve três pessoas só. Roberto, Erasmo e Wanderléa. O resto é o resto. Veja bem, esta é a minha opinião profissional, por que eu não tenho culpa se a maioria daquele pessoal não está mais no mercado.
Renato e Seus Blue Caps nunca esteve tão bem no mercado brasileiro como está hoje, e me perdoem a falta de modéstia, mas desde aquela época eu sabia das reais possibilidades de cada um, eu sabia do talento de cada um, e eu sabia que Renato e Seus Blue Caps esbanjava talento, modéstia à parte, peço desculpas de novo, mas esbanjava talento e isso não era bem acolhido lá no seio do programa Jovem Guarda.
A verdade é pra ser dita, então todos se baseavam em Roberto, Erasmo e Wanderléa, com muita justiça, mas isso não me obriga a achar que era certo, pois a coisa não era bem assim…
Renato e Seus Blue Caps teve uma historia no tocante à venda de discos, foi sempre um grande vendedor de discos da CBS, vendeu sempre muitos LPs, era primeiro lugar, era segundo lugar e só perdia para o Roberto Carlos de vez em quando e muitas vezes nós passávamos a vendagem de discos. Eu sei por que eu trabalhava junto à Presidência da CBS, eu era produtor, então eu tinha acesso aos números. Mas quando a gente chegava aos programas e na imprensa, isso não se refletia. A gente ficava sempre escondidinho, ficava de lado. As pessoas que não sabem como é o meio artístico, não podem aquilatar. Nós passamos por poucas e boas por causa desse negócio de deixar pra lá, dizendo, não vamos nos importar com esses caras não. Eu me refiro à imprensa da época. Com isso Renato e Seus Blue Caps ficou escondido, nós passamos por momentos difíceis no tocante a reconhecimento.
Um exemplo: se chamavam os colegas pra fazer uma matéria para alguma revista, Renato e Seus Blue Caps nunca estava incluído na matéria. Diziam, ah, vamos fazer com Roberto, Erasmo e Wanderléa. Muito legal, muito justo, mas eu não concordava que Renato e Seus Blue Caps fosse resto, resto de um programa do qual, é bom que o público saiba disso, nós pedimos rescisão ainda no auge de seu sucesso, justamente por que nós nos sentíamos tão mal quando íamos naquele programa, não pelo público do Teatro Record, que ia ao delírio com a gente, mas pelos próprios colegas, pois a gente sentia que não éramos chegados a eles.
A coisa ficou tão séria que um dia nós tivemos a hombridade e a coragem de pedir rescisão do nosso contrato. E olha que aquele programa tinha uma audiência fantástica, no Estado de São Paulo então era líder total de audiência e exagerando um pouquinho, qualquer artista até pagaria do seu bolso pra participar daquilo. E nós tivemos a hombridade e a coragem de pedir rescisão do contrato com a TV Record no meio do caminho. Nós saímos do barco antes.
As pessoas não sabem dessas coisas, falam sem conhecimento de causa e eu acho que é necessário, nem que seja agora, depois de tanto tempo, que eu faça este esclarecimento. Eu estou achando que estou falando isso muito tarde, por que eu não quis falar sobre essas coisas antes, por uma questão de carinho, de amizade pelos colegas que fizeram parte daquele programa e pelo próprio público que passou a gostar e gostam daquelas coisas da Jovem Guarda e eu estou deixando pra falar agora, por que sobrou muito pouca gente neste mercado que tem o carinho do público. O reconhecimento que não tivemos naquela época, está vindo agora no final (risos).
A gente graças a Deus tem um trabalho muito digno, muito correto, a gente tem uma coisa que poucos artistas têm que é o respeito. Nós respeitamos demais o nosso público, eu chego a ser chato, o pessoal da banda até me acha muito chato, mas eu tenho mesmo um respeito muito grande pelo nosso público, sou muito grato a esse pessoal que continua nos prestigiando até hoje depois de tanto tempo, ininterruptamente, então eu tenho muito respeito, mas ao mesmo tempo penso que é um reconhecimento por que a gente sempre dá o melhor de nós. Quando a gente pisa no palco, a gente dá o melhor sempre por que a gente considera que este público merece e nós temos uma preocupação também pelo público mais jovem, que nem viveu a época mas vai lá saber como é, querendo saber como é aquele pessoal que fazia o programa Jovem Guarda, então nós fazemos o melhor sempre , eu acho até que colaborando para eternizar o prestígio do programa, então a gente dá sempre o nosso melhor.
A gente sabe que tem pessoas que não admitem isso, então eu não posso fazer nada, mas o programa Jovem Guarda foi calcado em cima de três pessoas: Roberto, Erasmo e Wanderléa.
Não tenho nada contra isso, mas figurar de resto também não. Eu não quero ser resto da Jovem Guarda. Ali ficou o rei, o príncipe e a princesa. Quem não está entre os três, é súdito, soldadinho. A maioria das pessoas do Jovem Guarda aceitou essa condição, eu não aceitei. Preferi vencer de outra forma, sem ficar dependendo do que Roberto Carlos falava, do que Roberto Carlos mandava, por que nós podemos andar com nossas próprias pernas e foi o que nós fizemos, enquanto muitos ficaram esperando, sabe, teve até colegas que eu não vou citar os nomes mas que chegaram pra mim dizendo: _ ah! esse Roberto Carlos é um “FDP”; e eu perguntei: _ mas por que? _Ah! Ele não ajuda os colegas…
Mas qual é a obrigação que o Roberto tem em ajudar os colegas? O cara tá cuidando da vida dele e cada um de nós tem que tocar a sua vida.
Então tem colegas que falam hoje isso e é justo. Mas como eu achava que Renato e Seus Blue Caps não precisava de ajuda, por que a gente tinha pernas pra caminhar, então a gente não fez parte dessa corte.

Mas voltando ao assunto da saída, quando a gente sentiu que não estava sendo prestigiado dentro do próprio programa, nós tomamos a atitude de pedir a rescisão. Eu me lembro como se fosse hoje, o Marcos Lázaro, que era um empresário, Diretor Geral Artístico da Record, dos Festivais da Record, do programa Jovem Guarda, era um argentino, e quando eu falei pra ele que ia pedir rescisão, ele levou um susto, por que era inadmissível que um artista na época pedisse rescisão de um programa com tanta audiência. Mas a gente pediu, parece que estávamos adivinhando, e as pessoas hoje não têm a menor ideia disso que aconteceu.

Outra coisa que as pessoas não sabem, quando teve o Festival da Canção na Record, foi aquele festival em que o Jair Rodrigues venceu com a música “Disparada”, Marcos Lázaro havia me chamado em sua sala fazendo questão que Renato e Seus Blue Caps participasse de qualquer maneira. E eu falei não, não, não, Sr. Marcos, nós não vamos participar disso não por que não é a nossa praia. Acho que Roberto Carlos participou, foi legal e tal.

Então as pessoas não sabem a luta que foi, os tantos dissabores pelos quais a gente teve que passar nessa vida, e não é que eu seja rancoroso, eu respeito meus colegas, adoro o Roberto, sou fã e reconheço a carreira, o talento dele, afinal de contas nós gravávamos juntos, cansei de tocar guitarra nos discos dele, Erasmo, então, foi até integrante da banda, Wanderléa, uma amiga querida que eu gosto muito até hoje, mas isso tudo não me obriga a não reconhecer o que aconteceu. Nós não tivemos o menor prestígio junto aos próprios colegas. Nunca tivemos, e eu não tenho raiva de ninguém, mas então agora, deixem a gente sozinho mesmo, nós sempre fomos sozinhos e continuaremos sozinhos.
Roberto Carlos, por exemplo, nem cita mais a Jovem Guarda. Ele é inteligentíssimo, não conseguiu ser o que é à toa, é uma pessoa de uma inteligência fantástica, e já nem quer ouvir falar em Jovem Guarda faz muito tempo. Quando ele mudou aquele estilo dele para canções mais românticas, se não me engano em 1969 ou 1970, Roberto Carlos saltou do barco da Jovem Guarda. Mas não é por que ele seja ingrato, não. Era por que ele sabia que tinha que partir pra outro lance, coisas mais sérias.
Erasmo também saiu do barco, inclusive em minha opinião, um pouco tarde, mas mesmo assim saiu e fez sucesso na época com a música “Mulher”, “Sentado à beira do Caminho”.
A Wanderléa tentou também sair do barco da Jovem Guarda, ela fez um disco com um excelente produtor, então todo mundo tentou se desvincular através do disco, a gravadora trabalhando com mais força em cima da mudança.
Renato e Seus Blue Caps não pensou desta forma, pois nós pensamos que a realidade não é o disco. Então por isso que Renato e Seus Blue Caps quase não grava discos, por que teríamos que escolher entre o disco e o Show, então nós preferimos investir no Show, que pra nós é a realidade.

