O Guitarrista de Rock José Provetti, o inesquecível Gato.

Joe Primo descobre Gato!

Trabalhando nos meios de comunicação, Primo Moreschi, apelidado Joe Primo, havia gravado duas músicas em 78 rotações, sendo “Você me Fez de Limão” de autoria de Américo de Campos e Teixeira Filho  e “Água de Cheiro”, de Aguiar Rodrigues e Joe Primo, e estando ele em todo e qualquer lugar onde, de uma forma ou de outra, seu disco fosse tocado, voltou à Rádio Nacional de São Paulo para participar de outro programa de lançamentos musicais, programa este intitulado “Ritmos Para a Juventude”, cujo apresentador chamava-se Antônio Aguilar.

Quando Joe Primo entrou nos estúdios, algumas fãs que se encontravam lá dentro e… “Reconheceram-me e, como sempre acontece quando elas vêm um artista, deram gritinhos característicos, abraçando-me e pedindo autógrafos, o que me deixou com mais moral perante o apresentador Antônio Aguilar, que até então ainda nem tinha ouvido falar no meu nome. Radialista e jornalista experiente que era, não perdeu a oportunidade dos gritinhos das fãs para reportar aos ouvintes de seu programa, que estava no ar, o porquê daquela euforia, dizendo: “Acaba de entrar nos nossos estúdios, ele… vocês estão ouvindo ao fundo o alvoroço das fãs… está um pouco difícil para ele conseguir chegar até aqui… vocês vão ouvi-lo e reconhecê-lo, porque ele mesmo vai se apresentar”.

Passou-me o microfone, e eu disse: “Quem vos fala é Joe Primo. É com muito prazer que estou aqui, para participar do programa do nosso amigo Antônio Aguilar, que gentilmente convidou-me para estar com vocês”.

O apresentador, mesmo sabendo que não havia me convidado, prosseguiu: “Gosto de fazer dessas surpresas para os nossos ouvintes, e é por essa razão que nossa audiência aumenta a cada dia”, ao que eu retruquei: “Aguilar, meu amigo, você tem que ampliar seu estúdio ou fazer seu programa diretamente do auditório da Rádio Nacional para dar chances a mais fãs poderem conviver com seus artistas”.

Ele prosseguiu o diálogo, dizendo: “Joe Primo, meu amigo, deixe estar que vou pensar seriamente nesse assunto”.

Após terminar o programa ele me disse: “Obrigado pelo improviso, bem como a sugestão que você deu com o programa no ar. Mas, quanto a ampliar o estúdio, impossível. Fazer o programa diretamente do auditório depende de muitos fatores. O primeiro é a verba de patrocínio, sem a qual nada se faz. O segundo: se o programa for no palco, as fãs vão querer ouvir seus cantores cantarem ao vivo, o que acarretaria a necessidade de um conjunto musical especializado em ritmos próprios da juventude para acompanhar os artistas. Sem contar que os artistas que cantam rock no momento são muito poucos. Mesmo assim, é quase certo que iriam querer ganhar algum cachê para participar. Enfim, não é fácil. Além do mais, eu ainda teria de ter poder de convencimento junto ao Abreu (diretor-geral da Rádio Nacional), para conseguir a liberação do auditório e levar avante essa empreitada. Sozinho, é quase impossível”.

Depois de ouvi-lo atentamente, disse-lhe: “Aguilar, se os problemas forem esses, eu tenho a solução para quase todos. Você não ouviu falar do meu conjunto de rock (disse-lhe o nome de um conjunto americano, famoso na época)? Pois esse grupo é meu. Você já ouviu falar de Bobby de Carlo? Pois ele, além de cantar solo, faz parte do meu conjunto”.

Aguilar, surpreso, disse: “Sim, mas, para fazer um programa diretamente do auditório, haja atrações capazes de preencher o tempo mínimo, que, acredito, deva ser de uma hora”. Respondi: “Deixa comigo. Eu e meu conjunto faremos pela manhã uns testes com alguns cantores e cantoras amadores, aos quais você fará uma chamada pelo seu programa. Os que forem aprovados serão escalados para participar, intercalando-se comigo, cantando, juntamente com o Bobby de Carlo, e meu conjunto tocando. Você verá que vai haver cantores profissionais que, ao perceberem o sucesso do programa no auditório, farão questão de participar sem sequer pensar em cachê”.