Enquanto muita gente gravava DVD, inclusive nós recebemos cinco convites diferentes pra gravarmos também um DVD, não aceitamos nenhum, por que a gente achava que não daria certo. Cada proposta era diferente, botaram a gente até numa fazenda, com os bois, cavalos, então eu disse, a gente não é country, essa não é a nossa praia, não tem nada a ver a gente cantar em cima de um cavalo, e outras coisas bem estúpidas assim.

Conclusão: Renato e Seus Blue Caps ficou sem DVD!

Com isso, nosso público foi quem saiu perdendo, mas agora com a Internet, Youtube e tudo o mais, todo mundo vê tudo, nem precisa tanto.

Mas então é bom esclarecer, por que quando eu falo que Renato e Seus Blue Caps não é da Jovem guarda, é por que não é mesmo.

Renato e Seus Blue Caps começou em 1959 e é tida hoje como a banda de Rock mais antiga do mundo. A Jovem Guarda, o programa que deu origem ao movimento da Jovem Guarda, só veio aparecer em 1965, ou seja, seis anos depois.
Então nós só participamos do programa Jovem Guarda, eu vou repetir, por que nós gravamos uma música em 1964, era uma versão da música dos Beatles chamada “I Should Have Known Better”, e essa música estourou. Em 1965, enquanto essa música estava estourada nas paradas de sucesso (a música era “Menina Linda”), é que começaram a cogitar sobre o programa Jovem Guarda lá em São Paulo, no Teatro Record, foi quando convidaram os artistas cariocas de Rock. Roberto Carlos, que foi o apresentador do programa, Erasmo, que era o parceiro de Roberto Carlos e Wanderléa, que era a princesinha.
Muito bem, aí levaram os Golden Boys, muito merecidamente, adoro os Golden Boys, levaram também o Trio Esperança, e deixaram Renato e Seus Blue Caps de lado. Justamente a banda que ralava junto com Roberto Carlos, ralava com Erasmo, pois eu cansava de tocar guitarra, Paulo Cezar contrabaixo, acompanhando Roberto Carlos em circos, antigamente a gente se apresentava muito em circos, então no final de tudo nós levamos uma boa banana, por que levaram todo mundo e esqueceram a gente…
E como se não bastasse, além de terem esquecido Renato e Seus Blue Caps, ficou um clima estranho, sabe quando você vai a uma festa onde não foi convidado e fica todo mundo te olhando estranho? Eu me sentia assim, numa festa sem ter sido convidado. A gente sentia aquele clima pesado no ar. Por isso a atitude mais digna que nós tivemos foi a de pedir rescisão. E a gente saiu.

Acho que muitos colegas deveriam ter feito isso também, mas preferiram ser súditos.
Eu agora estou contando esses fatos, não estou faltando com o respeito a ninguém, repito que sou fã e amigo de Roberto Carlos, gosto dele à beça, ele gravou cinco músicas minhas, numa demonstração de carinho, Erasmo nem preciso dizer, por que é um caro que admiro muito e a Wanderléa tenho por ela uma amizade tão bacana, acho a Wanderléa um caráter fantástico da Jovem Guarda, pra mim ainda é uma menina, enfim não tenho raiva de ninguém, agora querer inserir Renato e Seus blue Caps como se fosse oriundo da Jovem Guarda, aí não!

Eu sempre questiono quando a pessoa diz que é fã e pergunto: mas é fã da Jovem Guarda ou de Renato e Seus Blue Caps?
Por que tem uma diferença. O fã da Jovem Guarda não admite que você faça nada diferente, nada que fuja daquilo que foi a Jovem Guarda.
Eu explico: nós estivemos recentemente em Fortaleza fazendo um Show, e nos shows a gente faz certas coisas que ninguém faz. Quando chega o momento autoral, que é uma das partes do show, se eu for homenagear o Roberto Carlos ou o Erasmo, ótimo, mas eu vou ficar no meu quadrado. Então o que eu faço? Eu homenageio o Tom Jobim, que é fora do nosso estilo. E por que não oferecer este momento ao público, só por que Tom Jobim não é da Jovem Guarda?
Aí teve uma pessoa lá em Fortaleza que reclamou, dizendo que havia ido lá pra ouvir Jovem Guarda e não Tom Jobim, ou bossa nova.
Uma pessoa que não gosta de Tom Jobim, vai gostar de quem, não é?
Então a gente tem esse diferencial, mas sempre tem entre mil pessoas, um que demonstra ter falta de educação e reclama disso. Então o pessoal que é fã da Jovem Guarda é fiel somente a um tipo de coisa. E o nosso show é todo voltado à época da Jovem guarda, não é da Jovem Guarda especificamente, melhor dizendo, é dos anos 60, pois engloba tudo, incluindo as músicas internacionais e a bossa nova.
A gente canta “Eu sei que vou te amar”, de Tom e Vinícius, no sertão do Ceará, no sertão da Paraíba, e a plateia gosta e canta com a gente.

Então esta é a historia de Renato e Seus Blue Caps, sempre respeitando seus limites, a gente não tem fronteiras. É claro que 95% do nosso Show é feito com músicas nossas, mas a gente sempre coloca um bônus a mais, por que a gente sabe que as pessoas que vão ao show gostam das nossas músicas mas gostam de outras coisas também. Nosso intuito é agradar nosso público levando músicas boas, de alta qualidade, como Hotel Califórnia, por exemplo, de altíssima qualidade, até pouco tempo atrás eu também cantava “Smile”, de Charles Chaplin, por que eu acho que música é cultura, sabe? Então se você vai cantar no sertão da Paraíba, por exemplo, e as pessoas não conhecem, eu penso que abre uma porta para que elas conheçam. Eu só não consigo cantar Funk, mas o que eu posso fazer, não é?

Então é isso, não fiquem com raiva de mim, mas só quem viveu a época e passou pelas coisas que nós passamos é que sabe.
Vocês que estão lendo aqui estas minhas memórias, que é a verdadeira historia de Renato e Seus Blue Caps, façam um julgamento. Coloquem-se no nosso lugar e vocês vão entender perfeitamente como eu me sinto.

Atualmente eu estou muito feliz com o nosso trabalho, nosso show está muito elogiado no Brasil inteiro, de norte a sul. Quando você faz sucesso nos extremos, é por que o negócio está certo, então a gente vai para o Rio Grande do Sul, na fronteira, o show é um sucesso, aí você vai lá para o Amazonas, o show é sucesso, então eu, pra ser sincero mesmo, estou muito feliz com o nosso trabalho, espero continuar tendo essa luz de Deus que Ele nos dá, espero continuar merecendo essa luz, tanto a luz que eu recebi quando pedi rescisão do programa Jovem Guarda, essa luz que continua até hoje, sabe, as coisas acontecem pra gente assim do nada, vêm umas intuições, e até agora tudo dando certo, graças a Deus e é assim que eu vivo.

“Young” 60 anos! A historia do Selo e sua importância no cenário da música brasileira.

HOMENAGEM AOS 60 ANOS DA YOUNG!

Um dos movimentos artísticos mais negligenciados e esquecidos por historiadores da música popular no Brasil foi aquele criado por Miguel Vaccaro Netto em 1959 em São Paulo, e que neste ano de 2019 faz 60 anos.

Trata-se do selo independente YOUNG, que em sua breve existência (1959 a1962), foi responsável pela revelação de artistas que tiveram grande importância para a solidificação da música dirigida ao público jovem do Brasil.

Quem conta esta historia é ALFIE SOARES, uma pessoa que esteve na Young desde seu começo até o final!

Enrique Lebendiger era o presidente fundador da Editora Fermata do Brasil e tornou-se sócio de Miguel Vaccaro Neto na gravadora Young. Com enormes conexões internacionais, adquiriu os direitos de distribuição para o Brasil e Argentina de grande parte das músicas que faziam parte da explosão do Rock and Roll nos Estados Unidos, a partir de 1955 até os primeiros anos da década de 60.

O grande problema enfrentado por Lebendiger era a limitação de veículos para seu imenso catálogo.
Em 1958 tínhamos quatro grandes gravadoras no Brasil, a saber, RCA Victor, Odeon, Columbia e Philips. Todas elas dependentes das matrizes americanas. RCA possuía Elvis Presley, Neil Sedaka, Johnny Restivo e outros. Odeon dependia da EMI/Capitol para ter Little Richard, Frankie Avalon e outros. O material que Lebendiger possuía era, em sua esmagadora maioria, proveniente de selos independentes que nasciam a cada dez minutos nos EUA. E nenhuma gravadora os lançava no Brasil. Veio então a ideia de gravar seu catálogo com artistas brasileiros. Não em versões, mas sim em inglês.

Miguel Vaccaro Netto era os disc-joquei paulista que tinha a maior audiência entre os jovens, através de seu programa Disque-Disco, transmitido pela antiga Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan. Era sua especialidade apresentar os grandes sucessos internacionais importados, inéditos por aqui. Ele seria o veículo ideal para captar novos talentos que buscavam seu lugar ao sol, ansiosos para ser um novo Elvis, ou Tony Campello, Carlos Gonzaga, Sergio Murilo, Celly Campello, Wilson Miranda, Lana Bittencourt, entre outros que eram os artistas que lançavam músicas internacionais em versões para o português.

Bastaram dois ou três programas para termos nos corredores da Radio Panamericana um desfile de jovens, rapazes e garotas, candidatando-se para os testes. Outros foram vistos ou ouvidos em outros veículos.
The Avalons apresentaram-se cantando Bye Bye Love, dos Everly Brothers, em um programa da antiga TV Paulista (hoje Globo) produzido por David Conde.
Foram localizados e contratados.
Hamilton Di Giorgio cantou Peggy Sue, de Buddy Holly, no programa de Domingos Paulo Mamone, o Minguinho, parceiro do grande Archimedes Messina, na antiga Radio São Paulo.
The Avalons e Hamilton Di Giorgio, juntamente com Regiane (Regina Celia), formaram o trio de primeira linha do selo YOUNG.
O gupo The Avalons era formado pelos irmãos Dudu (guitarra) e Paulinho (bateria) com Daniel ao contra-baixo mais Solano e Passarinho (Nilton) nos vocais. Após as primeiras sessões de gravações, o asiático Bob foi incluído nos vocais do grupo.
Depois de um tempo, o trumpetista Masao juntou-se ao grupo.
Solano Ribeiro, ao deixar os Avalons, tornou-se um grande publicitário e foi o idealizador dos revolucionários festivais da Record, onde se revelaram Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina etc.
Daniel tornou-se o contrabaixo do excelente São Paulo Dixieland Band.

E o primeiro disco gravado pela YOUNG foi Valentina, “My Valentina”, com The Avalons.

Primeira gravação da cantora Regiane na Young em 1959.
Composição: (Neil Sedaka/Howard Greenfield)
https://youtu.be/re8SUFw7fT4

Regiane com The Avalons -Tum Ba Lov
https://youtu.be/cO0bQ5R8qog

Regiane & The Avalons – Frankie (Young 45-106) 1959

Regiane & The Avalons – To Know Him Is To Love Him (Young 78-101) 1958
https://youtu.be/Wu6bM-LGQLM

Nosso mundo, ao final dos anos 50, era bem maior do que é hoje. Uma correspondência levava dias para chegar ao seu destino. As fotos demoravam dias para serem reveladas. Os bondes atrapalhavam as principais ruas e avenidas de São Paulo.
Computadores, só em obras de ficção científica. Multimídia…. bem, Miguel Vaccaro Netto já exercitava multimídia em 1959. Produzia e apresentava seu Disque Disco na Rádio Panamericana (Jovem Pan), escrevia sua coluna sobre música para o jornal Última Hora, o jornal top da época. Oferecia consultas às gravadoras nos lançamentos de discos internacionais, escrevia contracapas de discos e, agora, com o Projeto Young, tornava-se diretor artístico e produtor fonográfico. Idealizou o layout do selo Young, cujo vermelho e branco destacava-se entre as etiquetas negras e sombrias das outras gravadoras. Contou com a colaboração de seu colega de redação no jornal, o cartunista Otavio, para criar vida e animação nas capas dos discos Young.

Seu grande mérito à frente da Young foi evitar contratar imitadores de artistas. Apostou no talento e poder de criatividade daqueles jovens que o buscavam para uma oportunidade. Seu ouvido apurado, seu conhecimento, seu olho clínico, foram fatores fundamentais para a criação de um elenco capaz de recriar no Brasil as variadas formas nas quais a nova onda mundial de música dirigida aos jovens era criada em seus países originais, principalmente Estados Unidos.
E, acima de tudo, dava condições para que estes jovens pudessem dar vazão aos seus próprios talentos como compositores.
Os Avalons puderam gravar três de suas próprias composições: All The Time (Solano Ribeiro), China Rock e Here Come The Avalons (Dudu). Com a contratação de Hamilton Di Giorgio,Vaccaro passou a contar com um intérprete que podia cobrir as bases criadas pelos “teen idols” tipo Bobby Rydell, bem como podia ser romântico e “soulful” como Sam Cooke. E, além de tudo isso, possuía o dom de compor como poucos. É de sua autoria o primeiro sucesso de Demetrius, um dos inúmeros talentos descobertos por Miguel Vaccaro Netto.

Demétrius – Hold me So Tight

Teenage Sonata – Hamilton Di Giorgio

A carreira e os talentos de Hamilton Di Giorgio já tiveram destaque aqui mesmo neste Blog.
Pouco teria para acrescentar. Apenas um comentário: Se Nureyev tivesse nascido no Brasil, jamais seria o gênio do balé que foi; se Pelé tivesse nascido nos Estados Unidos, jamais seria o melhor futebolista do mundo e, se Hamilton Di Giorgio tivesse nascido nos Estados Unidos, a música jamais o teria perdido para a informática.

E os talentos continuavam a chegar. Da Pompeia, e berço dos grupos de rock no Brasil, vieram The Rebels.

Os irmãos Benvenutti, Romeu (guitarra) e Lidio Jr.(bateria), ao lado de José Carlos (baixo), Gaspar (piano e vocais) e José Galli Jr (guitarra e vocais) formavam este excelente grupo.

O patriarca da família Benvenutti, Sr.Lidio, era o proprietário do famoso restaurante Papai. Um outro irmão, Mario, era um dos astros do cinema nacional na época (depois criou o restaurante Um, Dois, Feijão Com Arroz). O baterista Lidio Jr. tinha apenas treze anos. O chamávamos de Nenê, e foi assim que, alguns anos depois, ficou internacionalmente conhecido ao fazer parte do grupo The Clevers (Os Incríveis), agora como contrabaixista.
Galli Jr usou algumas vezes este nome, mas ficou nacionalmente conhecido como Prini Lorez, nome também criado por Vaccaro.
Romeu passou a construir guitarras, e garanto que uma porcentagem muito grande de guitarras construídas por ele já foi ouvida por quem acompanhou a evolução do rock no Brasil.

DING DONG DADDY (WANTS TO ROCK) – THE REBELS-1960

A família Young estava crescendo. Faltava uma irmãzinha. Ela veio e sua história será contada no próximo capítulo…

E aqui está ela, a irmãzinha Regiane, nome artístico de Regina Célia, e é ela mesma quem narra a sua historia…

Oi Lucinha, vamos lá:

Morava com minha família (meus pais e meu irmão Roberto, um ano mais velho que eu) no bairro da Aclimação / Cambuci em São Paulo e SEMPRE fui ligada em música e nos meus 12/13 anos estudando no Colégio Sagrada Família, senti que não poderia cantar, pois na escola eu destoava nos cânticos com voz grave e forte então passei a me calar.

Logo apareceu na televisão a Inezita Barroso cantando folclore e eu vi que daria pra eu cantar também; fui aprender violão (também era moda na época) com o Prof. Teotônio Pavão, pai do Albert Pavão, e me realizei e sobressaia; meu professor começou a fazer reuniões musicais em sua casa, depois em teatros e depois na TV, onde eu devo ter sido vista e o Miguel Vaccaro Netto chegou a minha casa; eu já tinha 17 anos nessa época.

Miguel nos explicou sobre o movimento à procura de jovens talentos e nos convidou a ir ao seu programa Disque Disco na Rádio Panamericana, de violão em punho, no dia seguinte.
Fomos eu e minha mãe, e eu acabei fazendo o programa todo, cantando vários gêneros musicais e o Miguel, por eu ser Regina Célia, já lançou um concurso solicitando opiniões para escolha de um nome artístico, sobre a Cantora Misteriosa, e isso foi por um tempo até que me batizaram de REGIANE. Já fui logo conhecendo o pessoal da Young, sempre com mãe ou pai do lado.