Sem pestanejar, dirigi-me para o bairro do Canindé, indo direto para a casa do Bobby De Carlo, que era amigo meu havia algum tempo. Lá chegando, contei-lhe a história, o diálogo, o combinado; ele tudo ouvia sem discordar de nada. Quebrando o silêncio, Bobby virou-se pra mim, categórico: “Primão” – olhando-me espantado – “você tá louco? Cara, como é que nós vamos tocar como conjunto se não só não temos músicos suficientes, como também não temos instrumentos e tempo hábil para consegui-los”? Eu disse: “Bobby, é o seguinte. Nós só temos que arrumar um contrabaixo e um baterista. Baterista, normalmente, costuma já ter sua bateria. Eu compro uma guitarra a prestação nas Casas Manon, da Rua 24 de Maio, e você reveza comigo na guitarra, ora solando, ora acompanhando! Uma hora eu canto e você me acompanha. Outra hora você canta e eu o acompanho. Nesse instante, Bobby me interrompeu, dizendo que se lembrou de ter conhecido um carinha que morava lá pelos lados de Santana e tocava mais ou menos violão. “Quem sabe, a gente dando algumas dicas de como era a batida da guitarra para acompanhar rock, ele aprendesse, uma vez que sabia tocar samba?” Já era meio caminho andado, portanto valeria a pena arriscar. Fomos. Bobby apresentou-me a ele, José Paulo.

Pronto e definido, só faltavam duas coisas: como fazer pra eu não passar por mentiroso, tendo em vista ter dito para o Antônio Aguilar que eu tinha um conjunto de rock com o nome de um conjunto americano, muito famoso na época, que nunca poderíamos usar, conhecidíssimo que era dos aficionados em rock no mundo todo. Chamei Bobby de lado e lhe disse: “Ajude-me a encontrar um nome em inglês que, ao ser pronunciado, confunda-se o máximo possível com o do conjunto americano”.

Depois de muito pensar, chegamos à conclusão de que o único nome plausível, que, ao ser pronunciado rapidamente, pudesse se confundir com o que eu havia dito para Aguilar seria The Vampire´s.

Resolvido o nome do conjunto de rock recém-formado.

Solucionado o problema, dirigi-me ao apresentador e o autorizei a anunciar quando quisesse o primeiro programa “Ritmos para a Juventude”, diretamente do palco do auditório da Rádio Nacional de São Paulo.

Nessa semana que antecedeu a estréia do programa, Aguilar, ao fazer as chamadas, dava tanto ênfase à atração, que o conjunto The Vampire´s antes de se apresentar em público já estava praticamente famoso.

No sábado, quando seria a estreia do programa, diretamente do palco e auditório da Rádio Nacional de São Paulo, que se situava na Rua Sebastião Pereira, no bairro Santa Cecília, às sete horas da manhã, eu, Bobby De Carlo, Zé Paulo, Jurandy e Carlão, componentes do conjunto de rock The Vampire’s, lá estávamos, arregaçando as mangas e agitando os preparativos junto com Antônio Aguilar, tentando organizar da melhor maneira possível tudo o que deveria acontecer no transcorrer das apresentações em cima do palco. Toda a direção artística musical, bem como algumas encenações em cima do palco para não deixar buracos entre uma apresentação e outra, estava ao meu cargo. Aguilar, a todo instante, vinha a um dos estúdios que improvisei para fazer testes e me perguntava: “E aí, Joe Primo? Você tá confiante? Você acha que nós vamos conseguir preencher o horário cedido pela direção? Será que vai ter um bom público no auditório?” Respondia: “Tenha calma, Aguilar. Ainda falta mais de uma hora para o início do programa. Assim que eu terminar os testes com esse pessoal todo, vou ver quem tem condição de cantar hoje e intercalar uns três ou quatro deles com o Bobby De Carlo cantando “Oh, Eliana”. Em seguida, você usa seu poder de persuasão e convencimento, aproveitando a deixa dos aplausos destinados ao Bobby De Carlo, para valorizar o novato que irá se apresentar em seguida. Mais uns três novos e você anuncia Joe Primo, e eu canto. Novamente, alguns novos cantam e você chama o Carlão. Em seguida, encerramos com The Vampire´s tocando e deixando os participantes dançarem em cima do palco, enquanto você vai agradecendo a juventude presente, prometendo uma nova atração no outro sábado. Aí, tchau e benção”. Combinado, respondeu Aguilar.
Continuando com os testes. A fila de quem queria cantar era enorme, e como o êxito desses testes estaria condicionado quase 50% ao sucesso do programa de auditório, eu tinha que ser rigoroso, pelo menos dessa primeira vez. Devido ao pouco tempo de que dispunha para fazer um teste e ao mesmo tempo ensaiar o número que o novato apresentaria, resolvi que os que fossem aprovados por mim dissessem apenas o nome da música que iriam cantar. No palco, improvisaríamos uma introdução, e o novato entraria cantando. Foi a única maneira conciliatória que encontrei e, diga-se de passagem, não poderia ter sido melhor.

Dentre os amadores que aprovei, havia um que até no teste contagiava a gente. Só cantava o repertório de Little Richard, com movimentos de pernas e corpo dignos de elogio, indo ao encontro, portanto, do gosto do público frequentador de shows de rock. O nome artístico escolhido por ele era Jet Black. Ficamos eufóricos com a desenvoltura do crioulinho nos testes.