Gravei o primeiro disco, um 78RPM, com Fallin’ e To Know Him Is To Love Him, e logo depois , outro com Frankie e Tum-Ba-Love, conhecendo a família Young, fazendo apresentações em TV e já começando a ser bem assediada (e me assustando) e os meninos Amilton, Gato, Nick Savoia, The Avalons’, The Beverly’s (Oi Amélia), The Teenagers’, The Rebels’ (o Nenê tinha 12 anos e tocava bateria), Demetrius, Dori Angiolella, Marcos Roberto, Antonio Claudio, Carlos Davi, cuidado de mim como irmã mesmo, junto com o Miguel. Viramos uma família.

regiane-capa-de-disco

Posteriormente, eu e todos da Young gravamos num dia só. Mil horas de gravação no Estúdio da Continental, onde nos divertimos muito. Eu, o EP The Beautiful Teenager, com as 4 músicas, a saber: O Dio Mio, Broken Hearted Melody, Willie Boy e I’m Yours, estas com violinos (Maestro Slon Spalla do Teatro Municipal), Edgard, guitarra, Bolão no sax; gostei bastante.

Com “I’m Yours” ganhei o Troféu Chico Viola, da TV Record, como Revelação do Ano e ainda um contrato com a TV Record, onde tive o Programa ELE E ELA junto com Walter Santos além de outras honrarias de revistas.

Conheci Didi com quem me casei em 63, ciumeira geral da irmandade.
Fui representar o Brasil em Punta Del Este, fiz toda sorte de programas de classe da Record tipo Astros do Disco, Show 713 que era o canal 7 com o a TV RIO canal 13 (que era o Fantástico de hoje) onde cantei, por várias vezes, músicas da Judy Garland a pedidos do Sr. Paulinho Machado de Carvalho, Phebo Faz Degrau Para o Sucesso, muitas vezes o Programa da Celly Campello, porém nunca perdendo de vista os meus irmãozinhos queridos. Não gostei do ambiente da TV, era muito diferente do meu meio.
Recebi convites de todo tipo, para filmes, boate e eu, hein???? Recusei tudo brava!!!
Eu estava liberada da Young que acho já estava parando (Não liberada dos amigos e nem do Vaccaro); eu fui convidada pela Gravadora Odeon para gravar Emotions da Brenda Lee em versão e O Il Nostro Concerto lindíssima com um arranjo idem.
Conclusão:

Coloquei a voz no Emotions e em seguida mandei o meu convite de casamento, após verificar bem, que eu não tinha, na época, estrutura psicológica para o ambiente artístico, recusando convites internacionais, (fizemos a primeira parte, eu Cauby Peixoto, Tito Madi etc…..de todos os especiais internacionais da Record) e eu me lembro da Caterina Valente vir de robe na coxia me ouvir, e foram muitos convites, todos recusados.

Casei-me com o Didi, cujo nome era Warrington Wacked, com quem tive 4 filhos, a saber:
Warrington Wacked Junior, 52 anos, advogado, casado e tem 3 filhos de 26, 21 e 18 anos respectivamente;
Wellington Bellocchi Wacked , 51 anos, dentista, casado, uma filha de 7 anos;
Wanessa Bellocchi Wacked , 49 anos, médica neonatologista, casada , sem filhos por opção;
Wallingson Bellocchi Wacked, 46 anos, professor de Educação Física, casado, tem 1 filha de 9 anos.
Fiquei viúva em 2005 e sempre morei só.
Moro em Jundiaí há 45 anos , cidade de onde orgulhosamente recebi o título de “Cidadã Jundiaiense”.

Em tempo: eu nunca perdi o contato com Vaccaro e outros.

Em 1997, com meu marido na Presidência do Lions, em um jantar onde estávamos estava tocando um bom tecladista de nome Ewerton Pernambuco e a pedidos fui cantar, e tendo ele uma escola de música convidou-me para cantar, com quem cantei por 19 anos em eventos fechados, tendo gravado nesse tempo só um bolero, do qual fiz uma cópia para cada filho e fim.
Ao longo de minha vida fiz vários cursos de Técnica Vocal e Canto e, também ministrei aula de canto popular nesses 19 anos.
Meu registro vocal é de Contralto Tenorina, estou com 75 anos, relativamente saudável, muito disposta, participante e ÀS SUAS ORDENS !!!

Bjossssss

Por Regina Célia Bellocchi Wacked, a Regiane, em 30 de novembro de 2016.

Quando a onda do Rock and Roll atravessou as barreiras raciais e sociais nos Estados Unidos, por volta de 1956, atingiu o grande universo dos adolescentes. Não apenas como um público consumidor, mas também como porta-vozes daquela geração.
Jovens cantores entre 13 e 17 anos passaram a ser os grandes astros da musica popular. A costa leste, principalmente entre a colônia italo-americana, contribuiu muito para a consumação deste fenômeno.
Frankie Avalon Fabian, Bobby Rydell, Bobby Darin, Frankie Valli e The Four Seasons, Dion e The Belmonts etc… eram os sonhos das meninas e a indústria, sempre atenta, passou a lançar os sonhos para os marmanjos.
A MGM trouxe Connie Francis, Buena Vista apresentou Anette Funicello, e Decca já possuía há algum tempo Brenda Lee.

No Brasil, sob a direção de Miguel Vaccaro Netto, a Young seguia a mesma linha. Buscava em jovens talentosos a matéria prima para a formação de seu elenco.

De sua mansão na Avenida Indianópolis veio Nick Savoia.

Nick Savóia

Nick Savóia

Filho de Arthur Sabóia, ex-prefeito de São Paulo (1932), Nick Savoia vinha com a experiência de ter passado algum tempo nos Estados Unidos. Acompanhado por sua banda The Scarletts, ele trouxe um toque de Broadway e uma maneira única de interpretação.
Vale ressaltar que a banda The Scarletts incluía em sua formação um naipe de metais, muito, mas muito antes de Blood, Sweat & Tears e Chicago.

Festa na casa de Nick Savóia no bairro do Sumaré em São Paulo - Da esquerda para a direita: Antonio Claudio (Danny Dallas) George Freedman, Miguel Vaccaro Netto, Regiane e Marcos Roberto.

Festa na casa de Nick Savóia no bairro do Sumaré em São Paulo – Da esquerda para a direita: Antonio Claudio (Danny Dallas) George Freedman, Miguel Vaccaro Netto, Regiane e Marcos Roberto.

Since you`ve been gone – Nick Savoia – 1959

Mack the knife (Moritat) – Nick Savoia – 1960

“TEEN IDOLS” DA YOUNG

A Young já contava com Hamilton Di Giorgio e Demetrius em seu elenco, porém a demanda para jovens cantores era imensa.
Contratado também foi Antonio Cláudio, dono de uma voz potente e uma presença de palco impressionante.
Ele veio acompanhado da Banda Jester Tigers, da qual fazia parte José Provetti, conhecido como Gato, que anos depois entraria para o famoso grupo idealizado e formado por Joe Primo, The Jet Black’s.

Antonio Cláudio (Danny Dallas) com The Jester Tigers

Antonio Cláudio (Danny Dallas) com The Jester Tigers

Antonio Cláudio depois gravou pela RGE como Danny Dallas e deixou a música para seguir a carreira de jurista.
É bem possível que tenhamos ouvido seu nome, recentemente, em assuntos referentes à justiça.
Carlos David foi outro jovem de boa aparência e bonita voz lançado pela Young por Vaccaro Neto. Carlos David seguia aquele padrão do “teen idol”, característica daquele final de década.
Gato, o guitarrista dos Jester Tigers, também podia cantar. E Vaccaro não deixou a oportunidade passar.

ANTONIO CLÁUDIO – Where Were you on our Wedding Day

CARLOS DAVID – The Angels Listened in

GATO – Kissin’ Time

GATO – What’d I Say

Entra em cena Regina Célia.

regiane

Acompanhando-se ao violão interpreta Maysa, do jeito que Maysa merecia ser interpretada. Canta o sucesso de Maria “Mecha Branca” Thereza, de repente canta algo em inglês e, ao sairmos da audição, Regina Célia tornou-se Regiane.

Voz educada, timbre bonito, musicalidade vibrante, Regiane, com seus belos olhos sorridentes, inesgotável senso de humor, e talento, muito talento, tornou-se nossa musa, e era protegida por cada um dos elementos ligados à Young, como todo bom irmão ciumento que se preza protege sua irmã.

Miguel Vaccaro havia encontrado na figura de Regiane a mescla da intérprete jovem e da intérprete tradicional.

Este blog já apresentou Regiane, acompanhada por The Avalons, em sua fase roqueira.

Apresentamos agora uma outra faceta dela…

I’m Yours – Regiane

Broken-Hearted Melody – Regiane.

Como era normal naqueles tempos primordiais da geração Baby Boomer, Regiane optou pela família em detrimento à carreira.

(Regina Célia faleceu em 26 de julho de 2017 em Jundiaí/SP)

Celly Campello tomaria a mesma decisão alguns anos depois.

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YOUNG: UMA HISTÓRIA – CAPÍTULO IV – PARTE A

Uma das contratações feitas por Miguel Vaccaro Netto que mais frutos rendeu foi a do grupo The Cupids.
Além da homogeneidade que apresentavam como grupo, os talentos e personalidades de alguns de seus membros haviam chegado para ficar e ajudar a fazer a história da Jovem Guarda e do show business em geral.
Lucy Perrier era a solista. Dona de uma voz cristalina, possuía também forte personalidade e uma figura carismática. Ao lado de Regiane formava uma dupla de cantoras, cada uma em seu estilo, que nenhuma gravadora possuía igual na época.

Kiss Me Honey, Honey Kiss Me – The Cupids.

Outra vantagem a favor dos Cupids era o fato de ter entre seus componentes dois garotões irreverentes, brincalhões, divertidos, além das boas figuras e dos talentos para cantar e compor.
Dori Angiolella, que ficaria conhecido como Dori Edson alguns anos depois, e Marcos Roberto, cuja sequência de trabalhos ultrapassou as fronteiras brasileiras, tornando-se conhecido em toda a América Latina, principalmente por seu hit “A Última Carta”.

Pela Young, Vaccaro ousou algo diferente: Lançou o primeiro disco dos Cupids e, no mesmo pacote de lançamentos, lançou outro disco com dois dos Cupids, Dori e Marcos, um de cada lado.
Dori gravou a tradicional música irlandesa “Danny Boy” em ritmo de Rock’n Roll, enquanto Marcos Roberto interpretava uma versão para a balada da peça clássica Liebstraum #3, de Franz Liszt, sob o título “I Love You, I Do”.

Danny Boy – Dori Angiolella

I Love You, I Do – Marcos Roberto

Dori Edson, Carlos Bandeira e Marcos Roberto

Dori Edson, Carlos Bandeira e Marcos Roberto

YOUNG: UMA HISTÓRIA – CAPÍTULO IV – PARTE B

A explosão do Rock and Roll em termos mundiais, deu ensejo para que as várias correntes musicais viessem à tona e tivessem uma exposição jamais antes conseguida. Já comentamos aqui como adolescentes, tipo Paul Anka e Neil Sedaka, para exemplificar, passaram a dominar uma fatia do mercado.
Outros gêneros musicais, aproveitando a onda, entraram de carona e passaram a ser ouvidos e apreciados por aquela nova geração de consumidores, os compradores de discos.
Do grupo folclórico vieram Jimmie Rodgers, The Wavers e Kingston Trio.
Da música country faziam sucesso Sonny James e Eddie Arnold entre outros.
Até Hollywood contribuiu com seus jovens atores, como Tab Hunter, Sal Mineo e Tony Perkins, que se aventuravam a cantar.
Os genuínos Rock and Rollers, como Little Richard e Chuck Berry, passaram a ter estranhas companhias nas listas de discos mais vendidos.

O gênero que melhor se saiu nesta salada musical, foi o que era formado por grupos vocais que seguiam a linha de atos como The Ink Spots e The Mills Brothers, que vinham desde os anos 40 criando escola e influenciando novos grupos.
Dai surgiram The Platters, The Coasters, The Five Satins, The Moonglows e tantos outros.
A indústria, sempre alerta, passou a criar grupos de jovens para não perder espaço. Daí, Dion & The Belmonts, The Mystics etc.
A abertura musical do programa Disque Disco, berço da Young, era Whispering Bells, com o grupo Del-Vickings, genuíno representante deste movimento chamado Doo Wop.

Oriundos da região de Penha, cinco jovens formavam o mais distinto grupo vocal do Brasil, o cultuado The Beverly’s. Pereira, Amélia, Wander, Mariano e Castro nada deviam, em aparência, harmonia e talento, aos melhores grupos vocais internacionais.
Levaram para a família Young não somente toda a simpatia e coleguismo, suas marcas registradas, mas também uma enorme contribuição artística, participando como background vocals para a grande maioria das produções da Young.
E, obviamente, The Beverly’s tiveram também seus próprios êxitos, alcançando o status de membros do Top 5 da gravadora.

Wander é o único integrante vivo e lançou um livro em janeiro de 2018.

Vander Loureiro na atualidade (2020)


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The Beverlys - Da esquerda para a direita Mariano, Pereira, Amelia, Castro e Wander

The Beverlys – Da esquerda para a direita Mariano, Pereira, Amelia, Castro e Wander

There Goes My Baby – The Beverlys

Dance With Me – The Beverlys

Representando a classe universitária, o grupo The Teenagers era formado por Carlos, Waltinho, Hermes, Toninho e Prandini.
Alguns anos mais tarde, após a saída de Prandini, tornaram-se atrações permanentes no programa “O Fino Da Bossa”, comandado por Elis Regina, agora sob o nome O Quarteto.

Mediterranean Moon – The Teenagers

The Book Of Love – The Teenagers

YOUNG: UMA HISTÓRIA – CAPÍTULO IV – PARTE C

O interior paulista e o gênero Doo Wop foram representados na Young pela cidade de Rio Claro, de onde vieram quatro jovens liderados pelo entusiasmado e idealista José Carlos, e que atendiam pelo nome de “The Youngs”.

Tiveram uma passagem breve, porém marcante.

The Ten Commandements Of Love – The Youngs

Come To Paradise – The Youngs

Por ora o elenco da Young estava completo.
Todas as correntes e tendências estavam cobertas por Miguel Vaccaro Netto.
Tudo já estava registrado em discos e as sessões de gravações tornaram-se históricas.

Neste período a Young utilizou-se de dois dos melhores estúdios de São Paulo.
Uma parte das gravações foram realizadas nos estúdios da RGE, de José Scatena. O engenheiro de som era o lendário Stelio Carlini, tio do músico Carlini, integrante do grupo Tutti Frutti, de Rita Lee, e também do famoso Made In Brasil.

Em outro estúdio no Largo da Misericórdia, propriedade da Continental, com a eficiência do engenheiro de som Ivani Soares, algo inédito iria acontecer…

Mas este será um assunto para nosso próximo capítulo!

YOUNG: UMA HISTÓRIA – Capítulo V

UMA SESSÃO DE GRAVAÇÃO INÉDITA

A jovem etiqueta Young era distribuída no território brasileiro pela equipe de vendas e distribuição da companhia RGE que, por sua vez, possuía um cast de artistas de muito sucesso e respeito, entre eles Maysa, Agostinho dos Santos e Roberto Luna.

Para formar um suplemento de vendas considerável, Miguel Vaccaro e Lebendiger decidiram utilizar todos os contratados em uma única sessão de gravação. Uma sessão de aproximadamente 48 horas ininterruptas.

Foi escolhido o final de semana prolongado da Páscoa de 1959 e o estúdio contratado foi o da Continental, no Largo Da Misericórdia em São Paulo.
O engenheiro de som responsável pela equipe de quatro outros técnicos que se revezariam naquela maratona musical foi o incansável e paciente Ivani Soares.

No dia 26 de Março de 1959, às 9 horas da manhã, começaram a chegar os músicos arregimentados por Waldemar Marchetti, o Corisco.

Primeiramente, foram gravados os play-backs da orquestra que acompanharia Regiane, Nick Savoia, Hamilton Di Giorgio e The Beverlys.
Os arranjos foram feitos pelo Maestro Elias Slon, spalla da Orquestra Sinfônica de São Paulo.

Maestro Slon trouxe para as gravações seu filho Claudio, um baterista com apenas 16 anos de idade.

Claudio Slon iria, alguns anos depois, ser o baterista dos grupos de Walter Wanderley e Sergio Mendes, e terminou sendo um músico respeitadíssimo e muito influente nos Estados Unidos, onde viveu por muitos anos.

Terminadas as gravações com a orquestra, começaram as gravações com os conjuntos.

The Avalons, The Rebels, The Jester Tigers, The Cupids e The Devils, estes acompanhando o excelente Demetrius, em seu disco de estreia, já focalizado neste blog.

Por fim, chegavam os cantores, desfilando seus talentos!