O nome escolhido para o grupo foi The Vampires, uma referência ao conjunto The Ventures, maior sucesso na época.

Após alguns sábados de sucesso total do programa “Ritmos para a Juventude”, diretamente do auditório e palco da Rádio Nacional de São Paulo, durante os ensaios, antes de entrarmos no palco, havia um rapaz, que, sentado ao piano, de vez em quando, dava uns toques discretos para não atrapalhar nosso ensaio. Veio-me à cabeça: “Como o Bobby De Carlo volta e meia falta aos sábados, seria uma boa eu tentar falar com esse cara. Se ele topar tocar piano em nosso conjunto, vou matar dois coelhos com uma cajadada. Na maioria dos arranjos de rock, o piano é usado. E ele vai cobrir a falta do Bobby de Carlo”. Perguntei se ele tocava piano há muito tempo. Respondeu-me que somente arranhava um pouco. Convidei-o para tocar conosco, ele aceitou e me disse que tinha uma guitarra. Perguntei-lhe se também sabia tocá-la. Respondeu-me que sabia arranhar um pouco. Disse-lhe que, após o programa, entraríamos em mais detalhes. Por enquanto, se ele quisesse atacar de piano compondo o conjunto The Vampire’s, tinha meu consentimento. Perguntei-lhe o nome e o informei a Aguilar, para que anunciasse sua entrada como participante do conjunto. O apresentador se enrolou todo ao anunciar. Não sabia se era José Provetti ou se era Gato. Mas, usando seu jogo de cintura de disc-jóquei, consertou: “É lógico que eu estou falando do nome artístico de José Provetti, ou seja, Gato, esse novo integrante que entra para valorizar ainda mais The Vampire´s, conjunto famoso que essa juventude feliz e sadia já elegeu como o melhor grupo de rock”!

Agora, dá-lhe ensaiar músicas instrumentais para deixar o prestígio adquirido com o programa crescer ainda mais. Dito e feito. Logo na primeira apresentação que fizemos tendo o Gato como solista, foi um sucesso. Dentre todos os cantores que devíamos acompanhar se encontrava, como sempre, o novato Jet Black. Durante os ensaios, dada a intimidade que tínhamos, eu brinquei com ele, dizendo: “Jet Black, você, por ser pequeno, deveria se chamar “Little Black” e deixar que nós nos chamássemos Jet Black´s”, ao que ele imediatamente respondeu: “Positivo, eu gostei, eu topo.” Eu não havia falado sério, fiquei surpreso e, como não simpatizava muito com o nome The Vampire’s, consultei Gato, Zé Paulo e Jurandy sobre o assunto.

The Vampire’s passou a ser nome do passado e passamos a usar The Jet Black´s”.

(Do livro de Primo Moreschi, “O Protagonista Oculto dos Anos 60”.

E assim, no ano de 1961 o Gato passou a integrar o conjunto que agora se chamava The Jet Black`s!

Nesta reportagem falamos sobre a sua breve e talentosa carreira como guitarrista de Rock:

https://wordpress.com/posts/luciazanetti.wordpress.com?s=Jos%C3%A9+Provetti%2C+o+Ga

Em 1966 Roberto Carlos estava tendo problemas no seu programa, pois não tinha um conjunto certo para acompanha-lo, então resolveu formar o seu.

Faltava um guitarrista para completar a formação e ele convidou Gato, que já não estava mais no The Jet Black`s, para tocar com eles, formando assim o RC-4: Bruno, Dedé, Wanderley e ele, o Gato, integrando a formação do RC-3 e depois RC-7, acompanhando Roberto Carlos durante todo o período Jovem Guarda e até por algum tempo depois.

José Provetti nasceu em Valparaíso-SP em 7 de Janeiro de 1941.

Filho de Ricardo Provetti e Antonia Buonvonatti, lavradores. Em 1948, a familia Provetti mudou-se para São Paulo. Em 1951 formou dupla caipira com Zé Cascudo, esse tocando violão e Gato tocando viola. Estudou violão clássico com o prof. Salvador Viola no Largo do Paissandú.

O dia 24 de fevereiro de 1991 foi muito especial para o Rock brasileiro e seu meio musical, pois foi o último encontro de Gato com seus ex companheiros do conjunto The Jet Black`s…

The Jet Black`s – Serginho Canhoto, Zé Paulo, Jurandi e Gato saindo da Boate Salon em São Paulo – 1966

Depoimento do músico Zezinho Mulero sobre o guitarrista

“Eu vi Gato poucas vezes, inclusive a última vez que eu o vi, ele estava derrubado fazendo jogo de bicho, em uma Padaria na Rua Agostinho Gomes, no Ypiranga em São Paulo. Tentei puxar conversa, mas ele não queria falar nada sobre Jet Black`s e nem Jovem Guarda. Já estava em seus últimos dias… Se você o tivesse visto, não o reconheceria como o grande Gato”!