TEENAGE SONATA – HAMILTON DI GIORGIO

CRY – NICK SAVOIA

O DIO MIO – REGIANE

Mais de trinta artistas reunidos nas dependências de um estúdio, em um ambiente descontraído e jovial, totalmente sadio e com bons fluidos.
Cantores talentosos hand-clapping ou fazendo backing vocals em gravação de outro cantor, sugestões e ideias para melhorar desempenhos.
Tudo isso acontecia naquele final de semana mágico.

Alguns pares de anos depois, em um outro país, em uma outra cultura, o pessoal que formava o cast de uma pequena gravadora de Detroit chamada Motown, iria instintivamente repetir o que a Young havia feito na Páscoa de 1959.
Eles foram um pouco mais adiante, pois como disse antes, vinham de uma outra cultura, outro país. Não que sejam melhores ou piores. Apenas diferentes.

Esta sessão serviu para que The Avalons introduzissem Bob, um novo cantor que passaria a figurar ao lado de Solano e Nilton.

THE AVALONS – COME SOFTLY TO ME

No dia 29 de Março, Domingo de Páscoa, eu e Gato (José Provetti), o último a colocar voz em seus playbacks, saímos do estúdio às 8:30 da manhã, tomamos um café na Santa Theresa da Praça da Sé, e fomos cada um para sua casa.

Dormi até o meio dia da Segunda Feira.

YOUNG: UMA HISTÓRIA – Capítulo V (parte b)

Os discos lançados pela Young já estavam sendo vendidos e executados pelas rádios do Brasil.

Agora, faltava um palco para que o público pudesse sentir toda aquela vibração pessoalmente.

PALCO DA YOUNG… FUTURO PALCO DA JOVEM GUARDA!

A TV Record, parte da organização da qual fazia parte também a Rádio Panamericana, de onde Miguel Vaccaro Netto transmitia seu Disque Disco, havia recentemente inaugurado o seu Teatro Record, na Rua da Consolação, em São Paulo.

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Anterior ao Teatro Record, as atrações internacionais e programas especiais da emissora eram apresentados no Teatro Paramount da Rua Brigadeiro Luis Antonio.

Vaccaro viabilizou a transmissão de seu Disque Disco das quintas feiras diretamente do Teatro Record. Bastaram dois programas para que uma febre tomasse conta dos jovens paulistanos.

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A grande maioria dos ouvintes de Vaccaro era composta por frequentadores da Rua Augusta, das alunas do Colégio Des Oiseaux, dos estudantes do McKenzie e moradores dos Jardins. A localização do teatro, na Rua da Consolação, era perfeita.
E assim, os jovens paulistanos podiam ver de perto os artistas da Young que estavam despontando para o show business brasileiro.

Colégio Des Oiseaux

Colégio Des Oiseaux

DEMÉTRIUS – YOUNG AND IN LOVE

“Esta foi a minha primeira gravação – 1960.
Hold me So Tight foi o outro lado do 78rpm, ou seja, o outro lado do disco”.
(Demétrius, em 07/11/2016)

HOLD ME SO TIGHT – DEMETRIUS

ANTONIO CLÁUDIO – DREAM LOVER

A equipe do Teatro Record, principalmente seus administradores Paulo Charuto e Gaúcho (assim mesmo conhecidos e por nós chamados), mais Mirabeli (o diretor de palco) e o extraordinário historiador e profundo conhecedor da música brasileira Zuza Homem de Mello, que era na época o engenheiro de som do teatro, puderam ter uma ideia do que viriam a enfrentar no futuro, pois a explosão das quintas feiras através do Disque Disco ao vivo seria repetida seis anos depois com o programa Jovem Guarda, de Roberto Carlos.

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E não foi por acaso que Miguel Vaccaro Netto e os artistas que formavam o cast da Young, estavam junto a Brenda Lee, quando a Record iniciou sua investida internacional com atrações para o público jovem.

E este será o tema de nossa próxima conversa.

YOUNG: UMA HISTÓRIA – Capítulo VI

A YOUNG AO LADO DAS ATRAÇÕES INTERNACIONAIS

A grande magia do rádio é sua capacidade e poder de aguçar a imaginação de seus ouvintes.
Poucos radialistas souberam explorar este quesito como Miguel Vaccaro Netto.
Tanto na edição noturna de seu “Disque Disco” na Rádio Record quanto em sua edição diurna pela Rádio Panamericana, a criatividade de Vaccaro causava comentários, agitação e polêmicas entre a grande legião de ouvintes que o acompanhava.
Ele era o porta-voz daqueles jovens que faziam da Rua Augusta um fenômeno nacional e assim foi quando ele transformou uma morna procura por ingressos para os shows de Johnnie Ray em um enorme sucesso, apenas por criar expectativas para um sorteio de uma camisa vermelha do cantor.

Just Walking In The Rain – Johnnie Ray

Em Junho de 1958, Vaccaro voltou a provocar a curiosidade de seus ouvintes, inventando uma entrevista exclusiva e ao vivo com dois astros internacionais, a quem ele chamou de Cantores Misteriosos, e cujas gravações somente ele possuía.
Ao final do programa, com recordes de telefonemas e audiência, revelou que os artistas, um rapaz e uma garota, eram brasileiros e que aquelas eram suas primeiras gravações.
Estavam lançados, através do Disque Disco, os dois grandes pioneiros da música jovem no Brasil: Celly e Tony Campello!

Handsome Boy (Celly Campello)

Forgive Me (Tony Campello)

Uma das grandes sacadas de Vaccaro envolveu um nome que se tornaria reverenciado e respeitado em todo o mundo.
Brenda Lee foi apresentada ao público como uma garota prodígio que, aos treze anos, encantou o mundo com sua gravação de Jambalaya, de Hank Williams.

Miguel Vaccaro Netto, Brenda Lee e seu agente. Sentado ao fundo está Atílio Riccó, que anos mais tarde faria parte do corpo de diretores do núcleo de novelas da Globo.

Miguel Vaccaro Netto, Brenda Lee e seu agente.
Sentado ao fundo está Atílio Riccó, que anos mais tarde faria parte do corpo de diretores do núcleo de novelas da Globo.

Vaccaro resolveu executar em seu programa o disco em rotação alterada de 45 rpm para 33 1/3 rpm. Assim, Brenda Lee, com sua peculiar voz rouquenha, passou a soar como a de Louis Armstrong. E Vaccaro lançava a semente da dúvida sobre a real existência de Brenda. Isso somente ajudou a fazer de Brenda Lee uma campeã de vendagem no Brasil.

Jambalaya (Brenda Lee)

A direção da TV Record, quando contratou Brenda Lee para realizar uma semana de espetáculos em seu Teatro, não pensou duas vezes. Miguel Vaccaro possuía em seus domínios a equipe de jovens artistas que se apresentavam às quintas-feiras e o veículo ideal para promover sua contratada, ou seja, o programa que praticamente colocou o nome de Brenda Lee no mapa da América do Sul. Assim, numa tarde gostosa de primavera em 1959, o programa Disque Disco recebeu Brenda Lee em seus estúdios na Rua Riachuelo.

Alfie Soares e Brenda Lee

Alfie Soares e Brenda Lee (foto um pouco manchada devido ao fato de ter sido salva depois de um furacao que Alfie Soares enfrentou na Flórida)

Ao ser apresentada a Miguel Vaccaro por seu empresário Dub Allbritten (também autor de seu grande sucesso “I’m Sorry”, em parceria com Ronnie Self), Brenda perguntou a Miguel: “So, now you believe me?” (“E então, acredita em mim agora? “), ou seja, ela já sabia da história.

Brenda Lee e seu Agente

Brenda Lee e seu Agente. Ao fundo estão Dub Allbritten e o Sr. Vaccaro, pai de Miguel, uma saudosa lembrança.

Regiane foi encarregada de recepciona-la e entregar a ela um arranjo de flores e um ursinho de pelúcia.

Brenda Lee e o ursinho Teddy Bear ofertado por Vaccaro.

Brenda Lee e o ursinho Teddy Bear ofertado por Vaccaro.

Regiane cumprimenta Brenda Lee e entrega o ramalhete de flores.

Regiane cumprimenta Brenda Lee e entrega o ramalhete de flores.

A convidada de honra respondeu às perguntas enviadas por ouvintes, ouviu algumas canções apresentadas ao vivo por parte da turma que iria apresentar-se na primeira parte de seu show, e encantou-se com a simpatia e talento daqueles jovens brasileiros.

Em Setembro de 1959, uma terça-feira, teve início a participação dos artistas da Young em um show internacional. Juntou-se aos artistas da Young o grande humorista Renato Corte Real, e a temporada de Brenda Lee foi um retumbante sucesso.
Todas as noites, Brenda ficava ao lado do palco, encantada com o que ouvia.

A turma da Young, Paulinho, Dudu, Daniel e Bob Win (The Avalons), Prini Lorez com o astro internacional, Paul Anka.

A turma da Young, Paulinho, Dudu, Daniel e Bob Win (The Avalons), Prini Lorez com o astro internacional, Paul Anka.

All The Time (The Avalons)

Mr. Blue (The Teenagers)

I Go Ape (Nick Savoia.

Com o início da temporada de shows internacionais, o programa Disque Disco deixou de ser apresentado diretamente do Teatro Record às quintas-feiras, mas os artistas da Young não deixariam de se apresentar naquele palco.
Em seguida ao show de Brenda Lee, o Teatro Record programou A Quinzena do Rock and Roll, contando mais uma vez com os astros da Young e as atrações Johnny Restivo, para a primeira semana e Frankie Lymon, encerrando a programação.
Desta vez o comediante que se juntou à turma da Young para a primeira parte do espetáculo de ambas as atrações foi Doca Vassalo.

Johnny Restivo – I Like Girls (Eu Adoro Garotas)

Frankie Lymon (Goody Goody)

Vieram mais tarde Neil Sedaka, Paul Anka, Teddy Randazzo, Frankie Avalon e Dion, este por apenas dois dias. E todos eles travaram conhecimento e amizade, de uma forma ou de outra, com a turma da Young, que eram uma espécie de embaixadores dos jovens brasileiros junto aos astros norte-americanos.

Alfie Soares e Frank Avalon. Nesta foto Alfie está passando a Frankie um suplemento completo da Young.

Alfie Soares e Frank Avalon.
Nesta foto Alfie está passando a Frankie um suplemento completo da Young.

Mesmo quando a atração do Teatro Record era um artista local, a turma da Young era convocada para o espetáculo.

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Alfie Soares e Neil Sedaka

Alfie Soares e Neil Sedaka

Frankie Lymon

Frankie Lymon

Quando Brenda Lee veio ao Brasil pela segunda vez em 1964, ficou decepcionada ao saber que seus amigos da Young não fariam parte de seus espetáculos.
As gravações da Young faziam a alegria dos responsáveis pelas principais lojas de discos do Brasil. Em São Paulo, as duas lojas mais visitadas pela juventude local eram a Eletroarte, de Antonio Paladino, na Rua Augusta, e a loja de Luis Vassalo, na Avenida Ipiranga. As duas vendiam discos importados, daí a demanda pela Young, que cobria aquela fatia do mercado. E desde que estamos tratando de atrações internacionais e discos importados, aproveito para informar que a trajetória meteórica deste selo criado por Vaccaro não ficou restrita ao Brasil. No início dos anos 60, uma compilação dos principais títulos da Young foi lançada em toda a América Latina sob o título de Asalto En Ritmo, lançado pela Fermata Internacional.

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E aqui se encerra o penúltimo capítulo da historia da gravadora Young.

A seguir, o último capítulo, incluindo além do final da historia, mais algumas considerações.

YOUNG: UMA HISTÓRIA. Cap. VII (final)

O selo Young tinha como principal objetivo o de revelar e promover novos intérpretes e compositores brasileiros que tinham total identificação com o movimento musical dirigido ao público jovem que passou a dominar o show business mundial. Porém, não fechou seus ouvidos para o que acontecia no universo paralelo da música e, assim, quando o ano de seu nascimento em 1959 coincidiu com o ano de falecimento do grande músico de jazz Sidney Bechet, a Young lá estava para ser a única a lançar a gravação original do saxofonista norte-americano para sua composição mais famosa. Petite Fleur.

A Young passou a ser também uma porta para o Brasil, aberta aos novos talentos de outros paises cujos discos não tinham representação no nosso território através das companhias multinacionais, como Odeon, RCA, Philips e Columbia, o quarteto de ferro que mandava e desmandava no mercado local.

Em 1959, a Inglaterra começava a colocar suas “manguinhas de fora”, mostrando ao mundo Cliff Richard e The Shadows, e nada mais lógico do que tentar a sorte com outro jovem inglês que surgia. Freddie Davis foi o escolhido.
Freddie, que anos mais tarde, precisamente em 1972, voltaria a ter sucesso no Brasil com a sua gravação So Lucky, foi lançado pela Young através de sua versão para o sucesso do grupo Fireflies, “You Were Mine”.

Freddie Davis – You Were Mine

Apenas como fato curioso: O primeiro compacto simples de Elton John lançado no Brasil pela RGE, no início de 1971, com as músicas Your Song / Take Me To The Pilot, foi com o selo Young, porém em cor cinza e não com o tradicional Vermelho e Branco.

Outro pioneirismo creditado à Young: Foi a primeira etiqueta a lançar seus discos em 45 rotações no Brasil, pois seu público consumidor fazia parte daquele refinado grupo que comprava discos importados. Além do tradicional, para a época, 78 rotações, havia a opção de comprar o compacto em 45 rpm. Ao mesmo tempo, lançava compilações em EP (Extended Play), reunindo sucessos em dose quádrupla.

The Avalons – Baby Talk

Regiane – Willie Boy

Nick Savoia (Bad Boy)

The Beverlys (Yaket Yak)

O ano de 1960 chegou trazendo um sentimento nacionalista, graças à promessa do desenvolvimento de uma indústria automobilística, a construção de Brasília etc. Deste sentimento surgiu a ideia de gravar em ritmo de Rock and Roll a marcha Paris Belfort. Esta composição francesa foi usada como fundo para o noticiário da Rádio Record a respeito dos acontecimentos que faziam a história da Revolução Constitucionalista de 1932. Ficou sendo a marcha oficial da revolução.
A ideia era ligar os jovens de 1960 aos jovens que havia lutado por uma nova constituição 28 anos antes. E a linguagem seria o ritmo jovem, sem deturpação de harmonia ou linha melódica.
O guitarrista dos Jester Tigers, Gato, que já era sucesso como cantor com o seu “Kissing Time”, foi o escolhido para ser o solista.

Gatto – Paris Belfort

YOUNG: UMA HISTÓRIA. Cap. VII

Entusiasmados com a ideia da homenagem dos jovens aos veteranos combatentes, Miguel Vaccaro e Henrique Lebendiger criaram um plano de promoção que seria único, totalmente inédito segundo os padrões brasileiros.

O plano consistia em reunir um número grande de ex-combatentes nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, perfilados ao som da marcha “Paris Belfort”, executada ao vivo por Gatto (José Provetti) e os músicos que participaram da gravação. O evento teria seu início exatamente às doze horas do dia 9 de Junho, um mês antes da data comemorativa da revolução de 1932. Graças a um trabalho da equipe de divulgação da Young, as principais emissoras de rádio de São Paulo executariam a gravação de Gatto ao soar do meio-dia, coincidindo com o início do espetáculo ao vivo.

Assim, no começo da tarde de uma quinta feira fria iluminada por um sol tímido, soaram os primeiros acordes de Paris Belfort, em ritmo de Rock and Roll.
O Teatro Municipal de São Paulo ficava em frente a um dos mais concorridos corredores da cidade, o Viaduto do Chá. A multidão começou a aglomerar-se ao ouvir aquele som vibrante, dando uma pausa na cidade que não podia parar, e pelos rostos sorridentes, pelos pés acompanhando o ritmo e pelas palmas batidas podia se dizer que o evento era um sucesso. Até que um dos veteranos pracinhas estranhou um pouco a maneira como seu hino estava sendo executado e, saindo de sua formação, começou a gritar contra os músicos. Os outros veteranos se juntaram a eles e, até mesmo parte daquela plateia de transeuntes que estava gostando do que ouvia, passou também a ameaçar os músicos.
A solução foi correr pra bem longe dali, do Viaduto do Chá até a Rua Riachuelo, onde ficavam os estúdios da Rádio Panamericana.
Estava encerrado aquele capítulo.

E o destino resolveu ser irônico ao determinar que uma revolucionária marcha se tornasse a última gravação da revolucionária Young. Não haveria mais gravações da Young, mas ela não terminou. Apenas entrou em processo simbiótico com a tradicional indústria fonográfica. Demetrius assinou com a Continental, onde teve uma sequência de grandes êxitos; Nick Savoia, Antonio Claudio (Danny Dallas), The Avalons e Galli Jr., dos Rebels (Prini Lorez) foram contratados pela RGE, Regiane foi para a Odeon, Hamilton Di Giorgio juntou-se a Wilson Miranda e Sergio Reis como os grandes astros jovens da Chantecler, Dori e Marcos (The Cupids) saíram para sua carreiras solos, Nenê, o garoto prodígio dos Rebels, juntou-se aos grupos que pavimentaram seu caminho em direção a um dos grupos mais vitoriosos do Brasil, Os Incríveis. Gato juntou-se aos Jet Black`s e assim por diante.
A Young não acabou. Tornou-se objeto de colecionadores e caçadores de raridades musicais,adquirindo status de “cult“.

O estúdio da Panamericana, de onde “Disque Disco” era transmitido, foi o primeiro palco destes jovens talentosos. Juntamente com Vaccaro, aqueles futuros astros contaram com a boa vontade e ajuda de outros profissionais, como os técnicos de som Francisco Vieira e Eddy Costa, os locutores Brim Filho, Augusto Tovar, Walkiria e José Magnoli, conhecido depois como Helio Ribeiro, grande nome do rádio brasileiro.

De um sonho realizado com a paixão e a ousadia de Miguel Vaccaro Netto muitas carreiras tiveram seu inicio. Com a vibração e talento dos jovens que formaram a família Young muitas portas se abriram para tantos outros movimentos inspirados por estes pioneiros.
Seria fabuloso se cada um dos que viveram aqueles mágicos momentos dedicasse um pequeno tempo de sua vida para compartilhar sua história…

Young - Discografia

Young – Discografia

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Por Alfie Soares

Quem é Alfie Soares?

É o nome artístico de Afonso Soares de Azevedo, que no período de 1959 a 1962 trabalhou como assistente de Miguel Vaccaro Netto, Rádio Panamericana (Jovem Pan) e programa Disque Disco, época em que foi criada a Young.
Também neste período trabalhou no Teatro Record, nas apresentações de atrações internacionais como Brenda Lee, Neil Sedaka, Paul Anka, Teddy Randazzo, Frankie Lymon, Johnny Restivo, Frankie Avalon e outros tantos.

De 1964 a 1969 trabalhou na Odeon, onde começou como divulgador e depois tornou-se produtor.
Fez trabalhos com Abílio Manoel, Silvio Cezar, Eduardo Araujo, Silvinha e outros.

De 1969 a 1970 foi produzir para a Philips/Polygram. Gravou com Ronnie Von, Coisas de Agora, Tim Maia e outros.

De 1971 a 1979 trabalhou como contratado pela RCA Victor para tomar conta do Departamento Internacional e também produzir. Lá ele voltou a trabalhar com Eduardo Araujo, Silvinha, Demetrius e outros.

De 1980 a 1992, após rápida passagem pela gravadora Continental, parou de trabalhar com discos e foi para uma produtora de shows cujos donos eram Atílio Vanucci Jr. e Chico Anísio. Lá ele teve participação ativa nos shows de Kiss, Peter Frampton e Harlem Globetrotters. Dali foi com Claudio Liza para a Intershow, onde trabalhou novamente com Ronnie Von, Manolo Otero, Sarita Motiel e Fabio Jr.
Passou a trabalhar exclusivamente com Fábio até 1991. Em 1992 mudou-se para Miami, onde vive até hoje.

Vale dizer que em 1962 escreveu suas primeiras músicas com Hamilton Di Giorgio. Depois, teve como parceiros Wagner Benatti, o Bitão dos Pholhas (Clube Atômico c/ Luiz Fabiano), Papi (What To Do c/ Vanusa), Tony Campello (Cada Coisa Em Seu Lugar).
Depois, sozinho, escreveu musicas e versões para Eduardo Araujo, Silvinha, Celly Campello, Suzy Darlen, Joelma, Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Os Incriveis, Os Pholhas, Julio Iglesias, Chris McClayton e alguns outros mais.
Seu último trabalho, antes de mudar-se, foi para Zezé Di Camargo (Faz Eu Perder o Juízo).

Alfie Soares e Brenda Lee

Alfie Soares e Brenda Lee

Alfie Soares em 1960 fotografado por Joe Primo Moreschi. A foto foi feita no Studio Ritz, Avenida São João, 225.

Alfie Soares em 1960 fotografado por Joe Primo Moreschi.
A foto foi feita no Studio Ritz, Avenida São João, 225.

Pois bem, Alfie Soares escreveu tudo de memória, não tinha nada escrito e a cada linha que escrevia, as imagens guardadas lá no fundo de seu cérebro iam tomando forma, e assim nomes, datas, locais e eventos foram emergindo.
Contou-me ele que desde o dia em que ouviu Rock Around The Clock, com Bill Haley & His Comets em 1955, aos treze anos de idade, interessou-se pelo gênero.
Acabou produzindo e apresentando um programa na antiga FM Excelsior, depois Globo FM, chamado A História do Rock and Roll, e 70 por cento do texto que ele apresentava era de memória, pois sempre foi um ávido leitor de contracapas de LPs e publicações do gênero.
Também teve a vantagem de ter sido uma espécie de “Forrest Gump” dos anos 50 e 60, isto é, esteve presente e participando de vários momentos importantes do show business brasileiro. Até mesmo naquela série de programas que a TV Bandeirantes apresentou em 1969 sobre a suposta morte de Paul McCartney, ele participou ao lado do disc-jockey norte-americano, Russ Gibb, que levantou a polemica.

Em 2009 aconteceu um encontro entre os artistas da Young e seu fundador, Miguel Vaccaro Neto, em comemoração aos 50 anos da Young.
Neste vídeo do acervo de Hamilton Di Giorgio, o registro do histórico encontro!

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NOTA 1: Enrique Lebendiger, sócio de Miguel Vaccaro Netto no projeto do selo Young, era proprietário da Editora Fermata do Brasil. Em 1971 houve a junção Fermata e RGE (Rádio Gravações Especializadas) criado por Jose Scatena. Your Song, o primeiro êxito internacional de Elton John, foi lançado no Brasil pela Young, já que era uma propriedade de Lebendiger. Única diferença foi a cor do selo Young. Ao invés do tradicional Vermelho e Branco, a Young veio na cor Prata.

NOTA 2: Faleceu em abril de 2020 o cantor Danny Dallas, que começou sua carreira gravando na Young com seu nome verdadeiro, Antonio Claudio.
Na RGE, por influência do diretor José Scatena, ele mudou seu nome para Danny Dallas e gravou algumas canções que tocaram nas rádios de SP, como “Minhas 3 Mágoas” e a mais popular, “Vale do Rio Vermelho”.

NOTA 3: Faleceu em 29 de maio de 2023 o cantor e compositor (H)Amilton di Giorgio.

Foto do acervo de Albert Pavão.

Em junho de 2023 Alfie Soares recuperou um foto foto da primeira excursão da turma da Young ao Rio de Janeiro.

Na foto estão, da esquerda para a direita, em pé: Alfie Soares (MVN Produções), Newton Passarinho (The Avalons), Regiane, Solano Ribeiro (The Avalons), Amelia (The Beverlys), Nick Savoia, Gaspar (The Rebels), Daniel (The Avalons), Pereira (The Beverlys) e Dudu (The Avalons. Agachados: Castro (The Beverlys) Marcos Roberto (The Cupids), Hamilton Di Giogio, Vander (The Beverlys), Zezinho (Prini Lorez) (The Rebels) e Paulinho ( The Avalons).

Algumas informações sobre a “Young”, por Tony Campello:

“A Gravadora e Selo “Young”, entre os anos de 1959 e 1960, lançou 28 “singles” em 78 rpm (em cera), alguns dos quais, lançados também em “singles” em 45 rpm (em vinil). Desses 28 lançamentos, 2 deles, contudo, não eram de fonogramas nacionais: um, com fonogramas norteamericanos com o saxofonista/clarinetista norteamericano Sidney Bechet; o outro, com fonogramas argentinos com o cantor norteamericano Freddie Davis. A “Young” ainda lançou alguns EP-45 (compactos duplos) em vinil; e um LP com seus fonogramas saiu somente na Argentina. O repertório da “Young” consistia de.músicas vocais em inglês ou instrumentais, quase sempre “covers” de sucessos norteamericanos. Desconhecem-se gravações da “Young” realmente produzidas durante o ano de 1961 e em 1962. Até onde se sabe, o acervo da “Young” teria sido transferido para a RGE-Fermata. Como nada da “Young” foi resgatado das matrizes originais, supõe-se que estas já se perderam. A RGE-Fermata, curiosamente, resgatou, nos anos 70, o nome “Young” para selo de alguns de seus lançamentos na ‘onda’ dos “ghost singers”, mas com logotipo diverso”…

Em 25 de fevereiro de 2024, Sérgio Baldassarini, do Canal do Youtube “Jovem aos 50”, publicou um vídeo resumindo toda esta história contada pelo Alfie Soares…